A topografia, com zonas montanhosas intercaladas por áreas planas de baixada, e grandes paredões de granito, é única. E o que dizer da importância histórica, econômica, ambiental, turística e paisagística. A linda baía passa pelo desafio de ser cercada por milhões pessoas vivendo em seu entorno, muitas vezes abandonadas pelo Estado. Como os serviços públicos são pífios, consequentemente, suas águas tornaram-se extremamente poluídas. No entanto, acredite, a qualidade da água da Baía de Guanabara está melhorando.
Segunda maior baía do Brasil
Ela é a segunda maior baía do litoral brasileiro, com 412 quilômetros quadrados de espelho d’água, recebendo o deságue de cinquenta e cinco rios. Com 42 ilhas e 53 praias, conforme o estudo Características Físicas de Guanabara e Sua Bacia Hidrográfica, sua profundidade varia de alguns metros em suas margens até mais de 40 metros no canal principal, sendo a maioria rasa, com menos de 10 metros de profundidade.
O tiro de partida foi a privatização do serviço de esgotos
Primeiro veio o novo marco regulatório do saneamento, aprovado no Senado em 2020. Um ano depois, o Rio de Janeiro foi pioneiro ao privatizar estes serviços, alimentando os cofres públicos com R$ 22,7 bilhões de reais. Desde então a responsabilidade passou a ser da empresa Águas do Rio.
Segundo estudos jamais contestados, o custo para universalizar os serviços de saneamento básico eram proibitivos para o País, entre R$ 400 e R$ 600 bilhões de reais. A exigência para as empresas concessionárias é que, até 2033, o abastecimento de água potável deve ser de 99% e o da coleta e tratamento de esgoto, de 90% da população.
O Mar Sem Fim vibrou com a aprovação da privatização. Escrevemos que a concessão no Rio de Janeiro gerou nada menos que R$ 22,7 bilhões de reais, o que nos faz acreditar que, se houver também um esforço em educação ambiental, até mesmo a Baía de Guanabara alcance enfim a sua despoluição.
A omissão de ‘ambientalistas’ e ONGs
À época criticamos ‘ambientalistas’ e ONGs do setor. No post Marco regulatório do saneamento: falha de ambientalistas, comentamos que não houve manifestações nem antes, nem depois da aprovação do novo marco, devido à crença política predominante: a esquerda, tradicionalmente contrária às privatizações.
Se dependesse destes ‘ambientalistas’, a Baía de Guanabara jamais deixaria sua sina de imundície. Mas há o que comemorar. Menos de três anos depois da privatização a qualidade da água da Baía de Guanabara está melhorando.
Cerca de 80 milhões de litros de água contaminada a menos
Em abril de 2024 o jornal O Dia publicou matéria cujo subtítulo é ‘Mais de 80 milhões de água contaminada com esgoto deixaram de cair no ecossistema todos os dias e vida marinha renasce’.
A matéria mostra que, desde que assumiu os serviços, a Águas do Rio vem recuperando estações de tratamento e de bombeamento de esgoto, tubulações, registros e outras estruturas. O trabalho está tornando o sistema de esgotamento sanitário mais eficiente e seguro, ampliando sua capacidade de coletar e tratar o efluente gerado na Região Metropolitana. Com isso, cerca de 82 milhões de litros de água contaminada com esgoto deixaram de cair na Baía de Guanabara.
Para Alexandre Bianchini, vice-presidente da Aegea, holding da Águas do Rio, a recuperação dos sistemas de coleta e tratamento de esgoto existentes já nos trouxe resultados positivos com águas mais limpas. Sucessivos relatórios do Inea mostram períodos cada vez maiores de balneabilidade em praias historicamente poluídas da Baía de Guanabara, como Paquetá, Flamengo e Urca. Isso significa que quando fazemos a nossa parte, ou seja, trabalhamos com foco na despoluição da baía, a natureza faz a dela e se regenera.”
A volta da vida marinha na Guanabara
A matéria de O Dia traz, igualmente, o depoimento de biólogos e ambientalistas, entre eles Ricardo Gomes, diretor do Instituto Mar Urbano (IMU), biólogo, fotógrafo e cinegrafista.
“Muito se fala dos problemas da baía, mas já posso afirmar que vejo um aumento na vida marinha e águas cada vez melhores para o mergulho, principalmente na enseada de Botafogo e Urca.”
Emissário submarino de Ipanema não era lindo havia 52 anos!
Uma das grandes ações da Águas do Rio foi a desobstrução do Interceptor Oceânico, túnel de 9 km de extensão responsável por coletar grande parte do esgoto da Zona Sul, e direcioná-lo para o Emissário Submarino de Ipanema. Após 52 anos sem limpeza e manutenção, cerca de 3 mil toneladas de resíduos foram removidas, permitindo que o coletor operasse em sua capacidade máxima. Isso foi fundamental para prevenir extravasamentos e contribuir para a melhoria da qualidade das praias, como a do Flamengo.
Veja se é possível passar 52 anos sem que nenhuma autoridade, durante este meio século, tenha pensado em limpar o único emissário submarino da ex-capital. Só isso já demonstra a gigantesca omissão do poder público.
Mas a Águas do Rio foi além. Em 2023 a empresa universalizou o serviço de esgoto da ilha de Paquetá. Para tanto, ampliou a rede de coleta, construiu uma nova elevatória (estação de bombeamento) e reformou outras quatro. Agora, os 4 mil moradores têm, pela primeira vez, esgotos recolhidos e tratados.
A Folha de S. Paulo também repercutiu a melhora em dezembro de 2022, apenas um ano depois da Águas do Rio assumir. Segundo o jornal, desde o início da ‘operação plena da Águas do Rio, em novembro de 2021, pequenas intervenções no sistema de esgoto levaram a alguns sinais de melhora nas águas. Levantamento da Folha mostrou que, pela primeira vez, uma praia da baía foi classificada como boa —a praia da Ribeira, na ilha de Paquetá. Houve indícios de melhorias também nas praias de Botafogo e Flamengo’.
Cinturões ao redor da baía
Depois de algum atraso, a Águas do Rio finalmente conseguiu as licenças ambientais concedidas pelo governo do Estado, por meio do Inea (Instituto Estadual do Ambiente), para as obras de implantação do sistema Coleta em Tempo Seco na capital e em outros sete municípios.
A medida afetará a vida de cerca de 10 milhões de pessoas nas 17 cidades que compõem a bacia hidrográfica da Baía de Guanabara. Isso resultará em uma melhoria na qualidade da água, já que mais de 400 milhões de litros de esgoto deixarão de ser lançados diariamente nesse ecossistema, o que equivale a 200 piscinas olímpicas.
Serão investidos R$ 2,7 bilhões na construção de aproximadamente 47 quilômetros de grandes coletores, estações de bombeamento e outras estruturas, que formarão um “cinturão de proteção da baía”. Além disso, a iniciativa prevê a criação de mais de 120 pontos de captação em tempo seco nas cidades do Rio de Janeiro, São Gonçalo, Itaboraí, Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Belford Roxo, Nilópolis e Mesquita.
Ainda vai demorar, e exigirá atenção do governo e da população quanto aos prazos. Mas, pela primeira vez em muitos e muitos anos, há esperanças para nosso mais emblemático cartão postal, a Baía de Guanabara.