Tamanduaí, a menor espécie de tamanduá do mundo, é símbolo de conservação do manguezal nordestino

Foto (destaque): Flávia Miranda/Instituto Tamanduá

tamanduaí (Cyclopes didactylus), a menor espécie de tamanduá do mundo, virou símbolo de conservação do manguezal no litoral nordestino. Isto porque o programa do Instituto Tamanduá identificou mais de 30 indivíduos no Delta do Parnaíba.

Estudos e ações de preservação têm avançado desde a criação de uma base de pesquisa na região, há quatro anos, com laboratório de campo completo. Reflorestamento, conservação de áreas e turismo de base comunitária são estratégias adotadas para proteger a biodiversidade local.

Tamanduaí, a menor espécie de tamanduá do mundo, é símbolo de conservação do manguezal nordestino
Ele mede cerca de 30 cm e pesa até 400 gramas
Foto: Flávia Miranda/Instituto Tamanduá

“Esse esforço para a conservação do tamanduaí é emblemático. Demonstra a importância de ampliarmos os esforços para a promoção do conhecimento científico para a proteção da biodiversidade e, também, a necessidade de ampliação das unidades de conservação para que espécies como essa tenham áreas seguras e extensas destinadas ao seu desenvolvimento”, diz Marion Silva, bióloga e gerente de Ciência e Conservação da Fundação Grupo Boticário.

O menor tamanduá do mundo

O tamanduaí mede cerca de 30 centímetros e pesa até 400 gramas. Ele é solitário, de hábitos noturnos e passa a maior parte do tempo no alto das árvores. Na classificação da International Union Conservation of Nature (IUCN), o animal aparece com o status “dados deficientes”, pois ainda se conhece muito pouco sobre a espécie.

Tamanduaí, a menor espécie de tamanduá do mundo, é símbolo de conservação do manguezal nordestino
Como o tamanduá-mirim, o tamanduaí é excelente escalador e pode chegar aos ninhos
de cupins que ficam nos galhos mais altos das árvores, evitando competir
com o tamanduá-bandeira, que procura pelo alimento no chão
Foto: Quinten Questel / Creative Commons

As pesquisas iniciadas em 2008 têm melhorado a compreensão sobre a ocorrência do tamanduaí nas Américas Central e do Sul. Existem sete espécies do animalcomo já contamos aqui.

“Acreditava-se, até recentemente, que esses pequenos tamanduás só ocorriam na Floresta Amazônica. Estudos genéticos indicam que os indivíduos do Delta do Parnaíba estão separados há 2 milhões de anos daqueles que vivem na Amazônia. Desde estão, evoluem separados pela formação do delta e da Caatinga, que separou a Mata Atlântica da Amazônia há milhões de anos”, explica a médica veterinária Flávia Miranda, coordenadora do Instituto Tamanduá e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN).

O Delta: berçário da vida marinha

O Delta do Parnaíba tem mais de 80 ilhas em uma área de quase 3 mil Km2. A área de manguezais é considerada berçário da vida marinha e habitat para diversas espécies, como o peixe-boi, o guará e peixes de valor comercial. Apesar de ainda pouco conhecida, a região já é considerada vulnerável.

Tamanduaí, a menor espécie de tamanduá do mundo, é símbolo de conservação do manguezal nordestino
Trecho do Delta do Parnaíba
Foto: Chico Rasta Melandeiras/MTur

Os principais problemas são o turismo predatório, a presença de animais domésticos em áreas de manguezal e o interesse por usinas eólicas.

“Como toda região de conexão marinha, os manguezais enfrentam os desafios globais do oceano, como o aquecimento das águas, a acidificação, o excesso de plástico, entre outras ameaças”, afirma Miranda.

Por isso, os pesquisadores têm procurado criar soluções em conjunto com a população local.

“Conseguimos cercar algumas áreas de manguezal para evitar a entrada de animais domésticos, facilitando a regeneração natural do ecossistema, e já restauramos quase 2 hectares com vegetação nativa. Pode não parecer uma área tão significativa para o tamanho do Delta do Parnaíba, mas o reflorestamento de manguezais é uma tarefa bastante desafiadora. Também estamos buscando alternativas econômicas e sustentáveis para a população local, como o desenvolvimento do turismo de base comunitária”, relata Miranda.

“Também realizamos, pela primeira, vez a coleta de sêmen dessa espécie”, destaca a médica veterinária. “Agora, temos a possibilidade de fazer pesquisa reprodutiva monitorada, contribuindo para evitar a extinção e, se necessário, promover a reintrodução dos animais no habitat natural”, acrescenta.

Outra ação importante para a proteção do tamanduaí foi o início do processo de criação de uma unidade de conservação da Resex Casa Velha do Saquinho, no limite territorial da Resex Marinha do Delta do Parnaíba.

Este texto foi originalmente publicado no site da Agência Brasil em 21/8/2024
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