Juntamente com pessoas desconhecidas, eu excursionava pela segunda vez pelo interior da ilha de São Miguel, uma das nove do arquipélago dos Açores e onde se situa a cidade de Ponta Delgada, capital do conjunto. Rumávamos em direção à freguesia de Sete Cidades. Os guias turísticos vão fornecendo informações gerais sobre os pontos visitados. Nada de profundo. Nem pode ser, pois a maioria dos turistas deseja superficialidades digeríveis.
Os guias aproveitam as viagens para levar os turistas a lojas comerciais associadas a algum tipo de plantação, como abacaxi (conhecido como ananás) e chá, ou alguma fábrica (rum, por exemplo). Eu viajava com um casal cubano muito curioso que conhecera na véspera, em outra excursão.
Uma das paradas incluía uma plantação de chá e uma loja anexa que vendia o chá em caixinhas e vidrinhos, além de outros produtos. A moça cubana perguntou se podia arrancar uma folha de chá para sentir o cheiro. Foi autorizada. Esmagou a folha e a aproximou do nariz, exclamando que não tinha odor nenhum.
Em torno da plantação, havia um campo verde com plantas herbáceas. Eram plantas espontâneas, que não precisam ser plantadas. Nascem por conta própria. Amo essas plantinhas exatamente por viverem sem merecer atenção. Elas brotam, crescem, reproduzem-se e morrem sem saber que existem, contribuindo para a produção do oxigênio que respiramos.
Julguei distinguir entre elas um pé de erva de Santa Maria (Chenopodium ambrosioides), planta da família Amarantácea, que conheço desde criança. Meus avós paternos e minha mãe diziam ser ótima para afugentar pulgas e outros insetos se colocadas secas embaixo da cama. O chá feito com as folhas é ótimo vermífugo. É também conhecida pelos nomes populares de mastruço, lombrigueira, erva-das-cobras, erva-do-formigueiro, caacica. Conheci-a como erva de Santa Maria quando criança. Sua origem é americana, ocorrendo numa área entre o México e a América do Sul.
Há muito tempo não via um exemplar. Amassei uma folha para sentir-lhe o cheiro forte e característico. De fato, era a erva de Santa Maria. Dei uma folha à cubana para que também a cheirasse. Ela ficou encantada com o forte odor, exclamando que desejava encontrar um cheiro característico na folha de chá. Todos da excursão também quiseram sentir o cheiro forte da planta. Enfim, aquela plantinha humilde ganhou a atenção de todos. Menos do guia, que se sentiu marginalizado.