Manual Cidade Amiga da Fauna: pela construção de cidades biodiversas

Parte da equipe que trabalhou na elaboração do manual - Foto: SVMA

Manual Cidade Amiga da Fauna, idealizado pela Divisão da Fauna Silvestre (DFS) da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da cidade de São Paulo, surge em um momento crucial. Afinal, grande parte das cidades brasileiras crescem sem amparar os animais silvestres, tornando-as incompatíveis com a coexistência humano-fauna.

A DFS não atua só no recebimento, tratamento e reabilitação de animais silvestres, mas também emite pareceres em prol da fauna do município de São Paulo. Para a cidade obter selos verdes, é necessário que haja um padrão atestando a existência de medidas sustentáveis, que remetem a redução de gás carbônico, ao uso de energias renováveis, à coleta seletiva de resíduos e à redução de poluentes atmosféricos e em corpos hídricos, mas ações relacionadas a fauna silvestre não são contempladas. Foi percebido, então, que a questão da biodiversidade na cidade ficava em segundo plano.

Em meados de 2021, alguns técnicos da DFS começaram a dialogar sobre a construção de políticas públicas capazes de fazer a diferença ambiental em larga escala. A ideia se consolidou ainda mais no período pós pandêmico, porque durante o isolamento e a sensação das cidades “adormecidas”, os animais começaram a circular mais livremente e sua presença foi comentada pela população em nível mundial (leia sobre nos sites do Conselho Regional de Medicina Veterinária de SP e na National Geographic). Com isso, a fauna nas cidades passava a ser mais notada, tornando os centros urbanos importantes para a conservação.

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Sergio de Mello Novita Teixeira, diretor da DFS – Foto: SMVA

conceito de “cidades biodiversas já existia e serviu de inspiração para os técnicos, assim como o Manual Técnico de Poda de Árvores, da cidade de São Paulo, por apresentar uma linguagem de fácil acesso e ter um maior alcance na população.

A experiência no recebimento dos animais silvestres vitimados em conjunto com as respostas técnicas acerca dos impactos sofridos pela fauna no município de São Paulo tornava urgente a necessidade de uma publicação a respeito, elencando os problemas e propondo soluções para um melhor convívio humano-fauna.

Organização do manual

Assim, foi confeccionado o manual e os assuntos abordados foram divididos nos seguintes eixos temáticos:

  • Coexistência humano-fauna: abrange todos os temas relacionados às interações humanas com a fauna silvestre, como os conflitos de convivência e presença de animais domésticos em áreas verdes.
  • Proteção, conexão e criação de hábitats: discorre sobre a importância de proteger hábitats naturais, criar conexões e novos hábitats a partir do zero.
  • Manejo de áreas verdes: relativo às técnicas e os processos de manejo e paisagismo que beneficiam a fauna urbana.
  • Urbanização e infraestrutura: aborda os problemas associados à infraestrutura urbana, como os ocasionados pelas redes de distribuição de energia, iluminação artificial, poluição sonora, vias que expõem os animais a colisões veiculares e construções com superfícies reflexivas.
  • Políticas públicas de fomento: voltados aos instrumentos de fomento de políticas públicas para promover cidades amigáveis à fauna.
  • Políticas públicas de combate ao tráfico: discute os instrumentos e ações de combate ao tráfico e à aça de animais silvestres.
  • Educação pela fauna: apresentação de aspectos políticos, teóricos e práticos da educação ambiental e de caminhos para promover a coexistência harmoniosa com a fauna nativa nas cidades.

Dentre os temas, destacamos aquele que é um dos principais requisitos para a compreensão e execução das boas práticas relacionadas à fauna silvestre: a educação ambiental, como bem explorado em artigo publicado no Fauna News.

Aliado a questão da educação, temos o compromisso dos gestores públicos na construção de cidades que pensam em fauna, que neste sentido, também pensarão em conservação. Com isso, desejamos fortemente o uso do Manual Cidade Amiga da Fauna e que outros manuais também surjam, possibilitando a existência de regulamentações pró fauna e de um futuro mais verde.

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À esquerda, Tamires Carla de Oliveira, chefe de gabinete da SVMA, conversando com a coordenadora de Gestão de Parques e Biodiversidade Municipal, Juliana Summa (à direita), no lançamento da publicação – Foto: SMVA

*Este artigo contou com a colaboração de Anelisa Ferreira de Almeida Magalhães, bióloga da DFS/SVMA.