Pescadores de Duque de Caxias encontraram manchas de óleo no rio Iguaçu, um dos principais da Baixada Fluminense. Segundo eles, a poluição foi notada na última quarta-feira (8) e já atinge a Baía de Guanabara.
Apesar de o Inea (Instituto Estadual do Ambiente) ter realizado vistorias no rio Iguaçu entre quinta (9) e sexta-feira (10), a causa do problema ainda é desconhecida. O UOL esteve no local na sexta e constatou grande presença de óleo no trecho do rio Iguaçu onde está localizada a Reduc (Refinaria Duque de Caxias), uma das maiores do Brasil, mantida pela Petrobras.
O Inea negou a existência de vestígios de óleo na água, e a Petrobras disse que sua refinaria não é responsável pelo despejo do produto químico (leia mais abaixo).
O cheiro de produtos químicos provoca enjoo e dor de cabeça em quem permanece na área.
Segundo pescadores ouvidos pela reportagem, o óleo já atingiu grande extensão da Baía de Guanabara, contaminando parte da costa de Duque de Caxias e se aproximando da Ilha do Governador, na capital.
Gilciney Gomes, presidente da Colônia de Pescadores de Duque de Caxias, foi o primeiro a relatar o problema e comunicar as autoridades ambientais. Ele acompanhou o UOL até o local e fez um apelo para que o problema seja resolvido.
“Nós pescadores vemos os nossos pescados na Baía de Guanabara sendo contaminados diariamente. Todo o rio, desde aqui da Reduc até a saída da praia e chegando talvez até Tubiacanga [na Ilha do Governador] está com esse odor forte na água” – Gilciney Gomes, presidente da Colônia de Pescadores de Duque de Caxias.
Gilciney identificou o derramamento de óleo na quarta-feira (8). Em um vídeo divulgado nas redes sociais, o pescador mergulha o dedo na água contaminada e mostra o produto químico.
O ambientalista Sergio Ricardo, do Movimento Baía Viva, também acompanhou o UOL ao local e mostrou, em diversos pontos do rio, o acúmulo de óleo em gigogas —plantas aquáticas que se multiplicam em ambientes poluídos.
Ele criticou o atual modelo de fiscalização, no qual as próprias empresas coletam e analisam seus efluentes industriais —o programa Procon Água. Para o especialista, não há transparência.
“No passado, o órgão público era quem fazia o monitoramento ambiental e nós tínhamos muito mais confiabilidade. Hoje, através desse programa, a coleta e o monitoramento foram entregues às próprias empresas. É como se um assassino fosse escolhido depois do crime. Isso não tem legalidade nenhuma. Os pescadores na Baía de Guanabara e em outros locais estão vivendo na extrema pobreza, e isso é responsabilidade do poder público e das empresas.”
Durante a visita, a reportagem encontrou uma equipe do Inea, que percorria o rio Iguaçu a bordo de uma lancha da Petrobras e acompanhada por funcionários da petroleira. Duas servidoras vistoriaram e coletaram amostras da água. Informalmente, disseram não ser possível dizer se o óleo veio da Reduc e se era um derrame recente ou ocorrido em um momento anterior.
O que dizem o Inea e a Petrobras
Em nota, o Inea afirmou que não encontrou vestígios de óleo na quinta-feira —apesar de o manancial estar completamente tomado pelo derramamento.
“A equipe vistoriou a Reduc e o rio Iguaçu, percorrendo e avaliando todas as saídas de água, tanto pluviais quanto de efluentes que deságuam no rio Iguaçu. Os técnicos também inspecionaram os tanques de armazenamento de petróleo localizados próximo ao rio Iguaçu. Em nenhum desses locais foi observada fonte que pudesse ter gerado vazamento de óleo. O Inea também monitorou a região supracitada com auxílio de drone. Nas imagens, não foi identificada a presença de óleo”, diz a nota.
O Inea não explicou o motivo de os técnicos estarem usando um barco da Reduc para realizar a fiscalização no local. Por meio de nota, a Petrobras informou que não há vazamento ou despejo de óleo pela Reduc no rio Iguaçu.
“Todo o efluente da refinaria é tratado dentro das normas da legislação ambiental, e analisado diariamente antes de ser lançado no rio Iguaçu”, afirmou a empresa.