Vence a floresta! Justiça reconhece Refúgio de Vida Silvestre da Floresta do Camboatá

Decisão judicial rejeita ação que apontava que criação da área protegida teria ocorrido de forma ilícita pelo município do Rio de Janeiro

A Floresta do Camboatá, em Deodoro, zona oeste do Rio de Janeiro. Foto: Marcio Isensee

No episódio final – pelo menos dessa temporada – da novela da Floresta do Camboatá, ganhou a natureza. Em decisão unânime, a 7ª Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região reconheceu a legitimidade da criação do Refúgio de Vida Silvestre Municipal da Floresta do Camboatá, na zona oeste do município do Rio de Janeiro. 

A unidade de conservação estava em xeque desde junho de 2022, quando a Justiça Federal no Rio acolheu uma ação contra a criação do refúgio, sob argumento que os vereadores – autores do projeto de lei que originou o refúgio – não poderiam legislar sobre um bem pertencente à União. Uma apelação foi então protocolada pela Procuradoria Geral do Município e o Ministério Público Federal. Dois anos depois, o imbróglio judicial ganha seu desfecho.

No acórdão, o desembargador federal Theophilo Antonio Miguel Filho explica que unidades de conservação podem ser criadas por chefes do executivo em qualquer uma das três instâncias – federal, estadual e municipal – e reforça que não há nenhum impedimento para a criação de unidades de conservação pelos municípios, mesmo em áreas de domínio da União. 

A decisão também pacifica a relação da área protegida com a presença e uso do Exército – antigo dono e atual “vizinho” do refúgio. 

“A própria União informa que o Exército Brasileiro já tem atuado em conformidade com a preservação ambiental, o que demonstra a compatibilidade das atividades militares com os objetivos descritos no ato de criação do Refúgio de Vida Silvestre da Floresta do Camboatá”. A criação da área protegida, acrescenta o desembargador, não impediu o acesso do Exército ao local, tampouco a realização de exercícios militares no local.

O terreno estava sob tutela do Exército desde 1904. Em 2020, a União cedeu a área ao município para construção de um autódromo no local, o que mobilizou ambientalistas para garantir a proteção de um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica de baixada da cidade. A luta resultou na derrocada do autódromo e na proposta de criação de uma unidade de conservação que garantisse a proteção desse raro remanescente florestal.

A unidade de conservação foi sancionada pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), no dia 10 de dezembro de 2021, após ser aprovada pelos vereadores na Câmara Municipal.

O refúgio possui 171,58 hectares e está localizado no bairro de Deodoro, na zona oeste do Rio. A área é lar de cerca de 146 espécies de árvores, 150 de aves, 19 de mamíferos, 13 de répteis e 19 de anfíbios.