Adotar é animal: um gesto que promove segunda chance ao bichinho de rua

Foto: Maria Eduarda Santana

Adotar é mais do que um gesto de amor, é um compromisso com o bem-estar de um ser que depende do tutor. Requer dedicação, paciência e a vontade de proporcionar um lar seguro para o animal. Em Criciúma existem redes de apoio para assegurar que o animal seja bem cuidado e tenha uma vida digna. Desses meios, o que mais se destaca é o Núcleo do Bem-Estar Animal (Nubea), que conta com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde e da Prefeitura de Criciúma. Tem como principal função o controle de natalidade de cães e gatos, através de castrações e adoção.

“O núcleo é como uma casa de passagem, acolhemos, vacinamos, castramos, mas a intenção não é que o animal fique, e sim que após os cuidados encontre um lar”, explica o coordenador do Nubea de Criciúma, Christophe de Lima. Em 2023 mais de 300 animais passaram pelo núcleo, receberam o tratamento adequado e depois foram doados, mas esse número preocupa.

Muitos animais chegam ao núcleo de uma forma preocupante, vítimas de maus-tratos e abandono. “Eles só estão na rua porque alguém os abandonou. Então, se todo mundo fizer sua parte, se todo mundo colaborar, a gente consegue diminuir essa taxa de animais na rua”, comenta a vice-coordenadora da ONG SOS Vira-Lata, Louise Guimarães.

Essa realidade exige uma resposta imediata. Além de promover a adoção responsável, é crucial denunciar casos de abuso. Para a adoção acontecer também é necessário um processo e acompanhamento, fazendo com que o animal seja o foco principal. “Para adotar é necessário ter tempo, espaço e dinheiro. Tempo porque o animal precisa de atenção e carinho, espaço, pois não doamos para corrente, eles precisam de liberdade, e dinheiro porque para manter a alimentação e cuidados tem um custo. Não vamos tirar o animal do maus-tratos e fazer ele sofrer de novo”, ressalta Lima.

Adoção de um pet na melhora da saúde mental

Conviver com um animal de estimação traz diversos benefícios para a pessoa, principalmente em questões psicológicas. Quando falamos em adoção de um pet, pensamos na mudança de vida e bem-estar do animal, mas esquecemos de que essa atitude afeta também o tutor que adota. Essa ação traz benefícios psicológicos, como companheirismo, redução do estresse e ansiedade, melhora do humor, estímulo social, aumento da atividade física e senso de responsabilidade.

Um estudo publicado na revista Frontiers in Psychology mostrou que a interação com animais de estimação pode diminuir os níveis de cortisol (hormônio do estresse) e aumentar a produção de endorfinas (hormônios do bem-estar) em seres humanos. A psicóloga Daniela Grossmann explica a importância do convívio com um pet, para quem sofre com transtorno de ansiedade. “Além dos hormônios liberados, a prática de fazer exercícios ao ar livre com um animal de estimação, como passear com um cachorro, pode ajudar a aliviar a tensão e promover a sensação de relaxamento, promovendo uma mudança significativa nos quadros ansiosos”, afirma.


Tutora com seu gato adotado. (Foto: Maria Eduarda Santana)

“Fui filha única até os sete anos, então sou muito grata aos meus pais pela oportunidade de ter adotado os meus pets. Me fez uma criança muito mais ativa e saudável e meus gatos me ajudam até hoje em questões emocionais, dormindo comigo na cama em dias que não me sinto muito bem”, relata a estudante Marcella Coelho, de 14 anos.

Além da melhora emocional, a adoção responsável e o cuidado adequado com o animal de estimação são necessários para desfrutar desses benefícios. “Cuidar de um pet pode ter um impacto profundamente positivo na vida de uma pessoa. Isso acontece ao estabelecer uma rotina estruturada, proporcionar foco e distração, oferecer companhia e apoio emocional, além de promover o exercício físico e o bem-estar emocional”, ressalta a psicóloga. A presença de um animal de estimação pode trazer conforto e segurança emocional, contribuindo para o bem-estar e a saúde mental do indivíduo.

O papel de ONGs e voluntários no processo da adoção

O trabalho das Organizações Não Governamentais (ONGs) e dos voluntários ocupa um papel crucial no processo de adoção responsável de animais. São peças essenciais para garantir que o procedimento seja realizado de maneira ética e que os bichinhos recebam o cuidado e a atenção necessários antes, durante e depois da adoção. Em Criciúma, a ONG SOS Vira-Lata é uma das mais conhecidas, graças à trajetória de voluntariado e cuidado. A instituição conta com mais de 15 voluntários e acolhe no momento quase 20 animais.

“Os membros da ONG dão lar temporário para esses animais. Geralmente eles são resgatados da rua, aqueles que estão feridos ou com alguma doença tratamos, as fêmeas são castradas e depois realizamos as feiras de adoção para encaminhar esses animais para as famílias”, explica Juliana Thofehrn, que atua na ONG como voluntária.

Quando nos lares temporários, os animais são cuidados e assim que estão aptos e saudáveis são levados para as feiras de adoção, organizadas pela entidade. “A participação é fundamental. Precisamos do apoio de todos, seja por meio de adoções, doações ou trabalho voluntário. Cada pequena ação faz uma grande diferença na vida desses animais”, pontua Juliana. Segundo ela, a ONG e o Nubea mantêm uma relação de parceria, em que ambos estão na mesma luta de procurar dar qualidade de vida e amparo para esses bichos.


Filhote à espera de adoção no Nubea. (Foto: Laura Bazzei)

O acolhimento dos animais pós-catástrofe

As enchentes que ocorreram no estado do Rio Grande do Sul em maio afetaram milhares de famílias em todo território gaúcho, e os animais também sofreram essas consequências. De acordo com dados divulgados pela Defesa Civil, mais de dez mil animais foram resgatados das enchentes, no entanto, infelizmente muitos não sobreviveram após as inundações. Dos que foram salvos, a maior parte ficou perdida e precisando de atendimento especial.

O veterinário Sandro Jorge Júnior, de Criciúma, prestou apoio aos cachorros e gatos vítimas da enchente. “Uma amiga me procurou pedindo apoio técnico. Então ela reuniu um grupo de pessoas e foram ao Rio Grande em duas oportunidades. Na primeira ida, trouxeram para Criciúma cerca de 30 gatos. Dentre eles, filhotes, adultos e idosos. Quando os gatinhos chegaram, realizamos um processo de triagem, que consistia em exame físico dos animais, e administração de antiparasitários”, relata o veterinário.

Durante esses dias de tragédia, o voluntariado foi essencial para os bichinhos, em diversas funções, como no auxílio médico, nos resgates e no processo de recuperação desses animais. A importância de ter pessoas dispostas a se doar por uma causa, e tratar o animal com o seu devido valor, fez a diferença. “Depois que voltamos para ‘realidade’ vimos as pessoas não dando tanta importância aos animais resgatados. Mas o que presenciamos lá foi justamente o acolhimento que aquela vítima teve de seu animal de estimação, enquanto já tinha perdido todos os seus bens materiais, ganhou o apoio do seu companheiro para superar a situação”, ressalta o voluntário Raul Bauer.

*Matéria feita pelos acadêmicos do curso de Jornalismo da Unisatc