Prefeituras que recusaram programa federal antidesmatamento são comandadas por fazendeiros

Dos 22 municípios prioritários que optaram por não aderir à nova iniciativa do governo federal contra o desmatamento ilegal na Amazônia, 14 têm prefeitos fazendeiros.

O agronegócio que comanda alguns dos municípios com os piores índices de desmatamento da Amazônia parece não se interessar muito na mais recente iniciativa do governo federal para conter a devastação florestal. O Brasil de Fato destacou que, dos 70 municípios prioritários para o projeto, 22 optaram por não aderir à iniciativa. Desses, 14 são governados atualmente por fazendeiros, muitos candidatos à reeleição deste domingo (6/10).

Lançado em abril passado, o programa “União com Municípios pela Redução do Desmatamento e Incêndios Florestais na Amazônia” pretende destinar R$ 730 milhões para a promoção do desenvolvimento sustentável e combate ao desmatamento e às queimadas nos 70 municípios com os piores índices de desmate em 2022. O repasse desses recursos está condicionado à redução das taxas de desmatamento e fogo, privilegiando os municípios que conseguirem as reduções mais significativas.

Todas as prefeituras dos municípios prioritários foram convidadas, mas 22 decidiram não aderir à iniciativa. Dessas, 14 têm fazendeiros e pecuaristas como prefeitos, a maior parte (sete) no estado do Mato Grosso. O Pará também está na lista, com quatro municípios que se colocaram fora do programa.

Apenas três prefeituras explicaram as razões para essa decisão, todas citando falta de equipe técnica para apoiar a implementação da iniciativa. No entanto, o próprio programa prevê um valor inicial de R$ 500 mil para aquisição de equipamentos e serviços para estruturação de escritórios de governança que melhorem a gestão ambiental.

O desinteresse dos prefeitos-fazendeiros pela questão ambiental está em linha com o que é visto em vários municípios no Brasil, inclusive nas capitais. Como o Climômetro da Agência Pública mostra, os candidatos até reconhecem a importância do tema, especialmente pela ótica dos impactos das mudanças climáticas, mas dão respostas limitadas sobre o assunto.

“Pensando que as eleições são também um momento pedagógico politicamente, caberia aos candidatos que eles colocassem isso de maneira expressa e passassem a interpretar as demandas que chegam para eles a partir da crise climática. Mas não é o que vem ocorrendo na maioria das capitais”, observou Rodrigo Iacovini, diretor do Instituto Pólis.

A Associação Brasileira de Municípios (ABM) reiterou a necessidade dos candidatos às prefeituras de colocar a questão climática dentro de seus planos de gestão. “É importante que candidatos e posteriormente prefeitos eleitos tenham consciência de que o município tem papel central na contenção da crise climática”, comentou Eduardo Tadeu, diretor-executivo da ABM, ao site ((o)) eco.

Em tempo: A Polícia Federal está apurando o envolvimento do garimpo ilegal no financiamento de várias candidaturas no sul do Pará. Um servidor do município de Redenção foi preso acusado de encabeçar o esquema de distribuição de dinheiro advindo do garimpo na Terra Indígena Kayapó. Um dos candidatos suspeitos de receber dinheiro do garimpo é Rener de Santana Miranda (PRD), “Dr. Rener”, que concorre à prefeitura do município com apoio do PL do ex-presidente Jair Bolsonaro. A notícia é da Repórter Brasil.