Mangue em água doce

Por Arthur Soffiati

Bosque de Rhizophora sp. Em água doce. Ilha de Marajó. Foto do autor

Como leigo, aprendi com especialistas que manguezal é um ecossistema que se desenvolve em águas salobras (mistura de água salgada com doce) em estuários da zona intertropical, em praias de baixa energia e em lagoas de água doce que se comunicam com o mar. Respectivamente, são manguezais estuarinos, de borda ou de franja e de bacia.

Já encontrei manguezal nos lugares mais estranhos, como topo de costão rochoso. Não cabe aqui a discussão de que um manguezal só tem importância quando forma um bosque que promove grande produção primária e ciclagem de nutrientes. Um único exemplar de uma espécie de mangue na boca de um tubo de esgoto numa praia já é motivo para reflexão.

Recebo agora uma reportagem publicada no “G1 – Espirito Santo” com o título “Pesquisadores descobrem manguezal de água doce na Amazônia”, datada de 2022. A expedição que localizou essa raridade diz tratar-se de uma pesquisa inédita. Mas, pelas informações da matéria jornalística, esses manguezais situam-se da zona estuarina do rio Amazonas, que sofre influência direta e indireta das altas marés equatoriais.

A descoberta data de 2022. Sendo assim, reivindico essa novidade. Em 2019, percorrendo a ilha de Marajó, encontrei mangue vermelho (Rhizophora sp.) em água doce que sofre influência de maré sem se tornar salobra.

            Voltando à Amazônia em maio de 2025, deparei com bosques de Avicennia germinans em Macapá e na cidade de Afuá, na ilha de Marajó. Quando a maré sobe, a massa de água salgada empurra a massa de água doce e barra seu fluxo, mas não a penetra. Acontece que propágulos de mangue são transportados por essas marés enviesadas e encontram lugar para se fixar, gerando bosques com árvores de grande porte.

            Não vi novidade nisso e não procurei a imprensa para anunciar a minha descoberta “inédita”, até porque não sou especialista e ninguém me daria atenção. Quando encontro um exemplar ou um bosque de Avicennia, lambo logo suas folhas atrás do sal exsudado, uma das características da espécie. Não percebi nenhuma salinidade nem na água nem na folha nos exemplares de mangue em Macapá e em Afuá. 

Bosque de siribeira (Avicennia germinans) em água doce – Macapá. Foto do autor