Microplásticos – fragmentos minúsculos de plástico – têm sido encontrados em diversos órgãos do corpo humano. E um estudo realizado na Itália investigou os impactos na saúde causados por microplásticos encontrados em artérias de pacientes que tinham passado por procedimentos de desobstrução.
Para quem tem pressa:
- Um estudo italiano apontou a relação entre a presença de microplásticos em artérias entupidas e o aumento no risco de eventos cardiovasculares, como derrames e ataques cardíacos (não fatais);
- Pesquisadores detectaram fragmentos de polietileno e cloreto de polivinila (PVC) em tecidos de pacientes, o que levantou preocupações sobre os impactos na saúde. A presença desses materiais, usados em diversos produtos, já foi associada a inflamação e estresse oxidativo nas células, por exemplo;
- O estudo empregou técnicas avançadas, como pirólise-cromatografia gasosa-espectrometria de massa, para quantificar microplásticos e nanoplásticos, além de microscopia para observar visualmente as partículas dentro de células imunes e em placas de gordura;
- Embora o estudo apresente limitações, como sua natureza observacional, os resultados servem de chamado para mais pesquisas sobre a ligação entre microplásticos, nanoplásticos e doenças cardiovasculares.
Os resultados do estudo indicam que pacientes com microplásticos em suas placas arteriais tiveram probabilidade duas vezes maior de sofrer derrames, ataques cardíacos não fatais ou morrer por qualquer causa em comparação com aqueles sem microplásticos detectáveis. Esta descoberta sugere uma associação preocupante entre a presença de microplásticos no corpo e o aumento do risco de eventos cardiovasculares adversos.
Microplásticos nas artérias
A remoção de placas gordurosas de artérias reduz o risco de futuros derrames. A equipe por trás deste novo estudo, liderada por Raffaele Marfella, pesquisador médico na Universidade de Campânia em Nápoles, perguntou-se como o risco de derrame – bem como ataques cardíacos e morte – se comparava entre pacientes que tinham microplásticos em suas placas e aqueles que não tinham.
A pesquisa acompanhou 257 pacientes por 34 meses (quase três anos). Os cientistas encontraram fragmentos de polietileno em quase 60% das amostras examinadas. E 12% dos pacientes apresentaram também cloreto de polivinila (PVC) em seus tecidos.
O PVC e o polietileno são plásticos comumente utilizados na fabricação de diversos produtos, desde tubulações de água até embalagens e sacolinhas. A presença desses materiais em tecidos humanos levanta preocupações significativas sobre os impactos na saúde, especialmente considerando estudos anteriores que sugerem a capacidade dos microplásticos de induzir inflamação e estresse oxidativo em células do coração.
A quantificação dos microplásticos e nanoplásticos nas amostras foi realizada por meio de técnicas avançadas de análise – entre elas: pirólise-cromatografia gasosa-espectrometria de massa e análise de isótopos estáveis. A presença destas partículas foi confirmada visualmente por meio de microscopia, onde fragmentos de plástico foram observados dentro de células imunes e nas placas de gordura, acompanhados por níveis elevados de marcadores inflamatórios.
Ressalvas da pesquisa
Apesar dos resultados alarmantes, é importante notar que o estudo possui limitações. Por ser observacional, ele não pode estabelecer uma relação causal direta entre a presença de microplásticos e os efeitos adversos na saúde cardiovascular. Fatores de risco adicionais para doenças cardíacas, como tabagismo e poluição do ar, não foram considerados no estudo.
Publicado no periódico New England Journal of Medicine, este estudo destaca a importância de pesquisas adicionais para elucidar a ligação entre microplásticos, nanoplásticos e doenças cardiovasculares. À medida que a produção de plásticos continua a crescer, entender os impactos desses materiais na saúde humana torna-se cada vez mais crucial.