O Movimento baía Viva recebeu a denúncia de que na madrugada de 17/08/2020, a Marinha derrubou, sem apresentar qualquer documentação e sem qualquer diálogo prévio com a comunidade pesqueira, o histórico Paiol dos pescadores, situada na Praia da Ilha do Farol, em Arraial do Cabo, que há 100 anos era utilizado para abrigar os trabalhadores dos tempos da chuva e do vento, e onde também se alimentavam e guardavam apetrechos de pesca.
De acordo com os pescadores, a ação foi tão rápida que não foi possível a retirada dos materiais de pesca. Os pescadores não têm informação se a Marinha guardou a imagem de Nossa Senhora Aparecida, que ficava dentro dessa construção. A história, segundo os pescadores, é de que um pescador, em 1721, encontrou na fenda de uma gruta, localizada na enseada da Praia dos Anjos, essa estátua de Nossa Senhora Aparecida que foi levada em procissão solene até a Igreja Nossa Senhora de Assunção, em Cabo Frio, onde foi entronizada. A santa teria desaparecido do templo, surgindo novamente na gruta. Mais uma vez foi levada para a igreja e misteriosamente voltou à gruta. Após este fato se repetir por algumas vezes a imagem original foi enviada para Cabo Frio, e uma réplica ficou na fenda em Arraial do Cabo.
Contraditório
Na semana passada, foi aprovado o Plano de Manejo da Reserva Extrativista Marinha (RESEXMAR) de Arraial do Cabo, a primeira Unidade de Conservação da Natureza com esta classificação criada em 1997 que abrange 51 hectares, que recomenda a preservação da Cultura das comunidades tradicionais, das construções e territórios pesqueiros. O Conselho Gestor da RESEXMAR, formado pelo ICMBIO, pescadores e órgãos municipais, também não foram previamente consultados sobre esta demolição, quais foram os motivos e a necessidade dessa destruição.
As entidades de pesca e o Movimento Baía Viva informaram o fato ao Ministério Público Federal (MPF) da Região dos Lagos, coordenado pelo Procurador da República, Dr. Leandro Mitidieri, para apurar as responsabilidades por este ato. Entendemos que se trata de um crime contra o patrimônio histórico e a cultura das populações tradicionais que ocorre em pleno período de pandemia, sem a menor possibilidade de mobilização dos pescadores devido às restrições sanitárias da Organização Mundial da Saúde (OMS) que tem recomendado a manutenção do isolamento social.
Fonte: Movimento Baía Viva