Aos 73 anos, José Aparecido Macedo se dedica há mais de três décadas a um trabalho fundamental para o meio ambiente: a restauração de nascentes e áreas degradadas. Ele já plantou mais de um milhão de mudas em iniciativas que incluem pequenas comunidades até projetos globais. Sua história foi contada no progrma Domingão do Luciano Huck, na TV Globo (assista AQUI).
Tenho 73 anos, eu estou plantando para as gerações futuras. Se fosse por mim, já teria parado.
Nascido em Lucélia (SP), José Aparecido se mudou em 1983 para Reserva do Cabaçal, onde comprou uma terra para dar início a um sítio. Foi ali que percebeu os impactos do desmatamento e da degradação ambiental, especialmente nas nascentes próximas.
“Eu via o desmatamento, pessoas passando com tratores em cima das nascentes, abrindo caminhos que causavam erosão. Aquilo me incomodava muito. Então, com pouco conhecimento na época, comecei a tentar recuperar algumas nascentes sozinho. Eu sentia que precisava fazer alguma coisa”.
Ele então buscou parcerias e começou a envolver a comunidade em projetos educativos. “Eu ia até as escolas para falar sobre educação ambiental. Fazíamos tanto atividades teóricas quanto práticas. Criamos o projeto ‘Sementinha’, e tive a oportunidade de apresentar esse trabalho em Cuiabá.”
No início, José Aparecido trabalhava sozinho, mas sua determinação o levou a unir esforços com escolas, Ongs e órgãos ambientais. Em 2009, a chegada da WWF Brasil ao município impulsionou suas iniciativas. Foi criado então o “Movimento Pelas Águas do Rio Cabaçal”, que consolidou o trabalho de recuperação de nascentes, transformando a região em um exemplo de conservação ambiental.
A paixão pela causa ambiental e a busca por conhecimento levou José a ingressar na faculdade aos 50 anos, formando-se aos 54 em Biologia. “Eu precisava aprender mais e continuo estudando; estou fazendo o curso de mestrado ProfÁgua e, enquanto tiver saúde, quero aprender e trabalhar.
Com isso, passou a aliar práticas sustentáveis a fundamentos acadêmicos. Sua dedicação gerou resultados impressionantes, como a restauração de mais de 120 nascentes e a criação de viveiros com milhares de mudas, que abastecem projetos locais e regionais.
Mas nunca contou com recursos governamentais para seu trabalho. “Sempre foi tudo voluntário. Às vezes, conseguia ajuda da Prefeitura, mas o grosso do trabalho era por conta própria e de voluntários que apoiam a causa.
José também participou da criação de comitês de bacia hidrográfica para o Rio Cabaçal e o Rio Jauru, iniciativas que buscam gerir os recursos hídricos de forma sustentável.
“Me sinto realizado porque meu trabalho não é para mim, mas para as futuras gerações. O que me motiva é saber que jovens que trabalharam comigo hoje continuam levando essa missão adiante”, afirma.
“Eu acredito que é possível amenizar as mudanças climáticas por meio da recuperação ambiental. Cada pessoa pode fazer sua parte.”
O trabalho incansável de José chamou a atenção de grandes nomes, como Luciano Huck. A história ganhou destaque nacional e internacional quando José foi convidado a participar de gravações em Tuvalu, um país que sofre diretamente com os impactos das mudanças climáticas, onde aumento do nível dos mares está engolindo a sua costa. “Nunca pensei que meu trabalho chegaria tão longe, mas ver o reconhecimento em vida é uma felicidade enorme”, diz.
“Tudo começou quando um jornalista esteve aqui e publicou sobre as mudas que eu já havia plantado. O Luciano Huck ouviu falar disso, mandou uma equipe para checar e, depois, veio pessoalmente. Ele chegou na minha casa enquanto eu trabalhava na roça montando caixas de abelha”.
Ele descreve a experiência de gravar para o programa com entusiasmo. “Ele me pegou de surpresa, não sabia que iria vir”, foi uma experiência gratificante.
Parcerias com instituições como o Instituto Gaia e o WWF Brasil são cruciais para a continuidade de seus projetos. Atualmente, José lidera um projeto agroflorestal, que integra espécies nativas e frutíferas para restaurar áreas degradadas e, ao mesmo tempo, oferecer alternativas econômicas sustentáveis para pequenos produtores.
Hoje, ele planta em média 300 mudas por dia e atualmente está focado na implementação de sistemas agroflorestais. “Estou com um viveiro de 30 mil mudas que serão plantadas em propriedades próximas a Cáceres. A ideia é integrar espécies nativas com frutíferas, atraindo animais e gerando alimentos para os pequenos produtores. Esse é o futuro, ajudar quem não tem condições econômicas de restaurar as áreas degradadas”.
Apesar de todos os desafios, ele mantém uma visão otimista: “Acredito que é possível amenizar as mudanças climáticas por meio da recuperação ambiental. Cada pessoa pode fazer sua parte, plantar um pouco e pensar no coletivo”,
Para José Aparecido, o trabalho não tem prazo para terminar. “Enquanto eu tiver saúde, continuarei plantando. Não sei até onde vou, mas sei que é meu dever contribuir para deixar um planeta melhor”, finaliza.
“Eu não faço isso pensando em mim. Estou plantando para as gerações futuras. Se fosse por mim, já teria parado. Tenho 73 anos e sei que o tempo vai trazer limitações. Mas enquanto eu tiver saúde, vou continuar”.
Ele acredita que os jovens são fundamentais para a continuidade desse trabalho. “Eu vejo alunos meus, que plantaram mudas comigo, hoje professores, doutores. Isso é muito gratificante. Saber que você pode inspirar outras pessoas é o maior legado que posso deixar.”
José Aparecido também faz um apelo às autoridades e à sociedade. “Se cada um plantar um pouco e reduzir a poluição, ainda há esperança para o planeta. É preciso cuidar das nascentes, garantir água de qualidade e proteger o clima. Sem isso, não teremos futuro.”
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