Tragédia ambiental em país pobre

Um pequeno ciclone nos Estados Unidos ou chuvas pouco volumosas na Europa ocidental merecem registro nos noticiários de todo o mundo. No Brasil, as redes de notícia se concentram, nesse momento, no Rio Grande do Sul. De fato, nunca se presenciou uma catástrofe climática de tamanha proporção no Brasil e talvez na América do Sul. Mas parece, no entendimento desses noticiários, que a chuva se limitou às fronteiras do estado. Nada é informado sobre chuvas no Uruguai e no norte da Argentina, que também foram volumosas e destruidoras.

Se os deslizamentos ocorridos em Papua Nova Guiné merecem uma pequena notícia nos jornais do Brasil, é porque eles assumiram proporções gigantescas. Não dá para ignorar o elefante no meio da sala. Depois de ser colônia de países europeus, Papua Nova Guiné tornou-se um país independente em 1975, com capital em Port Moresby. O país ocupa a metade oriental da ilha da Nova Guiné, na Oceania, e inclui alguns pequenos arquipélagos. A outra metade pertence à Indonésia. A ilha como um todo, antes da chegada dos europeus, foi um dos poucos polos da agricultura no mundo. Lá, a banana foi cultivada pela primeira vez e ganhou as ilhas da Oceania. Mas os europeus queriam seus minérios.

Localização de Papua Nova Guiné

A diversidade cultural do país é a maior do mundo. Num espaço pequeno, são faladas mais de 800 línguas. Algumas já despareceram por falta de falantes. E a população gira em torno de 7 milhões de habitantes. O espectro do canibalismo ainda ronda a ilha, mais por lendas criadas no ocidente do que por comprovações. Havia a tradição de ingerir a carne de parentes depois de mortos. O que vigora mesmo são modos de vida tradicionais. O país cresce em ritmo vertiginoso com a mineração, mas a população, em sua grande maioria pobre, não se beneficia com esse crescimento. Mais de 80% dela vive em áreas rurais. Muitos filmes que desejam explorar o exotismo são passados no país. Sua fauna e flora ainda são bastante desconhecidas.

Hoje, Papua Nova Guiné integra o Reino Unido. Tem independência como a Austrália e o Canadá, mas seu chefe de Estado é o rei da Inglaterra. No final de maio de 2024, ocorreu, no interior do país, um grande deslizamento que soterrou uma aldeia. Com um mês de chuvas, alagamentos e transbordamentos no Rio Grande do Sul, morreram em torno de 180 pessoas até agora. Os desaparecidos devem ter morrido também. Em Papua Nova Guiné, estima-se que morreram mais de 2.000 pessoas no dia do desastre. Mas o país é pouco conhecido no mundo e até internamente. Consta que choveu muito. A água das chuvas teria se infiltrado numa encosta. Ela sofreu deslizamento e soterrou uma aldeia situada ao pé do monte. Até mesmo no campo das informações há desigualdades. O governo do país e a ONU não têm dados detalhados do que aconteceu. A aldeia situava-se no interior do país. Tudo isso nos leva a concluir que a vida de um estadunidense ou de um israelense vale mais que a de um porto-riquenho ou de um palestino.

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