Um alerta contundente sobre a desigualdade racial, territorial e estrutural da violência no Brasil acaba de ser divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Segundo o 1º Informe Epidemiológico sobre a Situação de Saúde da Juventude Brasileira: Violências e Acidentes, 73% das mortes por causas externas entre jovens (acidentes, homicídios e suicídios) atingem pessoas negras. A pesquisa foi divulgada nesta segunda-feira, 25 de agosto, e utilizou dados do SUS e do IBGE referentes aos anos de 2022 e 2023.
Além do recorte racial, o estudo identificou que homens jovens são os que mais morrem, principalmente por homicídios, enquanto as mulheres jovens figuram entre as principais vítimas de agressões físicas, psicológicas e sexuais, muitas vezes no contexto da violência doméstica.
Outro dado de extrema relevância social é a presença de jovens com deficiência (PCDs), que representam cerca de 20% das notificações de violências registradas no Sistema Único de Saúde. Esse número escancara a invisibilidade e a negligência com que o Estado lida com essa população, que além da deficiência enfrenta múltiplas vulnerabilidades sociais.
Violência naturalizada e desigual
O coordenador da Agenda Jovem Fiocruz, André Sobrinho, destacou a importância de romper com a naturalização da violência contra a juventude, especialmente a juventude negra e periférica, que historicamente é alvo de políticas repressivas e ausência de políticas de proteção: “A idade, a raça e o território precisam ser considerados em qualquer estratégia de enfrentamento da violência, e isso diz respeito ao Estado como executor de políticas públicas, mas também às diferentes instituições sociais”, afirmou Sobrinho em entrevista ao portal g1.
O informe também aponta que a violência letal entre jovens negros é fortemente influenciada por fatores como a militarização da segurança pública, o acesso desigual a direitos básicos como saúde, educação, cultura e lazer, e a criminalização da juventude pobre, frequentemente vista como ameaça antes mesmo de ser reconhecida como sujeito de direitos.
Esse é apenas o primeiro de uma série de informes da Fiocruz que pretendem analisar com profundidade as condições de vida e saúde da juventude brasileira. A expectativa é de que as próximas edições abordem temas como saúde mental, direitos sexuais e reprodutivos, e acesso à educação e trabalho.