A seca histórica no Hemisfério Norte e seus efeitos

Situação de estiagem extrema afeta agricultura, indústria e comércio de importantes economias globais como EUA, Europa, China e Índia. Veja comparações de ANTES e DEPOIS que mostram a gravidade da situação e entenda as possíveis causas.

Europa enfrenta sua pior seca em pelo menos 500 anos, com dois terços do continente em estado de alerta. Os EUA tem reservatórios em baixa e o abastecimento de água dos moradores pode ficar comprometido. Na China, uma onda de calor recorde tem levado a racionamento de energia e fechamento de indústrias.

Tudo ao mesmo tempo, agora: o Hemisfério Norte tem imensas áreas afetadas por calor e estiagem incomuns.

Especialistas explicam que, embora fenômenos climáticos extremos também possam surgir de ciclos naturais na Terra, não é uma surpresa que esses eventos estejam acontecendo com uma maior intensidade, como resultado das mudanças climáticas induzidas pelo homem.

Europa

Relatório de agosto do Observatório Europeu da Seca indica que 47% da Europa está em condições de alerta, com claro déficit de umidade do solo, e 17% em estado de alerta, em que a vegetação é afetada pela falta de umidade.

A seca reduz o nível de alguns dos rios mais importantes do continente, como o rio Danúbio, prejudicando a logística de produtos por via fluvial, que torna o transporte mais caro e aumenta os preços em geral, principalmente das commodities.

rio Reno, na Alemanha, está em níveis comprometedores para o escoamento da produção do centro da Europa para o porto de Roterdã. Segundo economistas, a interrupção pode reduzir em até 0,5 ponto percentual o PIB da Alemanha no ano.

m Kaub, próximo a Frankfurt, a seca do Reno faz com que as barcaças de transporte de cargas trafeguem com apenas um quarto da carga.

As dificuldades de transporte geram falta de matéria-prima. A gigante da indústria química Basf, por exemplo afirma que pode ser obrigada a reduzir sua produção em breve.

A dificuldade de transporte também encarece a energia da Europa, onde grande parte do carvão usado nas usinas é transportado em barcaças pelos rios do continente.

Ainda que seja minoritária, a seca reduz o potencial de geração de energia hidrelétrica do Velho Continente e agrava a dependência de outros combustíveis fósseis.

rio Pó, que cruza o norte da Itália e deságua no mar Adriático, também sofre do mesmo problema, o que traz impacto ao fluxo da produção agrícola do país.

Foi no rio Pó, inclusive, que surgiu uma das histórias mais inusitadas da seca histórica na Europa. Onde antes passava o curso d’água foi encontrada uma bomba não detonada da Segunda Guerra Mundial.

Na França, os agentes reguladores flexibilizaram as regras sobre a temperatura em que a água usada para refrigerar as usinas nucleares pode ser devolvida ao meio ambiente.

Não bastasse o aumento do custo do transporte e da produção, a falta de água compromete a safra dos produtos agrícolas em si, da irrigação na zona rural pelo estresse da seca intensa à maior ocorrência de grandes incêndios.

A produção de milho francesa tinha apenas metade da safra em “condições boas ou excelentes” no início de agosto, segundo a associação FranceAgriMer. O país também tem sua produção relevante de trigo afetada, que já sofria com altas por conta da falta de fornecimento da Ucrânia durante a guerra.

E nem os produtos mais nobres da agricultura europeia escapam. Produtores de vinho da França, Espanha e Itália registraram perdas de safra. As uvas próprias para a produção da bebida precisam de amplitude térmica — ou seja, dias quentes e noites frias. O calor está garantido, mas o resfriamento necessário não vem.

América do Norte

O oeste dos Estados Unidos e o norte do México estão passando por seu período mais seco em 1,2 mil anos, segundo um estudo da publicação científica Nature Climate Change.

As regiões de Yuma, no Arizona, e do Vale Imperial, na Califórnia, produzem mais de 90% dos vegetais folhosos dos EUA nos meses de inverno.

A estiagem deve afetar a agricultura principalmente no estado da Califórnia, e elevar ainda mais os preços dos alimentos. Estudo da Universidade da Califórnia Merced mostrou que o prejuízo da seca à indústria agrícola do estado já chegou a US$ 1,2 bilhão e custou cerca de 10 mil empregos em 2021.

O Arizona também é um grande produtor de trigo, que é exportado para a Itália. Mas a água usada nessas produções vem do Rio Colorado, que está secando – fazendo subir os preços de alimentos subirem.

A expectativa também é de que 40% da safra de algodão dos EUA seja perdida.