Artigo: Tragédia Anunciada – O caso de Macaé de Cima

Não é novidade alguma que Nova Friburgo é uma área de alto risco de escorregamentos  de solo. Em 11 de janeiro de 2011, a Região Serrana, especialmente Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis, sofreu com fortes chuvas e uma série de deslizamentos que deixaram cerca de 1000 mortos. Tal fato já foi noticiado pelo DdR em abril de 2022 (https://diariodorio.com/em-11-anos-rio-de-janeiro-teve-mais-de-mil-mortes-por-consequencia-das-chuvas/).

O mapa acima é datado de nov/dez de 2010, ou seja, antes das chuvas e da tragédia que assolou a região. O Governo do Estado, portanto, já havia identificado essas áreas através do Serviço Geológico do Estado do Rio de Janeiro. O trabalho do Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro seguiu aprofundando os levantamentos entre 2010 e 2013, publicando um mapeamento das áreas de risco iminente a escorregamentos (mapa abaixo) que apontou que 9.899 casas e 38.331 pessoas encontravam-se expostas ao risco de deslizamentos de encostas em 85 dos 92 municípios fluminenses, sendo Nova Friburgo um dos casos mais graves.

É comum o uso do termo “desastre climático” e similares associados ao ocorrido em 2011.No entanto, esses acontecimentos não decorrem exclusivamente de fenômenos climáticos extraordinários, mas estão diretamente associados a omissão e permissividade dos órgãos públicos em relação ao uso e ocupação de áreas de alto risco geológico. E ontem tive uma prova disso.

Saindo de Macaé de Cima por volta das 12h e seguindo pela Rua Hans Garlipp, em Mury, há aproximadamente 8,5km da RJ-116, fomos interrompidos por um caminhão que estava sendo carregado com toras de eucalipto, que haviam sido cortados junto com um trecho grande da mata e justamente no “rincão” da montanha.

No topo do talude, a voçoroca já se anuncia.

No caminho do curso d’água natural dessa microbacia, toda a sorte de troncos e rochas (chamadas matacões) soltas e, algumas, já roladas, prontas para deslizarem até a estrada e dela morro abaixo, seguindo pela calha natural da escarpa.

A área que era assim (vide imagem de novembro de 2011 extraída do Google Maps), há cerca de 12 anos…

Ficou assim…

A localização, como já dito, é Rua Hans Garlipp, há cerca de 8,5Km da Rodovia RJ-116 (https://maps.app.goo.gl/W5jc5XPvLupwoWoz7). O trecho em questão, como podemos observar nas imagens do Google Maps, era sortida de mata nativa. Não sobrou nada. Não fizeram corte seletivo e tampouco em período adequado e em quantidade minimamente razoável. Cortaram a nativa mata, dentro da APA Estadual de Macaé de Cima e na zona de amortecimento do Parque dos Três Picos.

Isso tudo, por si só, já seria um total absurdo. Porém, na estrada, há uma placa que indica, supostamente, que o INEA autorizou a atividade.

As tragédias decorrentes de fatores climáticos imprevisíveis são inevitáveis. Porém, as ocasionadas pela ação irresponsável dos homens precisam ser corrigidas com a maior brevidade possível.

Que o fato ora denunciado possa chegar às autoridades competentes e resultar em ações práticas e urgentes, de modo a impedir danos ainda maiores à natureza e salvaguardando a vida humana.