‘No caminho certo’, comemora pesquisadora indígena de SC premiada pela Sociedade de Arqueologia Brasileira

Nascida e professora na terra indígena Laklãnõ Xokleng, Waldares Coctá Priprá tornou-se a primeira indígena no país a defender um título de pós-graduação na área de arqueologia.

A pesquisadora Laklãnõ Xokleng Walderes Coctá Priprá conquistou o Prêmio de Excelência em Mestrado 2021, concedido pela Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB).

A distinção reconheceu a originalidade e a excelência de pesquisas acadêmicas sobre temas relativos à arqueologia no Brasil. Walderes defendeu sua dissertação na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em julho de 2021. Ela foi a primeira indígena a defender um título de pós-graduação na área de arqueologia no país.

A pesquisa, segundo ela, teve o objetivo de registrar os lugares que ficaram na memória do povo Laklãnõ Xokleng por meio de fotos, entrevistas com os anciãos e sábios, visitas aos locais de acampamentos e cemitérios antigos do povo.

“Ter esse reconhecimento só mostra que estou no caminho certo, mas, como sempre falo, o crédito todo é para todos os anciões, sábios e muitos da comunidade, que sempre me ajudaram e incentivaram a seguir com a pesquisa”, afirma Waldares.

No estudo, foram mapeados os locais de memória, os acampamentos mais antigos e também aqueles que surgiram logo após o contato com não-indígenas, ocorrido em 1914, momento conhecido como “pacificação”.

Atualmente, o povo Laklãnõ Xokleng encontra-se em sua maioria em Santa Catarina, no Vale do Rio Itajaí, cercado pelos municípios José Boiteux, Doutor Pedrinho, Vitor Meireles e Itaiópolis, locais onde a pesquisa foi realizada.

“É um marco muito importante para a história do meu povo, pois, nesse momento, muitas pessoas passaram a conhecer o povo Laklãnõ/Xokleng através deste trabalho. Meu povo é remanescente e sobrevivente de um processo brutal da colonização, tudo em nome do chamado ‘progresso’ que quase nos exterminou”, afirma a pesquisadora.

O resultado foi divulgado durante o XXI Congresso da SAB, que ocorreu de maneira remota de 4 a 8 de novembro.

Pesquisa

Waldares atuou como professora por 12 anos na escola “Vanhecú Patté” dentro da aldeia na terra indígenae ali iniciou as pesquisas sobre as histórias e memórias do seu povo.

“O tema surgiu após várias rodas de conversas com os anciões da minha aldeia”, explica Waldares.

Ela é a segunda indígena a defender uma dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em História (PPGH), mas a primeira a obter a conquista após a implantação da política de ações afirmativas na UFSC.

“Sou pesquisadora e professora dentro da minha comunidade e sempre registrava as rodas de conversas e os eventos dentro da comunidade, então muitas fotos e documentos eu tinha em meus arquivos, outros busquei junto da comunidade. E ter o privilégio de ouvir as histórias narradas, dos locais de memória pelos anciões, foi muito importante para registrar”, conclui.