Entrevista exclusiva com Arthur Soffiati

Texto por Thereza Dantas
Fotografia de Pablo Vergara

O nome completo é Aristides Arthur Soffiati Netto. Na condição de escritor assina como Arthur Soffiati, autor de mais de 30 livros sobre história ambiental regional, meio ambiente e cultura. Se define como um ecohistoriador. “Na verdade sou um historiador ambiental mas fica parecendo um adjetivo, sou um historiador do Meio Ambiente”, explica o professor aposentado da Universidade Federal Fluminense, UFF.

O professor Aristides Soffiati tem doutorado na área de História Social pela UFRJ, com ênfase em História Ambiental. Mas essa experiência acadêmica foi acompanhada pelo ativismo por Justiça Ambiental. “Quando estudamos História percebemos que as mudanças acontecem de forma lenta, eu aproveito o meu conhecimento para mostrar a ação do ser humano no Meio Ambiente”, explica.

Impressionado com o artigo de Arnold Joseph Toynbee, publicado no final da década de 1960 onde, segundo o professor Aristides Soffiati, o historiador inglês afirmava que a “História não era mais sobre a relação entre as civilizações mas a História da Humanidade com relação ao planeta Terra”, com o livro A Humanidade e a Mãe-Terra: Uma História Narrativa do Mundo” do mesmo autor, e a leitura de pensadores independentes como Edgard Morin, o professor Soffiati se descobriu um ativista das questões ambientais. “Além disso, a Conferência de Estocolmo também chamou muito a minha atenção e me fez um ecohistoriador”, lembra. A Conferência de Estocolmo foi a primeira grande reunião de chefes de estado organizada pelas Nações Unidas (ONU) para tratar das questões relacionadas à degradação do meio ambiente, em 1972 na capital da Suécia, Estocolmo.

Ela é reconhecida como um marco nas tentativas de melhorar as relações do homem com o Meio Ambiente, e por ter inaugurado a busca por equilíbrio entre desenvolvimento econômico e redução da degradação ambiental (poluição, desmatamento, etc) que evoluiu para a noção de desenvolvimento sustentável.

Essa vocação o levou para um campo mais militante. “Eu não queria ser um estudioso de casos, me tornei parceiro das lutas e como ainda estávamos sob vigência da Ditadura Militar tive muitos aborrecimentos com a Polícia Federal e militares na época”. Nesse período, fundou o Centro Norte Fluminense para Conservação da Natureza, em 1977 e foi presidente da mesma organização não-governamental por três mandatos consecutivos entre 1979 e 1991.

“Sinto que mudamos o discurso, ninguém fala abertamente que vai poluir ou destruir a natureza, mas as ações ainda não correspondem a esses discursos.”

Para o Soffiati, apesar da lentidão do Poder Público, políticos e das empresas, toda essas lutas ambientalistas foram dando lugar ao crescimento de uma consciência sobre os danos da poluição e do desiquilíbrio da ação humana na Natureza. “Sinto que mudamos o discurso, ninguém fala abertamente que vai poluir ou destruir a Natureza mas as ações ainda não correspondem a esses discursos. O que preocupa é que os problemas se agravaram muito, tomaram uma outra dimensão!”, avalia.

Para o professor Aristides Soffiati o mais perigoso nesse momento são os comportamentos consumistas, “um dos traços da economia de mercado”, individualistas e o presentismo, “atitude de pessoas que não pensam no futuro, que não se inserem na História”.

Essas atitudes individualistas, acrescida da enorme desigualdade econômica tornam esse período bastante preocupante. Uma saída? Observar as antigas civilizações e os povos originários da América, África e Ásia que tinham uma relação de respeito para com a Natureza. “Uma sacralização que protegia o Meio Ambiente e a existência desses povos’, reflete.

Mas o que dizer para os netos? “Eu mais ouço o que eles me dizem!”, afirma Soffiati. Ele pondera que a educação ambiental que seus netos acessam nas escolas que frequentam são muito positivas mas que eles, os netos, viverão dilemas na hora da escolha da profissão e da empresa onde deverão trabalhar. “São mudanças de paradigmas, não é um momento confortável.”