Com uma área um pouco maior que o bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, a Lagoa de Imboassica é um importante ponto de práticas esportivas, lazer, pesca e turismo de Macaé, município fluminense. Não à toa, o ecossistema é estudado pelos pesquisadores do Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade (Nupem), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), há cerca de 35 anos. Segundo eles, após décadas de intervenção humana, a lagoa não tem mais como retornar ao que era antes. O foco agora está em cuidá-la e conservá-la para que não vire um brejo.
Dados do Nupem indicam que cerca de 80% da bacia hidrográfica da lagoa está sob forte influência antrópica. Os registros de intervenção humana no local são históricos, com a instalação de uma linha férrea em 1887, a Rodovia Amaral Peixoto RJ-106 durante a década de 1940 e dois polos industriais da Petrobras, das décadas de 1970 e 1990, respectivamente, que ainda estão em funcionamento.
De acordo com os pesquisadores do Instituto, os principais problemas do local atualmente estão relacionados ao despejo de esgoto sanitário, a poluição e as aberturas periódicas da barra de areia. As aberturas são realizadas porque, neste processo, muitas larvas de diferentes espécies passam a se desenvolver dentro do corpo hídrico, que com a água salgada torna-se uma espécie de mangue para esses animais – um ambiente extremamente produtivo e com muito alimento. A capacidade reprodutiva do local passa a ser ainda maior, o que é algo vantajoso para pescadores e moradores da região.
Cada vez mais requisitado pelos interessados na abertura da barra, o processo passou a ser feito mais frequentemente e de formas mais artificiais e intervencionistas, resultando em consequências negativas para o local. Rodrigo Lemes, pesquisador do Nupem, explica que o que antes era feito manualmente por pescadores, hoje se utilizam enormes tratores para abrir a barra de areia. “Existem tecnologias e tecnologias. Então, provavelmente a observação ancestral era de que se tinha um pico de produtividade depois que ela [a barra] rompia naturalmente. E aí, começaram a acelerar o processo. Antigamente, esperavam o nível da lagoa estar alto, hoje nem esperam”, disse Lemes.
À primeira vista, explorar um recurso natural como a Imboassica parece algo vantajoso e benéfico para a comunidade que está ao seu entorno. É o caso dos pescadores e outras populações locais da lagoa de Macaé, que há muito tempo e até hoje veem como um espaço em potencial para lazer, pesca e outras atividades. No entanto, somada com outros problemas como a poluição no local, essa exploração pode vir a exaurir o corpo hídrico que hoje é um dos pontos mais centrais da cidade e um ecossistema de cinco quilômetros quadrados.
De acordo com o pesquisador em limnologia Marcos Paulo Figueiredo Barros, também do Nupem, o intuito de abrir a barra para que os peixes possam se desenvolver é hoje inviável para a Lagoa de Imboassica. “Primeiro porque é uma lagoa que tem esgoto entrando em seu corpo principal, então se você abre a barra, você reduz o nível de água dela, que também vai pro mar. Então, fica tão rasa que em vários pontos chega a ficar seca”, completou.
O assoreamento é outro problema resultante das aberturas de barra. Isso porque a as aberturas frequentes e o esvaziamento da lagoa tendem a privilegiar o crescimento de uma espécie de planta chamada taboa, que vai se acumulando no fundo da lagoa, tornando-a mais rasa e com uma capacidade cada vez menor de suportar o volume hídrico. Além das ocupações no entorno da lagoa, que a tornaram ainda mais assoreada ao longo do tempo. Com o assoreamento cada vez maior e as frequentes e fortes chuvas, a lagoa enche rapidamente e inunda o seu entorno, ocupado por bairros, ruas e casas. É nesse momento que a abertura da barra é ainda mais requisitada pelos moradores do local, no intuito de acabar com as inundações em suas casas.
Outra motivação para a abertura da barra é o que os moradores consideram como “limpeza da lagoa”, pela qual a água podre vai para o mar e água salgada melhora a qualidade do corpo hídrico, por ser pobre em nutrientes. No entanto, segundo o professor Marcos Paulo, não há, de fato, uma melhora na qualidade. “Como ainda tem efluente não tratado entrando na lagoa, ela pode melhorar durante 4 ou 5 meses, perto da praia, mas pouco tempo depois, como ainda tem esgoto entrando, ela volta ao panorama anterior ou até pior. Ou seja, a abertura da barra para limpar a lagoa não adianta, já provamos isso em teses, dissertações e artigos”, disse ele.
A proliferação de mosquitos aparece como mais uma das preocupantes consequências da abertura. Isso porque, com a mortandade de peixes na lagoa, os mosquitos passam a se proliferar ainda mais, já que os peixes são os seus predadores. O professor Marcos Paulo cita que os eventos de reprodução em massa de mosquitos estão diretamente relacionados à lagoa e à sua diversidade, porque muitas espécies desses animais são aquáticas em sua fase jovem. Sem os predadores, as larvas dos mosquitos têm passe livre para se desenvolver. Outros indícios de desequilíbrio ambiental também são identificados na Lagoa de Imboassica, como a proliferação de algas verdes e de tilápias, espécies de peixes consideradas invasoras. “Os moradores do entorno acabam tendo que conviver com a infestação de mosquitos, o mau cheiro do esgoto, com o afloramento de alga verde…. É a abertura da barra somada a um ecossistema poluído. Os problemas são vários”, enfatizou Marcos Paulo.
A Prefeitura e Câmara dos Vereadores de Macaé vem traçando planos e estratégias para iniciar o processo de despoluição da lagoa, com orientação do Nupem. Segundo o professor Rodrigo, o Instituto fica responsável por orientar o que pode ser feito na região, elaborar métodos e indicar caminhos possíveis. No entanto, de acordo com os pesquisadores, é possível que a lagoa não se recupere mais.
“A Lagoa chegou a um outro tipping point [quando se tem uma condição de Equilíbrio X no passado mas no momento o distúrbio é tão forte que o ecossistema não consegue mais retornar para aquele cenário].Ela pode até alcançar um equilíbrio, mas é um novo equilíbrio. Ela muda de um tipping point para outro tipping point. Então, talvez a gente nunca consiga recuperar ela como era no passado, mas conseguimos fazer com que ela seja mais equilibrada e não se torne um brejo em curto tempo”, disse Lemes.
Além disso, como explicou o professor Marcos Paulo, há toda uma comunidade estabelecida no entorno da Lagoa e até mesmo nos locais onde antes pertenciam a ela. Os meandros do Rio Imboassica que deságua nela, por exemplo, não existem mais. Atualmente, é um rio retilíneo e o principal contribuidor de água doce. “Então ela é outra Lagoa, outro ambiente. E o que a gente quer como pesquisador e amante dos ecossistemas da região é que ela volte para uma situação aceitável dentro do que se tem, sem coliformes fecais, sem esgoto, águas mais transparentes que as pessoas possam tomar banho com tranquilidade e que as pessoas também possam pescar sem ter contato com cianotoxinas”, disse Marcos Paulo.
Os pesquisadores afirmam que a despoluição é um primeiro passo para garantir a sobrevivência do ecossistema nas próximas décadas. As últimas medições feitas pelo Nupem indicam que, durante os piores cenários de abertura da lagoa, o local pode vir a ser um brejo, até o final do século. “Talvez a gente ganhe uma sobrevida de mais de 50 anos até 200 anos. Mas estamos diante de um quadro de mudanças climáticas globais. É difícil prever como a lagoa vai se comportar nos períodos de chuvas ou secas. A despoluição já garante mais um tempo”, finaliza Lemes.
A Prefeitura e Câmara dos Vereadores de Macaé vem traçando planos e estratégias para iniciar o processo de despoluição da lagoa, com orientação do Nupem. Segundo o professor Rodrigo, o Instituto fica responsável por orientar o que pode ser feito na região, elaborar métodos e indicar caminhos possíveis. No entanto, de acordo com os pesquisadores, é possível que a lagoa não se recupere mais.
“A Lagoa chegou a um outro tipping point [quando se tem uma condição de Equilíbrio X no passado mas no momento o distúrbio é tão forte que o ecossistema não consegue mais retornar para aquele cenário].Ela pode até alcançar um equilíbrio, mas é um novo equilíbrio. Ela muda de um tipping point para outro tipping point. Então, talvez a gente nunca consiga recuperar ela como era no passado, mas conseguimos fazer com que ela seja mais equilibrada e não se torne um brejo em curto tempo”, disse Lemes.
Além disso, como explicou o professor Marcos Paulo, há toda uma comunidade estabelecida no entorno da Lagoa e até mesmo nos locais onde antes pertenciam a ela. Os meandros do Rio Imboassica que deságua nela, por exemplo, não existem mais. Atualmente, é um rio retilíneo e o principal contribuidor de água doce. “Então ela é outra Lagoa, outro ambiente. E o que a gente quer como pesquisador e amante dos ecossistemas da região é que ela volte para uma situação aceitável dentro do que se tem, sem coliformes fecais, sem esgoto, águas mais transparentes que as pessoas possam tomar banho com tranquilidade e que as pessoas também possam pescar sem ter contato com cianotoxinas”, disse Marcos Paulo.
Os pesquisadores afirmam que a despoluição é um primeiro passo para garantir a sobrevivência do ecossistema nas próximas décadas. As últimas medições feitas pelo Nupem indicam que, durante os piores cenários de abertura da lagoa, o local pode vir a ser um brejo, até o final do século. “Talvez a gente ganhe uma sobrevida de mais de 50 anos até 200 anos. Mas estamos diante de um quadro de mudanças climáticas globais. É difícil prever como a lagoa vai se comportar nos períodos de chuvas ou secas. A despoluição já garante mais um tempo”, finaliza Lemes.