Mudanças climáticas naturais e antrópicas

Por Arthur Soffiati

Eremotério (Eremotherium laurillardi)

Não se passa de uma Era, Período, Época da noite para o dia. Nem mesmo em tempos históricos pode-se pensar em rápidas transições. A pequena humanidade que existia no Pleistoceno não foi dormir na noite de 31 de dezembro de 11.701 anos antes do presente e acordou no Holoceno em 1 de janeiro de 11.700. O tempo cronológico começou a existir com a origem do Universo, mas os anos, os meses, os dias, as horas, os minutos e segundos são criação humana recente.

De forma arredondada, os geólogos elegeram a data de 11.700 anos antes do presente para marcar a passagem do Pleistoceno para o Holoceno. Houve mudanças climáticas e ecossistêmicas naturais, com a passagem de um clima frio para um clima cálido. Houve também, em alguns grupos humanos, a adaptação aos novos tempos com a agricultura, o pastoreio, a sedentarização, a cerâmica etc. É preciso considerar que a transição foi lenta como toda a transição. Nem mesmo no final do Cretáceo, a colisão de asteroides com a Terra provocou mudanças abruptas.

Um grupo de cientistas formado por Ismar de Souza Carvalho, Fábio Cortes, Hermínio de Araújo Júnior, Celso Ximenes e Edna Facincani acaba de publicar um estudo sobre a extinção da megafauna do Pleistoceno no Brasil. O clima era mais frio. A Amazônia era menor em extensão. Cerrado e Caatinga eram mais extensos e mais úmidos. A fauna era formada por animais como eremotério, toxodonte, notrotério, notiomastodonte, esmilodonte, gliptodonte, macrauquenia, melanosuco etc. Eram grandes mamíferos herbívoros e carnívoros, além de répteis. Havia predadores e predados.

Os grupos humanos que haviam entrado na América pela Ásia antes dos escandinavos e de Colombo espalharam-se pelas Américas do Norte e do Sul, então já ligadas pelo istmo do Panamá. Não havia a mínima noção de que eles seriam “descobertos” e encerrados em países formados pela expansão marítima europeia. Esses povos dividiram-se em culturas próprias por mais aparentadas que fossem pelas origens. Pinturas deixadas por eles em cavernas do Parque Nacional da Serra da Capivara (Piauí), em Bodoquena e Maracaju (Mato Grosso do Sul) e em Terra Ronca (Goiás) revelam que povos pioneiros (e não originários) conviveram com essa fauna constituída por grandes animais e caçaram exemplares dela até por volta de 3.500 anos antes do presente.

Toxodonte (Toxodon platensis)

O eretmotério era uma preguiça gigante. O toxodonte se assemelhava a um rinoceronte. O notroterio era também uma preguiça, mas de menor tamanho. O notiomastodonte era um mastodonte e parente distante do elefante. O smilodon ficou conhecido como tigre-dentes-de- sabre. Depois, entendeu-se não ser parente do tigre. Passou a se chamar apenas dentes-de-sabre. Agora, voltou ao nome original. O gliptodonte se parecia com um imenso tatu. O macrauquênia se parecia com o camelo e com o cavalo. O melanosuco era um imenso crocodilo.

Notrotério (Nothrotherium maquinense)

Por volta de 3.500 anos antes do presente, essas espécies se extinguiram. Outras mais também. A responsabilidade pela extinção não coube aos animais predadores (eles também extintos em grande parte) nem aos grupos humanos. Eles já foram responsabilizados pela extinção. Mas, como viviam numa economia de subsistência, o abate de animais visava tão somente a sobrevivência, não o lucro. Esses animais (e também provavelmente espécies vegetais) extinguiram-se com as mudanças climáticas. O território hoje correspondente à América do Sul e ao Brasil. Essa área nunca foi coberta de gelo, como no hemisfério norte. Era mais fria cerca de 5º C.

Smilodon (Smilodon populator)

As mudanças climáticas foram lentas e progressivas. A Amazônia ganhou espaço, enquanto o Cerrado e a Caatinga foram diminuindo. A temperatura subiu e levou à extinção a diversificada fauna do Pleistoceno na América do Sul. Já existiam antas, onças e lobos-guará. Essas espécies já estavam preparadas para temperaturas mais altas e aguentaram o tranco. A transição foi bastante lenta.

Gliptodonte (Glyptodon clavipes)

Nos últimos 3.500 anos, houve oscilações climáticas. Temperaturas altas e baixas se alternaram, mas não a ponto de configurar profundas mudanças geológicas. Houve também oscilações do nível do mar. A partir de 1850, o clima começou a mudar rapidamente. Temperaturas mais altas, calor, seca do solo, da vegetação, do ar, incêndios, chuvas torrenciais, elevação do nível do mar. Essas mudanças não se devem mais à natureza e sim às ações humanas, principalmente às emissões de combustíveis fósseis à base de carbono, mas também outras substâncias. Nossa visão de mundo é tão egoísta que não abre muita brecha para pensarmos que tais mudanças – agora de origem antrópica – estão provocando desequilíbrio e extinção de ecossistemas como também de espécies vegetais e animais. Os levantamentos feitos em centros de pesquisa mostram a grande taxa de extinção de nosso tempo.