Cristiane Prizibisczki – O progresso tecnológico verificado em todo mundo já está cobrando seu preço. De acordo com relatório divulgado nesta quarta-feira (20) pela Organização das Nações Unidas (ONU), a geração mundial de resíduos eletrônicos está aumentando cinco vezes mais rápido do que a reciclagem de e-lixo documentada em nível global. E o cenário vai piorar se medidas não forem tomadas, diz o documento.
Chamado de “Monitor Global de E-lixo”, o relatório mostra que somente em 2022 foram gerados 62 milhões de toneladas de e-lixo em todo o mundo. A quantidade daria para encher 1,5 milhão de enormes caminhões de 40 toneladas que, se colocados um na frente do outro, formariam uma linha capaz de circundar o Equador.
Enquanto isso, menos de um quarto – 22,3% – da massa de e-lixo produzida em 2022 foi documentada como tendo sido corretamente coletada e reciclada. Isso representou uma perda de 62 bilhões de dólares em recursos naturais que poderiam ter sido reciclados e aumento no risco de poluição para comunidades em todo mundo, principalmente em países mais vulneráveis.
Segundo o relatório, a geração de e-lixo está aumentando em 2,6 milhões de toneladas por ano, podendo atingir 82 milhões de toneladas até 2030, o que representaria um aumento de 33% em relação ao número de 2022.
Além do crescente progresso tecnológico, o maior consumo, as opções de reparo limitadas, os ciclos de vida mais curtos do produto, a crescente eletrificação da sociedade e a infraestrutura inadequada de gestão de e-lixo contribuem para esse cenário.
“Este novo relatório representa um apelo imediato para um maior investimento no desenvolvimento de infraestrutura, mais promoção de reparo e reutilização, capacitação e medidas para interromper o envio ilegal de e-lixo. E o investimento se pagaria em dobro”, diz Kess Baldé, cientista sênior da ONU e um dos autores do estudo.
Desperdício de recursos
O e-lixo descartado irregularmente – qualquer produto eletrônico, como plugue de celular ou bateria – é um risco para a saúde e para o meio ambiente, destaca o relatório da ONU. Isso porque eles contêm vários metais pesados e substâncias perigosas, como o mercúrio.
De acordo com trabalho, que está em sua quarta edição, das 62 milhões de toneladas de e-lixo produzidas em 2022, 31 milhões de toneladas representaram o peso estimado de metais embutidos, 17 milhões de toneladas de plásticos e 14 milhões de outros materiais, como minerais, vidros e materiais compostos.
O valor total dos metais embutidos nos eletrônicos descartados chega a 91 bilhões de dólares, incluindo U$19 bilhões em cobre, U$15 bilhões em ouro e U$16 bilhões em ferro.
Segundo a Organização, a reciclagem evitaria a extração de 900 milhões de toneladas de minérios, por exemplo. Mas, se continuar como está, os cenários positivos não são vislumbrados no futuro.
O relatório prevê uma queda na taxa de coleta e reciclagem documentada de 22,3% em 2022 para 20% até 2030, devido à diferença crescente nos esforços de reciclagem em relação ao crescimento na geração de e-lixo em todo o mundo.
Brasil e lixo – eletrônico
O Brasil está entre os maiores produtores de lixo eletrônico no mundo. Por ano, são produzidos por aqui 2,4 milhões toneladas de e-lixo, o que coloca o país na segunda posição do ranking das Américas, atrás apenas dos Estados Unidos, que produzem 7,2 milhões de toneladas de lixo eletrônico anualmente.
Segundo o levantamento da ONU, no recorte das Américas, o Brasil está na frente do México (1,5 milhão de tonelada) e Canadá (770 mil toneladas). O relatório não traz um ranking global, mas estimativas colocam o Brasil no 5º lugar mundial de maiores produtores de e-lixo do planeta.
Quanto à reciclagem, estamos ainda muito atrás. O tema da reciclagem de lixo eletrônico é tratado na Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010, e no Decreto 10.240/2020, que regulamenta a logística reversa.
Segundo estimativas do setor, no entanto, o Brasil possui apenas 10 mil pontos de coleta de reciclagem de eletrônicos e efetivamente recicla apenas 3% do e-lixo que é produzido.