Justiça Climática: os 3% mais ricos emitem 50% dos gases e prejudicam a maior parte da população, que produz muito pouco

O segundo painel do dia 17, iniciado às 15h45, tratou do tema Justiça Climática – Impactos do Racismo Ambiental. O objetivo do painel foi aproximar o governo e a sociedade, criando um ambiente propício para a implantação e implementação de políticas públicas estratégicas. O debate foi mediado pela secretária da Igualdade Racial do Ceará, Zelma Madeira, graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), com mestrado e doutorado em Sociologia pela UFC. “É preciso relacionar mudanças climáticas com a questão racial, porque os povos negros e indígenas são histórica e estruturalmente discriminados e serão os principais atingidos. Isso é o racismo ambiental”, afirmou.

O primeiro a falar foi o físico, professor e ambientalista Alexandre Araújo Costa. Para ele, a sociedade não pode mais postergar as soluções pra crise climática para o futuro. “Hoje temos uma missão muito difícil de ser cumprida. Estamos vivendo uma era na qual temos procurar soluções como irmãos, pois é a nossa geração quem pode girar o leme das mudanças climáticas, discutindo o que consumimos, o que comemos, construindo um novo modo de viver. Porque hoje sustentamos um modo de vida insustentável”. Alexandre ressaltou não ser possível que empresas que queimam carbono ainda recebam incentivos fiscais dos governos. “Isso tem que acabar. Os 3% mais ricos produzem 50% das emissões de gases de efeito estufa. A maioria da humanidade produz 8%. É preciso trazer isso para a política”, provocou.

A segunda painelista foi Marcella Torres, advogada na Associação Interamericana para a Defesa do Ambiente (AIDA) e mestra em direito internacional dos direitos humanos pela Universidade de Notre Dame (EUA). Segunda ela, a injustiça climática atinge primeiro as pessoas que menos contribuíram para a gravidade do problema que vivemos hoje. “As mudanças climáticas marginalizam ainda mais os segmentos mais vulneráveis. A
resposta dos governos é o que vai definir se estas populações serão amparadas e preparadas para enfrentar os efeitos destas mudanças”.

A terceira painelista foi Ceiça Pitagguary, secretária de Gestão Ambiental e Territorial Indígena do governo federal, uma liderança ativa na manutenção da conservação das tradições indígenas no Estado. “Temos um conhecimento ancestral sobre a preservação da natureza que precisa ser democratizado. Vejam nossa caatinga. A mata branca que torna-se verde ao menor sinal de chuva. Temos no Nordeste mais de 70 povos indígenas que cuidam da nossa caatinga. Por isso, é fundamental demarcar os territórios indígenas para combater a crise climática, porque somos os grandes protetores da nossa biodiversidade. Portanto, os povos indígenas precisam ter seus direitos preservados, uma luta que foi prejudicada pelo governo anterior e que estamos retomando agora. Precisamos reflorestar as mentes dos nossos políticos”, ratificou.

O evento foi fechado pela painelista Elisabeth Chagas, titular e supervisora do Núcleo de Habitação e Moradia da Defensoria Pública do Estado do Ceará. Ela falou sobre a situação de algumas comunidades que vivem em condições subumanas – como favelas, periferias etc. – que são as principais vítimas das alterações climáticas. “Já ouvimos relatos tristes sobre a precariedade destas moradias, pessoas que dizem que o que segura nossas estruturas é a mão de Deus. Casas que ficam praticamente submersas quando chove, sem condições sanitárias mínimas”, explicou, deixando claro a injustiça em relação às consequências das variações do clima.