Bertolonia duasbocaensis. Foto: Renato Goldenberg
Parte de sua área de ocorrência situa-se em áreas florestais desprotegidas do Espírito Santo.O Brasil é reconhecido pela riqueza de sua flora. São quase 50 mil espécies já identificadas e o número não para de crescer. Duas novas plantas da família Melastomataceae (a mesma das quaresmeiras e manacás-da-serra), foram descobertas recentemente no Espírito Santo: Bertolonia duasbocaensis e Bertolonia macrocalyx. Mesmo recém-descritas, ambas estão criticamente ameaçadas de extinção, se considerados os critérios da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN). Apesar de serem espécies com necessidades específicas, o pesquisador responsável conta que algumas unidades foram encontradas fora de áreas de conservação.
O trabalho de identificação e classificação das plantas é tão complexo e longo quanto o nome do projeto do qual faz parte: “Diversidade da flora vascular e status de conservação das espécies endêmicas em três unidades de conservação da Floresta Atlântica Montana no estado do Espírito Santo”. Este é mais um dos quase 1.500 projetos financiados pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Desde que foi criada, em 1991, a Fundação já contribuiu com a descoberta de mais de 50 espécies de vegetais, por meio deste tipo de apoio.
Renato Goldenberg, pesquisador responsável pela descoberta e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), afirma que as espécies foram encontradas em 2009, mas só agora puderam ser descritas. “A partir de então, tivemos que comparar essas duas plantas com as outras espécies já identificadas do gênero Bertolonia, cerca de 15, para termos certeza de que eram novas. Tivemos que acessar materiais de outros herbários, inclusive de fora do Brasil”. A publicação do artigo com as informações confirmadas sobre as plantas aconteceu em novembro de 2016, no PeerJ, publicação online especializada em ciências biológicas e médicas.
Tanto a Bertolonia duasbocaensis (cujo nome remete à Reserva de Duas Bocas) quanto a Bertolonia macrocalyx, são tão desconhecidas que não têm nomes populares. “Essas plantas são pequenas, com folhas de formato arredondado e um fruto triangular”, descreve Goldenberg. O professor ressalta que elas precisam de condições específicas para sobreviver, como locais muito úmidos em barrancos e fundos de grotões – cavidades formadas em relevos desnivelados –, sempre sob cobertura florestal densa.
Bertolonia macrocalyx. Foto: Cláudio N Fraga
“Se a floresta não estiver bem preservada, essas são as primeiras plantas que desaparecem”, destaca o pesquisador. “Alguns exemplares foram encontrados na Reserva Ecológica de Duas Bocas, em Cariacica, que é uma área protegida. Porém, outras estavam em regiões alteradas nos arredores da reserva, e isso é incrível”, exclama. Goldenberg comenta que a Mata Atlântica no Espírito Santo já foi severamente agredida e acredita que outras plantas tenham desaparecido antes de serem descobertas na região.
Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, destaca a importância de projetos como esse. “Conhecer as diferentes espécies da flora do nosso país é o primeiro passo para conservá-las. Esse tipo de descoberta nos mostra o quanto a nossa biodiversidade é rica e o quão importante é investir no meio científico”, conclui.
Fonte: EcoDebate
SOS Mata Atlântica contabiliza apoio
a mais de 500 unidades de conservação
O apoio à criação, à gestão e ao fortalecimento das Unidades de Conservação (UCs) é um dos principais vetores de atuação da Fundação SOS Mata Atlântica, integrando as suas três frentes – Florestas, Mar e Cidades – e a mobilização por políticas públicas mais adequadas.
As UCs são espaços territoriais com características naturais relevantes, legalmente instituídas pelo poder público, com objetivos de preservação/conservação da natureza e limites definidos. São estratégicas para a conservação e sustentabilidade e desempenham um papel muito importante para a proteção à biodiversidade e o provimento de serviços ambientais essenciais para os seres humanos.
As Unidades de Conservação (UCs) são áreas que protegem recursos fundamentais para a economia e para a qualidade de vida da sociedade brasileira e, por isso, são protegidas por lei e devem receber o cuidado de todos. No Brasil existem 12 categorias de UCs, que são criadas por finalidades diferentes, e vão desde o incentivo à pesquisa, à conservação de espécies, de água e de paisagens, até o uso sustentável de recursos naturais. Muitas delas e, em especial, os parques, permitem também a visitação e são ícones do turismo no nosso país– dois exemplos são os famosos Parque Nacional da Tijuca, no coração do Rio de Janeiro, e o Parque Nacional do Iguaçu, em Foz do Iguaçu, no Paraná (Marcia Hirota, diretora-executiva da Fundação SOS Mata Atlântica).
Em seus 30 anos de atuação, a Fundação SOS Mata Atlântica já contabiliza o apoio a 501 UCs públicas e privadas – as Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) – na Mata Atlântica e regiões costeiro-marinhas, totalizando mais 4 milhões de hectares.