O planeta Terra está sofrendo um processo de aquecimento atmosférico pelo acúmulo de gases liberados pelas atividades humanas em todos os países. Uns mais que outros. Esses gases acentuam o efeito-estufa natural. Na verdade, a grande responsável por esse aquecimento é a economia de marcado, que foi dominando o mundo todo a partir da Europa no século XV. Destruição de florestas e queima de combustíveis fósseis, entre outros fatores, liberam esses gases. E o aquecimento provoca transformações climáticas que destroem o mundo construído para uma realidade que não é mais a mesma. Ecossistemas e fauna nativos, rios, mares, economia rural e urbana, cidades e pessoas sofrem e mesmo morrem com essa progressiva mudança do clima que se estabilizou naturalmente no Holoceno. Os sistemas de absorção desses gases – sobretudo gás carbônico – estão sendo destruídos e poluídos. Os principais são os oceanos e as florestas.
Esse processo começou há 500 anos, com o começo de destruição da Mata Atlântica, e se acentuou com a Revolução Industrial. Progressivamente, outros ambientes também foram sendo destruídos. A vez é do bioma amazônico, que não se restringe ao Brasil. A estiagem que está assolando os rios amazônicos é bem amostra dos riscos que corre a maior floresta tropical do mundo. Quando não é estiagem, é enchente. Ambas estressam os ecossistemas e causam profundos danos à população que habitam a Região Norte.
Não houve preocupação com esse processo progressivo de aquecimento porque ele era lento e não percebido. A partir da década de 1970, os cientistas começaram a alertar quanto aos seus perigos. Não houve consenso no mundo científico. Apenas alguns pesquisadores e ambientalistas alertaram quanto aos perigos das mudanças climáticas provocadas por ações humanas coletivas. Grande parte do mundo acadêmico, empresários, governantes e a maioria da população mantiveram-se céticos. A imprensa não deu ao tema a atenção devida por também compartilhar o ceticismo envolvente.
Agora, o aquecimento não pode mais ser negado. Os relatórios do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas tornaram-se incontestáveis. Nos 23 anos do século XXI, recordes têm sido superados ano a ano. Eles se manifestam por ondas de calor até mesmo onde as temperaturas são frias e temperadas, como na Sibéria, no Ártico e na Europa nórdica. A onda de calor no final do inverno no hemisfério sul, a acentuada secura em torno do mar Mediterrâneo, a prolongada seca no Chifre da África, os tufões destruidores na costa do Pacífico, na Ásia, os frequentes incêndios no Canadá, na Califórnia, no Pantanal Matogrossense e no Cerrado, as intensas chuvas no litoral do Brasil, os ciclones extratropicais no cone sul da América são evidências gritantes dessas mudanças.
Tudo leva a crer que dias, semanas, meses e anos mais quentes, com manifestações climáticas agressivas, estão por vir. Governantes e empresários incorporaram o discurso ambiental. A população em geral não está preparada para os novos tempos. Deter o processo de aquecimento global de imediato não é possível. Seria como afundar o pé no freio de modo a fazer o carro capotar. Mas também não é possível continuar a pisar no acelerador. O mais prudente é frear o carro aos poucos e mudar de rumo. Parece que há esforços nesse sentido, mas eles chegaram tarde e se mostram insuficientes.
Enquanto isso, mudanças têm de ser efetuadas na Terra. Não adianta reconstruir o que foi destruído em áreas de risco atingidas por temporais de chuva e de vento. Deve-se promover construções em áreas relativamente seguras. Cidades atingidas por temporais violentos não estão preparadas para eles. Vejam-se as cidades dos vales dos rios Taquari e Guaíba e a própria Nova Iorque, que recebeu em 24 horas chuvas correspondentes a seis meses. Sistemas de alerta devem funcionar em cada país de forma eficiente para reduzir mortes, algo que ainda não acontece. Planos de evacuação e de abrigo devem ser elaborados pela ONU (o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente ainda é um órgão desconhecido), pelos blocos de países, por cada país, por cada estado e por cada município. Sistemas de absorção de água e de redução de calor devem ser formulados e executados, como a criação de áreas de expansão ou lagoas de acumulação em margens de rios, assim como arborização de encostas, de topos de morro, de nascentes, pontos de recarga e margens de rios. A arborização urbana deve ser incrementada para atenuar as fortes ondas de calor, que se tornam cada vez mais frequentes. Mas o que está em marcha é um acintoso processo de desarborização.
A imprensa deve abrir um espaço regular para informar os leitores sobre mudanças climáticas, assim como já existem espaços para economia, política, cultura e esportes. As informações não devem se limitar a ouvir vítimas de desastres, mas dar atenção a análises acessíveis aos leitores. Uma pessoa entrevistada declarou que não aguenta mais notícias sobre mudanças climáticas sem informações explicativas. A imprensa deve funcionar como instrumento de educação e evitar as confusões que estão sendo propagadas. Exemplo: as ondas de calor, a baixa umidade relativa do ar, as secas, os incêndios, as tempestades de vento e de chuva não são resultantes de uma combinação entre aquecimento global e El Niño, como se se tratasse de coisas distintas, mas dos fenômenos climáticos já existentes agravados pelo aquecimento global provocado por atividades humanas. Outro exemplo: não se deve dizer que tal fenômeno foi o maior da história desde então. Assim, parece que houve algo pior no passado. Se houve, esse fenômeno anterior foi manifestação de um clima marcado por regularidades, como chuvas e estiagens decenais, por exemplo. As medições das temperaturas mundiais começaram em 1880. Esse é o ponto de referência para avaliar os fenômenos climáticos da atualidade. Em vários pontos do mundo, existem outras mais específicas. Já circulam jornais e jornalistas especializados em assuntos ambientais. Essa especialização deve contar com mais profissionais.