50 anos de vida jornalística

Por Arthur Soffiati*

No dia 5 de outubro de 1975, há 50 anos, iniciei minha vida como colaborador da imprensa jornalística de Campos com um artigo no extinto jornal “A Notícia”. Seu proprietário era Hervé Salgado Rodrigues. Eu era um jovem professor da Faculdade de Filosofia de Campos, onde lecionava história da antiguidade e história dos meios de comunicação. Egito e Israel firmaram um acordo de paz que levaria ao reconhecimento egípcio do Estado Judeu.

Redigi um texto a respeito com o título “As repercussões do acordo egípcio-israelense. Com zelos de novato, solicitei a Elmar Martins, então professor de história contemporânea da Fafic, que avaliasse o que escrevi. Ele esqueceu o escrito sobre a mesa da sala de professores. Conceição Sardinha, também professora, o encontrou. De novo com Elmar, que escrevia para “A Notícia”, entreguei-lhe o artigo. No dia 5 de outubro de 1975, encontrei meu artigo publicado naquele jornal. Logo depois, recebi convite de Hervé para colaborar com o diário. Foram vários artigos sobre política internacional.

Em fins de 1977, encontrei com Diva Abreu no calçadão. Ela me convidou a ser articulista da Folha da Manhã, que estava prestes a entrar em circulação. Aceitei o convite e, nos dias 8 e 10 de janeiro de 1978, artigos meus foram publicados nos dois primeiros números do novo jornal. Neste mesmo ano, começaram as atividades do Centro Norte Fluminense para a Conservação da Natureza, do qual eu fazia parte. Quero crer que iniciei uma abordagem sistemática sobre a questão ambiental na imprensa com o artigo “Ecologia sem romantismo”, publicado em 27 de janeiro de 1978. Desafiei também a ditadura militar então vigente escrevendo “Sucessão presidencial ((17/01/78), “Comunismo comuníssimo” (6/4/1978) e “As declarações do general Figueiredo”.

Eu contava com a cobertura de Aluysio Cardoso Barbosa, que me orientava quanto ao tom dos artigos. Sua experiência me informava sobre o tom mais adequado a ser usado num artigo. Vivíamos, então, no tempo em que o repórter e o colaborador redigiam seus textos em máquina datilográfica em papel com linhas numeradas a fim de respeitar o espaço. No caso dos colaboradores, o texto era levado à redação do jornal. Havia uma pessoa encarregada da revisão. Minhas idas à redação da Folha não se resumiam a entregar meu texto. Sempre havia uma conversa com os jornalistas, que se estendia às vezes por mais de uma hora. Era uma troca muito proveitosa. Evito citar nomes para não ser injusto.

Além de tocar em temas perigosos, como política brasileira, escrevi também sobre literatura, artes plásticas, cultura popular e cinema. Creio ter sido o primeiro a abordar a questão das mudanças climáticas com o artigo “Chuva demais, chuva de menos” (25 de fevereiro de 1979). O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU só seria criado em 1988, publicando seu primeiro relatório em 1990. Falar sobre mudanças climáticas pela ação da economia de mercado era, então, atrair para si algo parecido com o rótulo de irresponsabilidade, no mínimo, e loucura, no máximo. A mim, imputavam os dois epítetos. “Larga o Soffiati, aquilo é doido”, era expressão que eu ouvia com frequência.

Ao lado de artigos palatáveis, muitos eram incômodos. Falar sobre degradação de rios e lagoas, desmatamento, poluição do ar, destruição do patrimônio cultural causava desagrados que poderiam levar a respostas escritas (meus adversários não eram de escrever) ou a processos na Justiça. Fui processado sete vezes por quatro prefeitos, um Procurador do Estado do Rio de Janeiro, uma Juíza e pela CEDAE. Todos eles inócuos diante das evidências a meu favor.

Houve duas interrupções na minha vida de colaborador com a imprensa, ambas motivadas por excessos da minha parte. Não respeitei os limites da seriedade e da responsabilidade. Na segunda vez, coube a Aluísio Abreu Barbosa promover o meu retorno. Adotei uma postura séria sem abrir mão da independência intelectual. A maioria dos meus artigos atuais, 50 anos após iniciar-me na imprensa, são perfeitamente palatáveis. Alguns são críticos. Com relação aos artigos críticos, procuro redigi-los de forma sóbria e embasada. Não sou mais um jovem impetuoso.

A Folha manteve meus artigos publicados em papel, algo que tende a ser substituído por jornais digitais. Contudo, não apenas me limito, hoje, a artigos semanais. Quinzenalmente, publico uma crítica de cinema com o pseudônimo de Edgar Vianna de Andrade. A coluna, intitula-se “Cinematógrafo”. O primeiro artigo foi publicado em 27 de janeiro de 2005. Há vinte anos. Com uma breve interrupção, a coluna vem sendo mantida até os dias atuais. Além disso, assino uma coluna em “Folha Letras” toda primeira quarta-feira de cada mês. Ao longo de 50 anos, meu trabalho na imprensa aumentou. Alguns artigos aqui publicados ganham outros periódicos do estado do Rio de Janeiro e do Brasil. Vejamos até quando conseguirei manter esse ritmo.

*Professor, historiador, escritor e ambientalista