Conservação e recuperação dos manguezais têm papel crucial no clima

Com quase 7,5 mil quilômetros de costa, o Brasil é o segundo país com mais manguezais no mundo, atrás apenas da Indonésia. Mas esses ecossistemas, formados por áreas alagáveis cobertas de árvores, com raízes expostas que sobrevivem ao vaivém da maré, têm se degradado nas últimas décadas, e não há restauração a contento. Um dos principais motivos para cuidar dos mangues é o papel essencial que eles podem desempenhar na absorção de gás carbônico da atmosfera, crítica para deter as mudanças climáticas. Um manguezal restaurado pode reabsorver até três quartos do carbono lançado no ar quando destruído, concluiu novo estudo do Serviço Florestal dos Estados Unidos.

No Brasil, mais de 80% dos manguezais estão em unidades de conservação. Mesmo aqueles em propriedades privadas são considerados áreas de preservação permanente. Mas isso não tem impedido que sofram com poluição, urbanização, expansão de portos e empreendimentos imobiliários. Desde junho, o país conta com o Programa Nacional para a Conservação e Uso Sustentável dos Manguezais (ProManguezal). A criação do programa e a demanda por recursos para preservação e recuperação vêm em boa hora. Mas é preciso colocá-las em prática.

É verdade que a ocupação de mangues pela urbanização estancou nas últimas décadas. A Baía de Guanabara é um exemplo positivo: perdeu metade dos manguezais que tinha, mas a criação de zonas de proteção nos anos 1980 conteve a destruição. Desde então, houve pequena recuperação. Nem todo manguezal pode, porém, ser recuperado. Entre áreas possíveis de restaurar estão, diz o oceanógrafo Mario Luiz Soares, chefe do Núcleo de Estudos da Uerj, as transformadas em tanques para criar camarão ou produzir sal.

Ainda há muito poucas áreas de mangue em restauração no Brasil, diz Richard Mackenzie, cientista do Serviço Florestal dos Estados Unidos responsável pelo estudo que avaliou 600 iniciativas no mundo todo para recuperá-los. “O replantio de 6.665 km² de manguezais altamente recuperáveis tem o potencial de armazenar cerca de 46 milhões de toneladas de carbono sozinho em 20 anos”, diz ele. É o equivalente às emissões de combustíveis fósseis de quase todos os veículos motorizados do Reino Unido durante um ano. Além de capturar o carbono, diz Mackenzie, os manguezais servem para amortecer as ondas nas ressacas, responsáveis por erosões que ameaçam comunidades no litoral.

Antes mesmo do lançamento do ProManguezal, o BNDES liberou no ano passado R$ 47 milhões para oito projetos de restauração, abrangendo 1.750 hectares de mangues e restingas em diversos pontos da costa. O Programa de Gestão Integrada de Manguezais da Fundação Florestal de São Paulo conduz o inventário de carbono de manguezais no litoral paulista, para fazer um diagnóstico de suas fragilidades e melhorar sua conservação. São conhecidas as áreas a preservar e restaurar, e há dinheiro à disposição. A questão agora se resume a pôr os projetos em marcha. Não há tempo a perder.