Manguinhos é mais conhecido por sua praia e por seu porto. Ali desembarcavam africanos escravizados e traficados para o Brasil depois da proibição do comércio atlântico de negros, em 1850. O principal traficante era o rico fazendeiro André Gonçalves da Graça. As pessoas desembarcavam em Manguinhos. Os mortos eram enterrados na praia. O engenheiro inglês John Hawkshaw examinou o local para a construção de um porto, mas não o aprovou, formulando um projeto para a foz do rio Paraíba do Sul em 1875.
A praia era o ponto de partida para o viajante que pretendia seguir em direção ao Espírito Santo e Salvador ou vinha desses lugares. O caminho atravessava a densa floresta estacional que recobria os tabuleiros e desembocava na famosa fazenda Muribeca, que pertencera aos jesuítas até 1759. Perto do rio Guaxindiba, o córrego de Manguinhos passava despercebido ao viajante. Escondido no meio da selva, ninguém o notava ou o confundia com a infinidade de pequenos cursos d’água que drenavam o território.
Ainda hoje, ele não é devidamente conhecido. Sua pequena bacia foi muito mutilada. A Folha Barra Seca, do levantamento feito pelo IBGE em 1968, ainda a mostra com dois afluentes embrejados em suas cabeceiras. Desembocando no mar, criou-se um pequeno estuário no qual plantas de manguezal podiam se enraizar e crescer.
Em 1999, encontrei nele alguns exemplares de mangue branco (Laguncularia racemosa) em área cercada por uma residência. Esses poucos exemplares caracterizavam uma Área de Preservação Permanente que não podia ser apropriada por particulares.
Todos os pés de mangue branco estavam em situação de estresse. Eles emitiam raízes adventícias anômalas, como no manguezal de Buena. Contudo, a anomalia lá se explicava pelo afogamento das raízes respiratórias (pneumatóforos) devido à estabilização da lâmina d’água. Em Manguinhos, as plantas estavam fora da influência da água doce e salgada. Supus que elas cresceram banhadas pela água doce e pelas marés. Por alguma razão, a água não chegava mais a elas. Um dos motivos supostos era uma barragem em trecho acima do manguezal para formar um lago destinado à recreação. Abaixo, uma estrada municipal com manilhas subdimensionadas impediam a chegada das marés de maneira adequada aos manguezais. A secura do terreno deve ter motivado a reação das plantas.
Tratava-se de examinar as causas mais imediatas, pois as mais remotas já foram por demais analisadas: desmatamento, erosão, assoreamento e represas em todos os cursos d’água. A ponte na estrada municipal foi rompida mais de uma vez pelas chuvas torrenciais. A barragem final para formar uma piscina foi retirada.
Em excursão recente, notou-se que não havia mais plantas de mangue no local. Ou elas morreram ou foram arrancadas. Por outro lado, a foz foi coberta por vegetação de restinga enfezada e espinhosa. Contudo, as condições para que sementes (propágulos) de manguezal aportem no estuário ainda são favoráveis.