Restaurar área degradada de TIs com agrofloresta poderia gerar R$153,3 bilhões, diz estudo

Remoção de carbono anual das terras indígenas, com regeneração e agroflorestas, seria equivalente a mais de seis vezes a poluição de gases estufa gerada pela cidade de São Paulo no mesmo período

Restaurar área degradada de TIs com agrofloresta poderia gerar R$153,3 bilhões, diz estudo — Foto: Getty Images

Regenerar as porções degradadas das Terras Indígenas (TIs) brasileiras com sistemas agroflorestais (SAFs) poderia gerar uma receita de R$ 153 bilhões em produtos agrícolas como frutas e legumes, afirma estudo do Instituto Escolhas publicado esta semana.

A pesquisa estima em 1,3 milhão de hectares a área de TI que, após ser invadida e prejudicada por atividades como o garimpo e a extração de madeira, não teria condições de se regenerar sozinha. O total de área degradada em áreas indígenas é de 2,4 milhões de hectares.

As TIs do Brasil ocupam pouco mais de 118 milhões de hectares e abrigam as áreas de florestas mais preservadas do país. De 1985 a 2023, estes territórios perderam menos de 1% de sua vegetação nativa, enquanto em terras privadas foram 28% de “encolhimento” das áreas naturais, apontam dados recentes da plataforma MapBiomas.

Segundo a pesquisa, a Amazônia é o bioma que se destaca pelo alto potencial de regeneração natural, abrigando 82% de toda a área com essa característica entre as terras degradadas no território brasileiro.

No Cerrado, por exemplo, a situação se inverte: 96% das áreas que podem ser restauradas em TIs nesse bioma (ou 650 mil hectares) apresentam baixo potencial de regeneração natural da vegetação, e portanto necessitam de intervenção humana, gerando custos maiores.

Segundo cálculos do instituto, a adoção de sistemas agroflorestais com foco na produção de alimentos exigiria um investimento de R$ 27,7 bilhões que gerariam R$ 153,3 bilhões de receita líquida.

Potencial de 10 toneladas em alimentos por ano

Na mesma área das TIs considerada pelo estudo, o potencial de produção de alimentos é de 317,8 milhões de toneladas ao longo de 30 anos, sendo 88% espécies perenes, como frutos in natura, polpa de frutas, amêndoas, sementes e palmitos. Apenas 12% da produção dos SAFs, ou 38 milhões de toneladas, teriam origem em culturas anuais como milho, feijão e mandioca.

“Nesse contexto, a produção média de alimentos será de 248,2 toneladas por hectare em 30 anos”, detalha a pesquisa.

Crédito de carbono

A regeneração de áreas degradadas nas TIs tem potencial também de geração de créditos de carbono. O levantamento do Instituto Escolhas afirma que, caso toda a área disponível para a recuperação nas TIs do país seja de fato recuperada, seriam removidas 798,8 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera em até 30 anos.

A remoção de carbono anual das TIs, com regeneração e agroflorestas, seria equivalente a mais de seis vezes a poluição de gases estufa gerada pela cidade de São Paulo no mesmo período.