O Preço do Progresso: Como a Exploração de Gás e Petróleo Destrói o Norte Fluminense e pretende destruir a Foz do Amazonas.

Por Thièrs Wilberger

Reprodução: G1

A exploração de petróleo no Bloco 59, na Foz do Amazonas, e a criação de uma zona de sacrifício no Norte Fluminense são faces da mesma moeda: a priorização dos lucros do setor energético sobre a preservação ambiental e a qualidade de vida das populações locais. Ambos os casos ilustram como o modelo de desenvolvimento baseado em combustíveis fósseis não apenas intensifica a crise climática, mas também gera um passivo socioambiental de longo prazo.


Na Foz do Amazonas, o risco de exploração do Bloco 59 levanta alertas sobre impactos devastadores para uma das áreas de maior biodiversidade do planeta. O derramamento de óleo, mesmo que em pequena escala, pode comprometer recifes de corais, manguezais e a fauna marinha, afetando comunidades pesqueiras que dependem desse ecossistema. Além disso, a perfuração e exploração em águas profundas aumentam significativamente a emissão de gases de efeito estufa, contribuindo para o aquecimento global.


No Norte Fluminense, a expansão da infraestrutura de combustíveis fósseis transformou a região em uma zona de sacrifício ambiental e social. A proposta de construção de 15 novas termelétricas em Macaé consolida um modelo energético altamente poluente, que intensifica a degradação do ar e compromete a saúde da população com doenças respiratórias. O país planeja explorar milhares de metros cúbicos de gás na Bacia de Campos, agravando esse cenário, gerando resíduos tóxicos e riscos de vazamentos que afetam diretamente o ecossistema marinho e o litoral. Sem contar as operações portuárias e o novo porto, que promete criar uma grande zona de exclusão de pesca, prejudicando milhares de pescadores artesanais e impacta diretamente a pesca na região.


Outro projeto de grande impacto na região é o Projeto RAIA, um dos principais empreendimentos de gás natural do Brasil. Esse projeto prevê a produção de cerca de 15 milhões de metros cúbicos de gás por dia na Bacia de Campos, fortalecendo ainda mais a exploração de combustíveis fósseis em uma área já saturada de atividades extrativistas. Entre as empresas envolvidas no RAIA estão a Petrobras e suas parceiras, que buscam expandir a infraestrutura de exploração e escoamento do gás, incluindo novas unidades de processamento e gasodutos. Esse aumento na produção não só intensifica os riscos ambientais, como também prolonga a dependência do país em fontes energéticas que aceleram as mudanças climáticas. O projeto deve fortalecer Macaé como a principal infraestrutura de processamento, distribuição e recepção de gás natural do país e condenado nossa população a viver em uma zona de sacrifício.


Esses projetos evidenciam a contradição entre a necessidade de transição energética e a insistência em explorar combustíveis fósseis. A manutenção dessas atividades reforça a dependência de uma matriz energética insustentável, enquanto os efeitos das mudanças climáticas já são sentidos com o aumento da temperatura no mar e na terra, eventos climáticos extremos e o avanço do nível do mar.
A degradação ambiental e os impactos à saúde humana resultantes dessas atividades não podem ser ignorados. A exploração de petróleo na Foz do Amazonas, a concentração de infraestrutura energética poluente no Norte Fluminense e a ampliação do Projeto RAIA são exemplos de como decisões políticas e econômicas podem condenar ecossistemas inteiros e comunidades vulneráveis em nome de um modelo de desenvolvimento que já se provou destrutivo. O combate à crise climática exige um compromisso real com a transição energética e a proteção socioambiental, rompendo com esse ciclo de destruição, expropriação, contaminação e morte.