Indígenas brasileiros pedirão à Comissão Europeia e a investidores que boicotem commodities brasileiras produzidas em áreas de conflito fundiário, como terras indígenas invadidas. O recado foi dado nesta sexta-feira (21) em Bonn pela líder indígena Sônia Bone Guajajara.
A coordenadora da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) deu uma entrevista coletiva nesta manhã ao fim da primeira semana de negociações técnicas preparatórias para a COP25, a conferência do clima do Chile.
Os indígenas visitarão empresas consumidoras de produtos agrícolas brasileiros em cinco países e farão reuniões no Parlamento Europeu. “Vamos exigir o respeito a direitos ambientais e direitos humanos e conscientizar as pessoas sobre de onde vêm os produtos”, afirmou Bone.
As visitas são parte de uma estratégia de incidência econômica reforçada neste ano depois de o governo Bolsonaro ter cortado todos os canais de diálogo com os indígenas, fatiado a Funai e entregue a demarcação de terras para a banda podre do ruralismo – o que ele fez de novo nesta semana.
A Apib foi co-signatária da carta de 107 cientistas europeus em abril pedindo à União Europeia que condicionasse qualquer acordo comercial com o Mercosul ao cumprimento de uma série de salvaguardas socioambientais. No mês seguinte, o advogado da Apib Luiz Henrique Eloy, do povo terena, sentou-se na assembleia de acionistas da BlackRock, a maior gestora de investimentos do mundo, para pedir boicote a commodities produzidas em terra indígena.
Um relatório lançado pelos indígenas em abril mostrou que dezenas de empresas estrangeiras, entre bancos, madeireiras e fabricantes de acessórios, financiaram a devastação da Amazônia ou compraram produtos de propriedades multadas pelo Ibama por desmatamento ilegal, inclusive em terra indígena.
Somente quando incidirmos sobre a economia o governo vai começar a se preocupar”, disse Sônia Guajajara.
Ela também criticou duramente as políticas socioambientais de Bolsonaro, em especial a nova Medida Provisória que altera a competência sobre demarcação de terras indígenas e – mais uma vez – a põe nas mãos do Ministério da Agricultura.
“Bolsonaro se coloca contra a Constituição Federal e o Congresso, porque ignorou a regra que proíbe a reedição de uma Medida Provisória com o mesmo objeto [após derrota de uma MP no Congresso, o que foi o caso com a das terras indígenas]. “Por mais que ele diga que não é um ditador, as atitudes estão mostrando isso.”