Marielle, as redes e a vida real

Martinho Santafé

enterro de MarielleAs redes sociais sempre foram um espaço livre para o besteirol, incluindo o “fakebook”, e agora não poderia ser diferente. Entre as “teorias” das mais absurdas levantadas sobre o assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson, duas se destacam, embora estejam situadas em campos ideológicos distintos (?).

A primeira, a de que a execução deve-se ao fato de a vereadora do PSOL ter se manifestado contrária à intervenção federal na Segurança do Rio; a segunda, de que seria uma conspiração da própria esquerda para criar um mártir e esvaziar a intervenção.

Bobagens à parte, pois o assunto é gravíssimo, mantenho a percepção inicial de que a execução foi um recado dos milicianos – entre os quais policiais militares e civis na ativa e afastados – dirigido a cidadãos que os combatem há décadas, sejam políticos, lideranças comunitárias, membros do Judiciário e do Ministério Público etc. e, em especial, o deputado Marcelo Freixo. Marielle não oferecia risco tão grande para ser executada, mas era ligada ao parlamentar que, como sabemos – tendo sido, inclusive, personagem do filme “Tropa de Elite 1” -, conhece bem os bastidores sórdidos que envolvem policiais, bandidos e políticos.

Os representantes da sociedade civil carioca têm informações consistentes sobre esses grupos criminosos, mas sempre dependeram de uma força policial confiável e eficaz para poder revelá-las, o que não é o caso da polícia fluminense. Talvez a intervenção federal possa alcançar algum progresso neste aspecto, pois uma de suas metas é justamente “limpar” as polícias.

Este episódio trágico, se fosse ficcional, certamente inspiraria o roteiro de um provável “Tropa de Elite 3”. Mas pode representar o início do fim dessa teia criminosa que domina as favelas do Grande Rio e do interior fluminense, com ramificações em vários poderes.

Confiantes de seu poderio absolutista nas comunidades que dominam, eles foram longe demais e desafiaram o país inteiro. É briga perdida, com certeza!

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PS: Não acredito que a polícia fluminense tenha condições morais, tecnológicas etc. para elucidar estes assassinatos. É preciso que haja uma apuração independente. Do contrário, seria como entregar a guarda do galinheiro às raposas.