Por Thereza Dantas
A Universidade Federal Fluminense (UFF) concedeu no dia 29 de Setembro, os títulos de Notório Saber em Saberes, Artes e Ofícios Tradicionais à Mestra Maria de Fátima da Silveira Santos (Mestra Fatinha do Jongo de Pinheiral), Mestra Marilda de Souza Francisco, do Quilombo Santa Rita do Bracuí, e ao Mestre Osvaldo José de Sena Filho (Ogã Kotoquinho), do Afoxé Filhas de Gandhi, no Teatro do Centro de Artes da UFF, em Niterói.
A UFF não é a primeira Universidade a reconhecer mestras e mestres dos saberes populares. As Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade de Pernambuco (UPE) e Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), já concederam ou possuem
regulamentação para conceder o título de Notório Saber a mestres e mestras das culturas populares e saberes tradicionais, reconhecendo a importância de seus conhecimentos e ofícios. O que não deixa de tirar a emoção ao assistir um evento que soa como uma reparação histórica.
As mestras Maria de Fátima da Silveira Santos (Mestra Fatinha do Jongo de Pinheiral) e Marilda de Souza Francisco, do Quilombo Santa Rita do Bracuí e o mestre Osvaldo José de Sena Filho (Ogã Kotoquinho), do Afoxé Filhas de Gandhi, participam de atividades de ensino, pesquisa e extensão na universidade e integram há quase dez anos o projeto Encontro de Saberes na UFF, que surgiu em 2016, a partir da visita do Professor José Jorge de Carvalho à Universidade Federal Fluminense, o que deu origem a um grupo de estudos com professores que já trabalhavam com comunidades tradicionais em projetos de extensão da UFF.
O evento aconteceu dentro da programação do 14º Festival Interculturalidades e também concedeu à cirandeira pernambucana Lia de Itamaracá o título de Doutora Honoris Causa. No teatro lotado com comunitários dos quilombos, capoeiristas, pesquisadores e alunos da UFF, aplaudiram de pé todos os homenageados e de quebra, ganharam um show da Lia de Itamaracá!
Sobre a importância da Academia reconhecer mestras e mestres das Culturas Populares
A RESOLUÇÃO CEPEx/UFF nº 3.929, de 25 de setembro de 2024, que instituiu o Notório Saber, e criou o Programa Mestria na UFF, não é apenas como reconhecimento, mas também “reparação, uma vez que permite o efetivo exercício dos mestres como docentes na universidade, inclusive com remuneração por seu trabalho”, de acordo com os professores da UFF. O título Doutor Honoris Causa é uma forma de reconhecimento máximo de uma instituição de ensino superior a uma pessoa que se destacou por sua atuação e reputação, concedido a personalidades eminentes por suas contribuições notáveis às ciências, artes, letras, cultura, ou por beneficiarem a humanidade ou o país, mesmo que não possuam formação acadêmica na área.
Além do reconhecimento formal, a titulação acadêmica promove a valorização dos Saberes Tradicionais permitindo que esses mestres e mestras sejam incluídos como docentes e pesquisadores na UFF, enriquecendo o ambiente acadêmico com novas perspectivas. Esse é um dos passos efetivos para a decolonialidade do Saber, diversificando os Conhecimentos que são considerados válidos e confirmando a efetivação de políticas de ação afirmativa na Universidade.
Memória e reparação
O que pouco se fala é que as concessões de títulos acadêmicos ou editais e leis nas Políticas Públicas que reconhecem e remuneram mestras e mestres das Culturas Populares, são importantes porque reafirmam nossa história enquanto brasileiros.
Por isso, é tão emocionante assistir uma entrega de título ou ver um mestre ou mestra selecionado em um edital. Nesse momento, o gatilho de nossa memória traz as festas das Folias de Reis e do Carnaval, das garrafadas das avós, as novenas dos congadeiros, o trabalho na madeira ou no couro dos nossos mais velhos, ou as gingas nas rodas da Capoeira, estes são os nossos espaços de afetos e troca de saberes nas nossas memórias dentro das nossas casas, ruas e cidades que vivemos.



