A combinação de alta urbanização e os impactos já praticamente inevitáveis das mudanças climáticas resultam em aumento de riscos para quem vive nesses lugares, como elevação do nível do mar, inundações e secas, que geram falta de água. Dentro desse cenário, o surgimento das Cidades-esponja se faz altamente necessário e já vem sendo implementado com sucesso mundialmente.
Só na região da América Latina e do Caribe, por exemplo, cerca de 80% das pessoas (em torno de 588 milhões) vivem em centros urbanos, segundo dados do relatório “Estado das Cidades da América Latina e Caribe”, da Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-HABITAT). No Brasil, mais especificamente, são 61% (124,1 milhões da população) em áreas urbanas, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2022.
A concentração de pessoas somada a alteração drástica de paisagens e a processos de impermeabilização do solo fazem das cidades vulneráveis às variações climáticas (que vêm ocorrendo com maior frequência), como às chuvas mais intensas, tal como aconteceu no estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, em maio de 2024.
Dentro desse cenário, a transformação de cidades comuns em Cidades-esponja é uma saída urbanística encontrada para que a natureza, os impactos climáticos e as estruturas urbanas convivam de uma maneira mais inteligente.
Mas, afinal, o que é uma cidade-esponja?
“Cidade-Esponja é um conceito de cidade sensível à água, remetendo à situação na qual a mesma possui a capacidade de deter, limpar e infiltrar águas usando soluções baseadas na natureza”, define um artigo sobre o tema publicado pelo Observatório de Inovação para Cidades Sustentáveis (da sigla OICS, uma plataforma virtual de mapeamento e divulgação de conteúdos e soluções urbanas inovadoras em sustentabilidade apoiada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o PNUMA).
O objetivo das mudanças arquitetônicas e urbanísticas que fazem uma cidade entrar para o conceito sustentável de “esponja” é encontrar soluções que ajudem a absorver as águas de chuva – seja em “áreas livres ou construídas”, informa o OICS. A ideia também é recarregar os aquíferos e lençóis freáticos locais com essa água, bem como deixar o excedente de chuva escorrer para áreas possíveis de serem alagáveis, diz a fonte.
A plataforma explica ainda que uma Cidade-Esponja deve ser “projetada para funcionar como uma floresta: portanto ela possui cobertura vegetal que sequestra carbono”, diz. Além disso, uma Cidade-esponja também se dedica à proteção e à introdução de biodiversidade para que sua estrutura funcione.
Isso significa que áreas verdes com árvores e animais próprios podem surgir. “As cidades-esponja têm o potencial de contribuir para a melhoria de outros aspectos essenciais para a qualidade de vida, bem-estar e atração de empresas da nova economia ‘verde’ e criativa”, afirma a plataforma.
Que elementos fazem uma Cidade-esponja?
São muitas as medidas que fazem uma cidade ser, de fato, uma Cidade-esponja. Mas entre elas, o artigo da revista Elsevier destaca:
- Criação de áreas verdes de escape para a água, como áreas úmidas e parques alagáveis;
- Reconstrução da margem dos rios com a retirada de concreto e a implementação de mata ciliar ou espaços verdes;
- Implementação dos chamados “jardins de chuva”, áreas verdes espalhadas pelas cidades que, segundo a Elsevier, reduzem o escoamento superficial em 25-69% e o pico de escoamento em 12-71%;
- Criação dos chamados “telhados verdes”, que reduzem a taxa de escoamento da chuva no solo em 20 minutos. Ou seja, ela se dispersa da cidade de forma mais rápida;
- Aderir à tecnologia de pavimento permeável, que “minimiza a fragmentação, as rachaduras e o assentamento irregular” das partes asfaltadas ou concretadas, já que também absorve água.
Cidades pelo mundo como Jinhua e Xangai, na China, Nova York, nos Estados Unidos, Berlim, a capital da Alemanha, e Copenhague, na Dinamarca – só para citar algumas – já aderiram a elementos que deram a elas características de esponja. A China é um dos países que mais investe em criar Cidades-esponja, com 16 cidades adaptadas dessa forma.