Pesquisa FAPESP de abril destaca efeitos do aquecimento global no Brasil

Surge na divisa da Bahia com Pernambuco a primeira zona árida do país; aceleração do ciclo da água e aumento da evapotranspiração podem gerar tanto chuvas concentradas como secas prolongadas, informa reportagem de capa

A maior parte do território nacional está ficando menos úmida, com exceção da região Sul e de setores litorâneos do Sudeste (ilustração: Pesquisa FAPESP)

Surge na divisa da Bahia com Pernambuco a primeira zona árida do país; aceleração do ciclo da água e aumento da evapotranspiração podem gerar tanto chuvas concentradas como secas prolongadas, informa reportagem de capa

Agência FAPESP – O aquecimento global faz surgir a primeira zona árida de um Brasil cada vez mais seco, relata a reportagem de capa de Pesquisa FAPESP em abril. A região se localiza no centro-norte da Bahia, na divisa com Pernambuco. Seu território equivale a quase quatro vezes o da cidade de São Paulo. Segundo nota técnica divulgada em novembro pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a maior parte do território nacional, com exceção da região Sul e de setores litorâneos do Sudeste, está ficando menos úmida.

Outros efeitos do aquecimento global são a aceleração do ciclo da água e o aumento da evapotranspiração, o que pode gerar tanto chuvas concentradas como secas prolongadas.

A edição também apresenta dados divulgados na revista Nature Communications por pesquisadores do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGc-USP). Ao analisar a composição química de duas formações rochosas compridas e de superfície arredondada (estalagmites) encontradas no piso da Caverna da Onça, no vale do Peruaçu, um tributário do rio São Francisco, o grupo concluiu que o norte de Minas Gerais enfrenta atualmente sua época mais seca dos últimos 720 anos.

O avanço da obesidade no mundo nas últimas três décadas, que foi analisado em estudo publicado em março na revista The Lancet, é outro tema em destaque. O dado mais alarmante da pesquisa é que, hoje, há no mundo 1,04 bilhão de pessoas com obesidade. Isso significa que um em cada oito habitantes do planeta (12,5% da humanidade) está com o peso muito acima do considerado saudável. Por esse motivo, essa parcela da população corre um risco mais elevado do que os demais indivíduos de desenvolver diabetes, doenças cardiovasculares, algumas formas de câncer e morrer precocemente. De 1990 a 2022, a população mundial cresceu 51% e passou de 5,3 bilhões para 8 bilhões de pessoas. No mesmo período, o total de indivíduos com obesidade aumentou 360%: passou de 221 milhões para os atuais 1,04 bilhão – destes, 159 milhões são crianças e adolescentes.

O entrevistado do mês é o ginecologista Luis Bahamondes, que atua no Centro de Pesquisas em Saúde Reprodutiva de Campinas (Cemicamp), vinculado à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ele fala sobre a importância do acesso a métodos anticoncepcionais eficazes para o planejamento familiar, do corporativismo médico e das tentativas de chamar a atenção de gestores para os estudos com impacto em saúde pública.

A edição traz ainda reportagens sobre a ameaça à biodiversidade causada por plantas e animais exóticos; um filme perdido da década de 1920 sobre a Amazônia recentemente encontrado na República Tcheca; e o aumento na frequência de transtornos mentais entre o final da infância e o início da adolescência.