Não raro, confunde-se império com cultura. Até mesmo estudiosos procedem assim. Nosso entendimento superficial entende que havia apenas uma cultura em todo o império Inca, que se estendia do sul da Colômbia ao norte da Argentina. A exposição “Tesouros ancestrais do Peru”, no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro até 5 de fevereiro do ano em curso, na verdade, é uma exposição das culturas desenvolvidas por etnias diferentes dentro do império Inca no território hoje correspondente ao Peru. Essas culturas eram aparentadas, mas com personalidade própria. Uma das etnias mais fortes em termos de expressão artística dentro do império é a mochica, que ficava num território hoje dentro do Peru. A arte cerâmica mochica é famosa. Está mais ou menos representada na exposição. Os mochicas expressaram a sexualidade humana de um jeito que a cultura ocidental cristã chamaria de pornográfica. Eles fizeram jarros moldados com cenas de sexo oral e anal. Não são pinturas. Os próprios vasos têm formas eróticas. Para os mochicas, isso não era imoral. São vasos lindos, mas não foram exibidos porque a exposição é aberta a adultos e crianças de todos os entendimentos. Algum religioso, moralista, fundamentalista poderia dizer que a exposição fazia a apologia do sexo.
Com a chegada dos europeus, o trabalho missionário católico foi intenso. Mais tarde, o evangélico também. Os nativos foram cristianizados, mas levaram para a arte religiosa, sobretudo para a pintura, sua visão de mundo. A Escola de Cuzco é famosa por seus pintores mestiços, que iluminavam seus quadros com cenas religiosas, dando-lhes um caráter decorativo e piedoso. Ela também está pouco representada, não por ser uma arte que possa ser considerada imoral. São cenas religiosas do cristianismo.
Entende-se que não cabem mais as exposições exaustivas, que exigiam horas de visitação e de leitura de textos explicativos. Entende-se igualmente que ainda não existe um olhar antropológico do visitante (haverá algum dia?) para compreender a abordagem de temas, como a sexualidade, pelo olhar do outro.