Conheça os Protocolos desenvolvidos para a avaliação de bem-estar de equinos e muares

Muito se sabe que os equinos e os muares desempenham um papel crucial na maioria das propriedades que focalizam na criação de gado, para a condução destes animais e outras inúmeras atividades que se tem no dia a dia nas fazendas. Mas ao mesmo tempo que temos essa consciência da importância desses animais nas tarefas diárias, muito pouco é estudado quanto ao bem-estar deles dentro dessas atividades (Zuliani et al., 2023).

No Brasil, por exemplo, os cavalos compõem cerca de dois terços do rebanho nacional, aproximadamente cinco milhões de cabeças (Lima e Cintra, 2016). Sabe-se também que no contexto socioeconômico do país, é quase impossível que haja a substituição desses animais por outros meios de transportes e monitoração, como motocicletas ou até mesmo drones, tanto por questões econômicas, dificuldades quanto às declividades de terrenos etc (CNA, 2004).

Mas voltando a falar do bem-estar desses animais;  Broom disse que o bem-estar é um conceito que reporta a qualidade de vida MENSURÁVEL de um animal em um momento determinado na sua vida, mas como conseguir mensurar?

Especialmente na Europa esse tema se tornou uma discussão pública e política (Fraser, 2009; Main, 2001) e com isso foi necessário descobrir como conseguir que fosse medido, mas com uma base científica para que fosse possível futuros debates (Webster, 2005). Então em 2009 os primeiros protocolos de bem-estar do projeto Welfare Quality foram desenvolvidos e publicados especialmente para a avaliação dos animais de produção (Butterworth, 2009).

Para a orientação de como medir, foram definidos 4 princípios (Boa Saúde; Bom Alojamento; Boa Nutrição; Comportamento Adequado) e 12 critérios (Ausência de fome prolongada; Ausência de sede prolongada; Conforto para descansar; Conforto térmico; Facilidade para se movimentar; Ausência de lesões; Ausência de doenças; Ausência de dor provocada por procedimentos de manejo; Expressão do comportamento social; Expressão de outros comportamentos; Boa relação humano-animal; Ausência de medo) para a definição de vários indicadores de medidas para que fosse possível uma boa avaliação, e o mais importante, todas elas com embasamentos científicos (Hoyos-Patiño, 2019), lembrando que esses protocolos não só foram feitos para priorizar as medidas nos próprios animais, mas também com base no ambiente em que vivem (Dalmau; Velarde, 2014). Mas com a enorme preocupação e com os diversos estudos sobre os animais de produção, e os cavalos? Os grandes ‘trabalhadores’ das fazendas não só do Brasil, onde que eles se encaixariam aí? O bem-estar deles não importa?

Então foi lançado -primeiramente- na Austrália o protocolo de bem-estar com foco especificamente nos equídeos (AHIC, 2011) e logo se tornou popular nos meios dos amantes desta espécie e atualmente somam-se mais de 5 entre novos protocolos e adaptações para que seja de fácil avaliação. Sendo eles: “Protocolo de Avaliação para Cavalos” ( Wageningen UR , 2012 );  ‘Protocolo de Avaliação de Bem-Estar para Cavalos da AWIN’ ( AWIN, 2015 );  ‘Protocolo de Avaliação de Bem-Estar de Cavalos’ (HWAP, Viksten et al., 2017; ‘Protocolo de Qualidade de Bem-Estar’ para aplicação em cavalos ( Hoyos-Patiño et al., 2019), e um projetado especificamente para burros ( AWIN, 2015 ).

O protocolo adota uma abordagem de dois níveis, iniciando com a seleção de critérios destinados a identificar as questões de bem-estar animal consideradas importantes pelas partes envolvidas. Ele inclui indicadores de fácil aplicação, válidos e confiáveis para aferir o bem-estar. Além disso, não exige a manipulação dos animais, requer pouco tempo e treinamento para que os avaliadores possam utilizá-lo. Essa primeira etapa tem como objetivo garantir uma resposta rápida e uma avaliação precisa, com menor tempo envolvido. (Dalla Costa et al., 2016).

Exemplo de protocolo adaptado !!!!

Referências:

AHIC. Australian Horse Welfare Protocol. Australian Horse Industry Council, 2011.

AWIN. AWIN welfare assessment protocol for horses version 1.1. E. In, 2015.

BROOM, D. M. A history of animal welfare science. Acta biotheoretica, v. 59, n. 2, p. 121-137, 2011.

BUTTERWORTH, A. Animal welfare indicators and their use in society. Welfare of production animals: assessment and management of risks. Food Safety Assurance and Veterinary Public Health Series, v. 5, p. 371-389, 2009

CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, 2004. Estudo do Complexo do Agronegócio Cavalo. Brasília, DF: Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil.

DALLA COSTA, E. et al. Using the horse grimace scale (HGS) to assess pain associated with acute laminitis in horses (Equus caballus). Animals, v. 6, n. 8, p. 47, 2016.

DALMAU, A.; VELARDE, A. Evaluación del bienestar animal. Protocolo Welfare Quality®. Canales sectoriales Interempresas, 2014. Disponível em: . Acesso em: Jul. 2022.

FRASER, Derek. The evolution of the British welfare state. New York: Palgrave Macmillan, 2009.

HOYOS-PATIÑO, J. F. et al. Aplicación del protocolo Welfare Quality® en criaderos equinos para determinar el grado de bienestar animal. Mundo FESC, v. 9, n. 18, p. 24- 30, 2019.

INDICATORS, ANIMAL WELFARE. AWIN welfare assessment protocol for horses. Università degli Studi di Milano, Milan, Italy, 2015.

Lima, R.A.S., Cintra, A.G., 2016. Revisão do Estudo do Complexo do Agronegócio do Cavalo. Brasília: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil.

WAGENINGEN, UR. Welfare Monitoring System: Assessment Protocol for Horses. Wageningen, The Netherlands: Wabeningen UR Livestock Research, 2012. Disponível em: . Acesso em: jul. 2022.

WEBSTER, J. The assessment and implementation of animal welfare: theory into practice. Revue Scientifique Et Technique-Office International Des Epizooties, v. 24, n. 2, p. 723, 2005.

WELFARE QUALITY. Towards a Welfare Quality® Assessment System. 2009. Disponível em . Acesso em: jul. 2022.

ZULIANI, Laura. Avaliação do bem-estar de equinos e muares que auxiliam no manejo em fazendas extensivas de gado de corte no Brasil. 2022.

ZULIANI, Laura; TRINDADE, Pedro Henrique Esteves; DA COSTA, Mateus José Rodrigues Paranhos. Welfare assessment of horses and mules used in commercial beef cattle ranches in Brazil. Applied Animal Behaviour Science, v. 264, p. 105964, 2023.