Um estudo analisou informações sobre políticas de sustentabilidade de 67 grandes varejistas brasileiros e concluiu que 95% merecem nota zero no que diz respeito à atuação para não financiar o desmatamento da Amazônia na indústria da carne. A avaliação, divulgada no dia 16 de outubro, foi feita pelo Radar Verde, que, pelo terceiro ano consecutivo, realiza a iniciativa.
Embora haja uma melhora nos resultados a cada levantamento, eles seguem insuficientes, avalia a equipe realizadora.
A metodologia do trabalho consiste em analisar informações públicas disponibilizadas pelas próprias empresas, e também o envio de um questionário com perguntas a respeito de como o grupo atua para ter certeza de que o fornecedor de carne não comete irregularidades, como acelerar o desmatamento na Amazônia.
Das 67 varejistas, nenhuma empresa respondeu ao questionário. Do total, 63 das que não responderam ao questionário também não forneciam informações sobre compromisso ambiental dentro da cadeia da carne, por isso a nota zero.
Apenas quatro grupos já forneciam algum tipo de dado sobre o tema. Entre eles está o Grupo Pão de Açúcar, que somou 53 pontos numa escala de 0 a 100, sendo o melhor avaliado, seguido Carrefour (48), Assaí (48) e Cencosud Brasil (7).
“O setor ainda não vê a cadeia da carne como um foco do qual eles tenham essa responsabilidade compartilhada de retirar o desmatamento dessa cadeia“, avalia uma das autoras do estudo, a engenheira de alimentos Camila Trigueiro, analista de pesquisa do Radar Verde.
“É importante a gente lembrar que os varejistas têm um papel essencial na retirada do desmatamento da cadeia de produção, porque 75% do que o Brasil produz de carne é consumido no mercado interno e os principais compradores ali do frigorífico é o setor de varejo”, destaca a especialista em entrevista ao programa Bem Viver desta quinta-feira (31).
A atividade agropecuária é responsável por 95,7% do desmatamento no Brasil, segundo o Relatório Anual de Desmatamento (RAD) do MapBiomas, representando uma das maiores contribuições para emissões de gases de efeito estufa no país.
“A grilagem é a percussora desse grande número de desmatamento. Trata-se do fato de que um indivíduo vai em uma terra pública, desmata aquela terra pública, ocupa aquela terra pública com alguns animais, então ele faz uma pecuária de baixíssima produtividade para que ele consiga demonstrar que aquela terra foi ocupada, que ele está produzindo alguma coisa e depois ele requer a posse daquela terra”, explica Trigueiro sobre como se dá o crime ambiental.
Em seguida, a especialista cita quais iniciativas são esperadas dos grandes varejistas. “Cobrar dos frigoríficos que eles tenham critérios mais claros, que tenham um monitoramento e controle sobre os seus fornecedores de maneira muito mais transparente também, para que outras entidades consigam acompanhar se esses frigoríficos estão cumprindo a política deles”, diz Trigueiro.
No Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), ela, que já foi gestora de qualidade e atuou em auditorias para certificações e habilitações de plantas frigoríficas, contribui para o mapeamento dos frigoríficos que operam na região amazônica.
Com objetivo de monitorar toda a cadeia da carne, a segunda fase da pesquisa do Radar Verde já está em andamento e avaliará os frigoríficos. Os resultados estão previstos para serem publicados até dezembro deste ano.
Índice independente que avalia as políticas e práticas de frigoríficos e varejistas, o Radar Verde considera a existência de compromissos públicos contra o desmatamento, a implementação de políticas de controle na cadeia de fornecimento de carne e a transparência das informações divulgadas por essas empresas, reafirmando o compromisso dessas organizações com a promoção de práticas sustentáveis e com a proteção da Amazônia.
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Edição: Martina Medina