Defender o meio ambiente é uma missão arriscada na América Latina. Ameaças e assassinatos muitas vezes sequer são registrados. Por isso um grupo de 30 jornalistas, fotógrafos e videomakers de sete países da região — Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guatemala, México e Peru — criou um banco de dados, em um investimento de cinco meses, detalhando quase 1.400 episódios de violência registrados nos últimos dez anos contra líderes ambientais e suas comunidade. Destes, apenas 50 (3,68%) tiveram sentenças judiciais. A maioria dos casos (quase 56%) se deu no Brasil.
O projeto batizado de “Terra de resistentes” foi conduzido pelo colombiano Consejo de Redacción e pela alemã DW Akademi, e teve o apoio de dez parceiros, entre eles o diário “El Tiempo”, de Bogotá, que faz parte, como O GLOBO, do Grupo de Diários América (GDA).
‘Pessoas caçadas’
Ambientalistas da região atribuem a violência à falta de apoio institucional a comunidades rurais. Editor do site InfoAmazonia, Gustavo Faleiros destaca que os principais alvos de violência na defesa do meio ambiente na América Latina são indígenas e quilombolas, fragilizados pela falta de clareza institucional sobre a gestão de bens naturais.
Sangue no Verde
Defensores pagam preço alto por defender meio ambiente
— São pessoas caçadas, expulsas de suas casas, porque a posse de sua terra não é reconhecida — lamenta o jornalista, que integrou a equipe responsável pelo levantamento. — A crise econômica acirrou a corrida pelo ouro e o tráfico de minerais. Além disso, vimos que o conflito fundiário tem relação direta com o desmatamento.
Chama a atenção o número de assassinatos (375) e os de casos de violência sem informação ou investigação (1.027). Na semana passada, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Rio Maria (PA), Carlos Cabral, foi morto a tiros. Dois de seus antecessores também foram assassinados. Mas os casos de violência relacionados ao meio ambiente no Brasil não se restringem à região amazônica. Em 2017, seis quilombolas foram assassinados na comunidade de Iuna, em Lençóis (BA).
— E a violência também se manifesta por tentativas de criminalização e ameaças — diz o professor Felipe Milanez, da UFBA, colaborador de relatórios internacionais sobre conflitos no campo. — Negros e indígenas são sim a maioria das vítimas, uma herança da escravidão. E nem todos têm recurso para viverem no exílio
Os relatos de violência reunidos pelo “Terra de resistentes” estão aqui.