Deputado Flávio Serafini fala sobre justiça climática na XVIII Feira de Responsabilidade Socioambiental em Macaé

Serafini - Crédito: Divulgação Alerj

Nos dias 14 e 16 de outubro, a Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), campus Macaé, recebe a XVIII Feira de Responsabilidade Socioambiental da Bacia de Campos, com programação das 14h às 20h. O evento, já tradicional na região, reúne palestras, debates e atividades culturais para discutir os desafios sociais e ambientais do Norte Fluminense.

Um dos destaques será a audiência pública da Frente Parlamentar por Justiça Climática da Alerj, marcada para o dia 16/10, às 14h, que contará com a presença de parlamentares, especialistas e representantes da sociedade civil. Convidado para o encontro, o deputado estadual Flávio Serafini (PSOL-RJ) falou, em entrevista, sobre a importância do debate em Macaé, cidade marcada pela exploração de petróleo e gás e pela instalação de novas termelétricas.

1) Deputado, a Feira de Responsabilidade Socioambiental já é um evento tradicional em Macaé. O que representa, para o senhor, participar desta edição como convidado para a audiência da Frente Parlamentar por Justiça Climática?

Participar desta edição significa estar em diálogo direto com a sociedade civil num território emblemático. Macaé é símbolo de como a lógica do desenvolvimentismo extrativista – centrado no petróleo e no gás – gera riqueza para poucos e deixa passivos ambientais e sociais para muitos. Trazer a Frente Parlamentar por Justiça Climática para cá é reafirmar que não podemos tratar a questão climática como algo distante: ela está na vida cotidiana de quem respira esse ar e sente as consequências das escolhas energéticas do Estado.

2) Por que é importante que essa discussão sobre justiça climática esteja acontecendo em Macaé, cidade marcada pela exploração de petróleo e gás, além da chegada de aproximadamente 10 termelétricas, agravante do clima e emissão de gases tóxicos, como metano etc?

Porque Macaé sintetiza a contradição que vivemos. É chamada de “capital nacional do petróleo”, mas a população local sofre os impactos: poluição, desigualdade, precarização de serviços públicos e ameaça ao futuro climático. Discutir justiça climática aqui é dar visibilidade ao fato de que não existe “energia barata” quando ela custa vidas, saúde e destrói ecossistemas. É também afirmar que não podemos aceitar que se repita o mesmo modelo predatório, agora com a expansão das termelétricas, que significam mais atraso e mais dependência de fósseis.

3) Um dos pontos mais sensíveis para a população local é a poluição do ar, especialmente causada por termelétricas e outras fontes fósseis. Que encaminhamentos o senhor espera debater para enfrentar esse problema?

Precisamos construir saídas concretas e urgentes. Isso inclui:

  • Fortalecer o monitoramento e a transparência dos índices de qualidade do ar, garantindo que a população saiba o que está respirando.
  • Avançar na regulação, limitando a instalação de novas fontes fósseis e cobrando responsabilidade das empresas que já poluem.
  • Defender investimentos públicos em energias limpas, descentralizadas e comunitárias.
  • E, sobretudo, garantir participação popular nas decisões, porque são os moradores que sentem no corpo a fumaça das chaminés e precisam ter voz sobre o futuro energético da região.

4) Quais políticas públicas o senhor acredita que podem garantir uma transição energética justa no estado, conciliando desenvolvimento econômico e proteção ambiental?

O primeiro passo é romper com a lógica do “crescimento a qualquer custo”. Uma transição justa precisa:

  • Redirecionar subsídios hoje dados ao petróleo, gás e carvão para energias renováveis, como solar e eólica, priorizando a geração distribuída.
  • Criar programas de requalificação profissional para trabalhadores da cadeia fóssil, garantindo empregos dignos na nova economia verde.
  • Implementar políticas de eficiência energética em larga escala, reduzindo consumo e desperdício.
  • Colocar a justiça socioambiental no centro: a transição não pode reproduzir desigualdades, tem que incluir comunidades tradicionais, periferias urbanas e juventude.

5) Para além da audiência, que mensagem o senhor gostaria de deixar à sociedade civil e à juventude que acompanham com preocupação os impactos das mudanças climáticas?

A mensagem é de coragem e esperança. A crise climática não é uma fatalidade natural, é resultado de escolhas políticas e econômicas. Se foi construída, pode ser transformada. A juventude, as comunidades e os movimentos sociais têm papel central em pressionar por mudanças, e é nosso dever, como representantes públicos, estar ao lado dessas lutas. Macaé não pode ser apenas a capital do petróleo, pode ser também um território-exemplo de um futuro diferente: justo, limpo e democrático.