Cidade se destaca pelas emissões alarmantes de gases estufa em SP, resultado das operações da maior refinaria da Petrobras. A empresa prometeu cortar emissões e investir bilhões em sustentabilidade até 2050, mas será suficiente para conter o avanço das mudanças climáticas?
Paulínia, uma cidade industrial localizada no interior de São Paulo, está novamente em destaque nos rankings ambientais.
A razão, no entanto, está longe de ser positiva. Conhecida por abrigar a maior refinaria da Petrobras no Brasil, a Refinaria de Paulínia (Replan), a cidade registrou um aumento expressivo nas emissões de gases de efeito estufa em 2023.
Segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), vinculado ao Observatório do Clima, Paulínia foi a terceira maior emissora de gases poluentes no estado de São Paulo, lançando 4,51 milhões de toneladas de CO2 equivalente (tCO2e) na atmosfera.
Esse volume alarmante de emissões representa um aumento de 9,1% em comparação ao ano anterior, marcando o maior índice desde 2015.
A Refinaria de Paulínia, principal responsável pelo impacto ambiental, concentrou cerca de 96% das emissões locais.
“A atividade industrial na refinaria é a principal fonte das emissões de gases de efeito estufa em Paulínia, um reflexo direto do funcionamento contínuo das operações de refino de petróleo”, afirmou David Tsai, coordenador do SEEG, em entrevista ao portal G1.
Entenda as principais fontes de emissões
As emissões de Paulínia são geradas principalmente em dois processos da refinaria.
O primeiro é a queima de combustíveis fósseis usados para manter as operações industriais, enquanto o segundo envolve vazamentos de gases durante o processo de refino.
Segundo Tsai, esses vazamentos podem ocorrer tanto de forma intencional quanto acidental.
Para dimensionar o impacto, a distribuição das emissões em Paulínia em 2023 foi a seguinte:
- Refino de petróleo: 4.336.875 tCO2e
- Transportes: 688.201 tCO2e
- Indústria: 168.902 tCO2e
- Geração de eletricidade: 121.792 tCO2e
Esses números mostram o peso do setor petroquímico na contribuição ambiental negativa da cidade.
Contudo, apesar do cenário preocupante, uma notícia positiva surgiu: o setor de resíduos sólidos em Paulínia conseguiu capturar 857.076 tCO2e de gases poluentes, o que resultou na redução de 16% das emissões líquidas da cidade.
Essa redução ocorreu devido à recuperação de metano e biogás do aterro sanitário local, que são reaproveitados para a geração de energia limpa.
Comparação estadual: Paulínia no topo das emissões
O levantamento do SEEG revelou que Paulínia só ficou atrás das cidades de São Paulo e Guarulhos em emissões de gases do efeito estufa no estado.
Confira o ranking das seis cidades mais poluentes de São Paulo em 2023:
- São Paulo: 14.472.375 tCO2e
- Guarulhos: 4.750.934 tCO2e
- Paulínia: 4.513.377 tCO2e
- São José dos Campos: 3.725.161 tCO2e
- Campinas: 2.934.902 tCO2e
- Cubatão: 2.828.911 tCO2e
A posição de destaque de Paulínia no ranking acende um alerta para o impacto ambiental gerado pela atividade industrial na cidade, especialmente devido à Refinaria de Paulínia, cuja produção responde por uma parte significativa do abastecimento nacional de combustíveis.
A resposta da Petrobras
Em nota enviada ao portal G1, a Petrobras reconheceu a responsabilidade ambiental e destacou que vem tomando medidas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa em suas operações.
A empresa afirmou que entre 2015 e 2023, conseguiu reduzir suas emissões operacionais de 78 milhões para 46 milhões de toneladas de CO2, o equivalente a três vezes as emissões do setor de aviação comercial no Brasil.
“As emissões de metano foram reduzidas em 70% no mesmo período. A Petrobras tem o compromisso de neutralizar suas emissões líquidas até 2050, por meio de iniciativas sustentáveis e de tecnologia avançada para captura e armazenamento de carbono”, declarou a empresa ao portal G1.
O novo plano estratégico da Petrobras, que cobre o período de 2025 a 2029, prevê um investimento de US$ 16,3 bilhões em projetos voltados para a transição energética e a sustentabilidade, um aumento de 42% em relação ao plano anterior.
A companhia ainda garantiu que sua unidade de Paulínia está entre as mais eficientes do mundo em termos de desempenho ambiental e eficiência energética.
Desafios ambientais e perspectivas para o futuro
Apesar dos esforços anunciados pela Petrobras, o impacto ambiental de Paulínia segue como uma preocupação constante.
O desafio da cidade é imenso: encontrar um equilíbrio entre o desenvolvimento industrial e a preservação ambiental.
“É possível crescer sem comprometer o meio ambiente, mas isso exige investimentos robustos e políticas públicas eficazes”, observou um especialista ambiental consultado pelo portal G1.
A cidade de Paulínia se vê no centro de um dilema ambiental, com uma responsabilidade considerável devido ao seu papel estratégico na produção nacional de combustíveis.
A promessa de neutralidade de carbono até 2050 e os bilhões anunciados em investimentos são passos importantes, mas resta saber se as ações concretas acompanharão esses compromissos.