Você já ouviu falar sobre empregos verdes? A expressão, derivada do inglês “Green Works”, está no centro das transformações necessárias para enfrentar o novo mundo no qual vivemos, aquele onde as mudanças climáticas já fazem parte do dia a dia.
Os trabalhos verdes envolvem a criação e implementação de soluções para problemas ambientais e sociais, além de alinhar desenvolvimento econômico com a proteção da biodiversidade e a justiça social, onde a avanço do mercado deve estar alinhado com as demandas de sustentabilidade, promovendo uma transição para uma economia mais limpa e sustentável.
Esse modelo de trabalho está crescendo em relevância, impulsionado pela urgência de soluções concretas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e outros problemas ambientais. Relatório do Linkedin mostra que a demanda global por ‘talentos verdes’ aumentou 11,6% entre 2023 e 2024. Apesar de, a princípio, parecer que os empregos verdes precisam estar alinhados às áreas de ciências e pesquisa, a verdade é que todos os trabalhos podem, um dia, demandar conhecimento sobre ecologia e habilidades para navegar por uma Terra em crise.
Em números gerais, os empregos verdes aumentaram de 13,7 milhões em 2022 para 16,2 milhões em 2023, segundo o estudo Renewable Energy and Jobs – Annual Review 2024, da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT). O crescimento reflete a expansão da capacidade de geração de energia renovável e da fabricação de equipamentos.
A China lidera com mais de 7 milhões de empregos verdes, representando 46% do total global. A maior parte desses empregos (quase 4,6 milhões) está no setor solar, além de ser dominante nas áreas de energia eólica e hidrelétrica. Na sequência aparece a União Europeia, com 1,81 milhão de empregos. Os países do bloco estão entre os maiores instaladores de energia limpa, mas a capacidade de fabricar equipamentos para o mercado interno varia consideravelmente. O emprego no setor solar, em particular, tem aumentado, com a UE alcançando um recorde de instalações em 2023, quase dobrando o ritmo de 2021.
No Brasil, os empregos em energia renovável, que totalizavam 1,57 milhões em 2023, estão distribuídos entre biocombustíveis, energia solar e hidrelétrica. O setor de hidrelétricas é o maior, mas menos dinâmico que a solar e a eólica, além de ser menos intensivo em mão-de-obra que os biocombustíveis (somos o terceiro maior produtor mundial de biocombustíveis, atrás da Indonésia e dos EUA). Em quarto lugar, aparecem os EUA, que importam cerca de três vezes mais produtos e serviços de energia renovável do que exportam, segundo a IRENA. A maioria dos empregos verdes no país está nos setores de biocombustíveis, energia eólica terrestre e solar fotovoltaica.
Capacitação
As empresas e instituições de ensino estão atentas a essas mudanças, dando mais destaque ao papel da educação para a sustentabilidade. Isso envolve esforços para integrar práticas e conhecimentos ligados ao tema na formação e capacitação de uma nova geração de estudantes para atuar de forma consciente e inovadora no enfrentamento das questões climáticas e socioambientais.
De acordo com Estefanía Pihen González, chefe de Educação e Aprendizagem e Reitora de Educação na California Academy of Sciences, os empregos verdes devem incluir um pouco de conhecimento de tudo, inclusive ciências sociais, artes e direito. “A diversidade de opiniões e carreiras é o que vai nos ajudar a criar soluções inovadoras para problemas complexos como a mudança climática”, disse González em entrevista ao Um Só Planeta.
Líder de uma instituição que funciona tanto como museu e quanto como instituição de pesquisa, González vê na educação um caminho para o crescimento de oportunidades verdes, mencionando também empregos azuis, que assim como os verdes, tratam da relação entre economia e sustentabilidade do ponto de vista da preservação de oceanos, mares e rios.
“A educação transformadora adiciona dois componentes: entender o que está acontecendo no contexto de justiça social e ambiental, e proporcionar oportunidades para agir. Nossa meta é que informações e habilidades fornecidas se transformem em hábitos sustentáveis e alinhados com valores”, diz.
González ressalta que é importante formar a sociedade para pensar em soluções. “Estamos iniciando um programa piloto de formação para os professores poderem levar a educação transformadora, que eu também chamo de ‘aprendizagem voltada para soluções’, para suas salas de aula. O objetivo é verificar como os professores aplicam esses conceitos quando já não estamos lá para dar suporte direto”, diz.
Conforme a pesquisa State of Science Insights de 2024, 75% das pessoas acreditam que os Green Jobs podem ter um impacto importante na sociedade nos próximos 5 anos. Esse dado destaca a necessidade de fortalecer iniciativas que estimulem o crescimento e a capacitação de profissionais em carreiras verdes, ampliando o acesso às soluções sustentáveis.
No Brasil, por exemplo, iniciativas como o Earthworm Foundation por Dov Rosenmann têm conectado empresas a projetos sociais voltados para a área ambiental. Esse tipo de abordagem colaborativa exemplifica como os trabalhos verdes podem gerar impacto positivo ao unir diferentes setores em prol de objetivos comuns, como o consumo responsável e a adoção de tecnologias limpas.
Rosenmann alerta que os trabalhos verdes são importantes para a que a sociedade mude valores e comportamentos, uma vez que apesar de entender urgências, isso ainda não reflete nas decisões e ações tomadas.
“Coragem é essencial. Precisamos agir, e agir rápido. A transição para uma economia verde e azul exige políticas públicas que incentivem empresas a adotar práticas sustentáveis e criar empregos nesses setores. Mas, acima de tudo, precisamos de uma mudança de mentalidade para priorizar o bem coletivo e garantir que essas oportunidades estejam disponíveis para todos”, diz.
Ele ressalta que alguns países estão mais avançados na abertura de vagas que pensam em sustentabilidade, porém a sociedade ainda não tem se qualificado para essas posições. Na Califórnia, explica Rosenmann, a velocidade de crescimento da economia verde e azul é nove vezes maior do que a da economia tradicional.
“Isso significa que essas empresas têm muitas vagas abertas, mas não há jovens entrando nessas áreas para se tornarem os profissionais necessários para preencher essas lacunas. Precisamos preparar as pessoas para essa nova realidade por meio de educação e capacitação específicas”, disse.
Tanto Estefánia quanto Rosenmann são protagonistas do documentário “Green Works”, lançado pela 3M em parceria com a Generous Films, que explora essas temáticas. Dirigido pelo colombiano Julio Palacio, o filme apresenta outras três histórias inspiradoras de profissionais que estão liderando transformações em diversos países, destacando soluções inovadoras e comunitárias no âmbito da economia verde.
Esses empregos têm o potencial de transformar não apenas a economia, mas também a relação da sociedade com a natureza, promovendo a harmonização entre desenvolvimento humano e preservação ambiental. Para muitos, os empregos verdes são uma chance de construir um futuro mais equilibrado e resiliente, seja por meio da educação, de parcerias empresariais ou da adoção de tecnologias sustentáveis.