Como sempre acontece, até por falta de redações dignas deste nome, a mídia corporativa local resolveu dar repercussão a um relatório técnico produzido pela Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a elevação do nível do mar, o chamado “Surging seas in a warming world” que em uma das suas tabelas inclui o Distrito de Atafona como um dos pontos críticos a serem atingidos em um futuro não muito distante (ver imagens abaixo).
O problema é que a situação envolvendo a inevitável elevação do nível do mar associada às mudanças climáticas e ao degelo das calotes polares e geleiras terrestres vai muito além de um ponto individual na costa fluminense. No mapa abaixo que está incluso do relatório da ONU, o que vemos é que todas as áreas costeiras do nosso planeta já vem sofrendo com níveis variados de elevação das águas oceânicas.
Com isso, os alarmes de emergência já deveriam estar soando com bastante força, na medida em que boa parte da população humana não apenas está vivendo em cidades, mas também em cidades costeiras. No caso do Brasil, cidades importantes como Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Santos e Florianópolis estão com o futuro ameaçado, na medida em que as estimativas existentes é que terão partes importantes tomadas pelas águas do mar. No entanto, esse problema está completamente ausente das plataformas dos candidatos a prefeito, o que não chega a ser surpresa porque a questão ambiental é uma ilustre ausente nos programas e debates eleitorais.
Em relação à parte que nos toca, tenho que lembrar que no dia 24 de junho de 2022, compartilhei aqui neste blog a notícia da publicação de um artigo científico em que fui co-autor com o meu ex-orientando e hoje doutor em Ecologia e Recursos Naturais, José Luiz Pontes da Silva Junior, que apresentava previsões (otimistas e pessimistas) para a invasão das águas oceânicas em todo o município de São João da Barra e não apenas para Atafona como acabou de fazer o relatório preparado pela ONU (ver imagens abaixo).
A repercussão baixa daquela publicização se deu provavelmente por dois fatores: a) a prevalência da máxima de que santo de casa não faz milagres, e b) a informação de que boa parte do município de São João da Barra poderá ficar debaixo d’água, incluindo parcelas do V Distrito onde está localizado o Porto do Açu.
O fato inescapável é de que precisamos nos preparar para um futuro em que a linha da costa deverá se mover para locais onde já esteve em um passado não muito distante, engolindo áreas urbanas e estruturas portuárias. Essa preparação deverá incluir o deslocamento de populações inteiras das áreas em que se encontram neste momento, bem como a construção de estruturas de proteção que minimizem a entrada e ação erosiva das águas oceânicas em determinadas regiões.
E aqui não se trata de um cenário de filme de catástrofe, mas de uma previsão baseada naquilo que as pesquisas científicas já indicam com um nível confiável de estimativa. É que, como diz o relatório da ONU, desde o início do Século XX, o nível médio global do mar subiu mais rápido do que nos últimos 3.000 anos e a taxa de elevação continua aumentando. Assim, é se preparar ou se afogar, e os dados já estão rolando.