Martinho Santafé
Em virtude das repercussões da postagem sobre o Globo Repórter desta semana, acho que devo pontuar algumas coisas nesta discussão. Primeiro, o fato de Macaé ainda ter na atividade petrolífera a sua principal fonte de receita e de renda, não significa menosprezar suas vocações históricas, que são o turismo, a pesca e a agropecuária, arranjos produtivos que podem amenizar os impactos do inevitável esvaziamento do ciclo do petróleo. Este sim, poderoso pelo volume de recursos investidos e lucros obtidos, mas que também embute um discurso ilusório de desenvolvimento que a realidade mostrou ser relativo. Observando com o devido distanciamento crítico, o crescimento econômico esteve sempre mais presente que as tão desejadas melhorias da qualidade de vida para toda a população.
A cidade já começou a repartir a centralização deste ciclo com outras regiões, como o Açu, Vitória, Rio e Santos, algo previsível em se tratando de uma atividade extrativista onde os recursos naturais não renováveis se esgotam depois de algum tempo. Por isso, tem a obrigação de pensar em substitui-lo, inclusive para continuar gerando emprego, renda – incluindo a ocupação de sua excelente rede hoteleira – e, prioritariamente, a qualidade de vida que o petróleo não conseguiu proporcionar de forma simétrica. Quem duvidar, que faça uma visita nas comunidades periféricas.
Também não devemos esquecer o que considero o mais importante legado do ciclo petrolífero: a instalação dos campi de universidades públicas de elevado prestígio, como UFF, UFRJ e a própria instituição local, a Femass, abrigadas na Cidade Universitária, além do IFF, da UENF(Lenep) e do Nupem/UFRJ, considerado um dos melhores centros de estudos e pesquisas em Ecologia e Desenvolvimento Sustentável do país. Devemos considerar que informação e conhecimento são os principais ativos dessa nova ordem econômica global, transformando as relações de trabalho e renda em quase todos os níveis.
Portanto, uma cidade que possui tantas opções – turismo litorâneo e serrano, um arquipélago de beleza deslumbrante a poucos quilômetros da costa, um parque nacional único no país bem ao lado, atividades produtivas renováveis, rede hoteleira de altíssima qualidade, um pólo universitário de excelência, entre outras, além de estar cercada por uma região com riquíssimo patrimônio histórico e natural -, não pode temer o futuro. Más é necessário repensar com olhar crítico o passado recente, admitindo seus erros, valorizando suas virtudes e caminhando com segurança e persistência para o futuro.
Ou seja, “nem oito, nem oitenta”. Quem pensar dessa forma está querendo simplificar uma questão bastante complexa, mas de solução possível. Basta ter vontade e muito trabalho!