Atividades desenvolvidas pelo PPG-CiAC/NUPEM e sua interface com a sociedade

O Núcleo em Ecologia e Desenvolvimento Socioambiental de Macaé (NUPEM/UFRJ) participou da X Feira de RSE  apresentado para os visitantes as “Atividades desenvolvidas pelo Programa de Pós-Graduação em Ciencias Ambientais e Conservação (PPG-CiAC/NUPEM) e sua interface com a sociedade”. No formato de painéis de discussão, as apresentações tiveram grande acesso de publico, principalmente estudantes de segundo grau e universitários. Além destas apresentações, foi oferecido ao público uma experiência interativa com alguns dos organismos marinhos da região através de aquários de toque. Os visitantes também puderam conhecer um pouco da fauna terrestre através da exposição de exemplares taxidermizados  do Espaço Ciência. A seguir são apresentadas sínteses das atividades desenvolvidas pelo PPG-CiAC/NUPEM e apresentadas para o público.

Pesquisas ecológicas de longa duração na Bacia de Campos: desvendando ecossistemas costeiros e potencialidades locais

Stephane Batista, Meriane Paula, Mariana Xavier, Mônica Pacheco, Amanda Ferreira, Nathalia Fuentes, Pablo Gonçalves e Ana Petry.

O que são pesquisas ecológicas de longa duração? Quanto tempo de monitoramento é necessário para detectar a influência das alterações ambientais nos processos que mantêm a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos? E como os efeitos dessas alterações podem ser mitigados? Essas foram algumas das perguntas que motivaram um diálogo entre integrantes do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Conservação (PPG-CiAC) vinculados ao Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PELD/CNPq) e o público da X Feira de Responsabilidade Social Empresarial Bacia de Campos durante um dos painéis de discussão do evento.

Pesquisas ecológicas de longa duração são realizadas em vários países e estão baseadas em monitoramentos que ocorrem por um período de tempo considerado extenso (décadas, alguns já com mais de um século de pesquisas), diferindo dos projetos de pesquisa mais convencionais, que se limitam a prazos de execução mais curtos, e que geralmente não ultrapassam cinco ou dez anos. A justificativa está na busca por compreender a dinâmica de alterações ambientais numa determinada área e o modo que populações de organismos reagem a tal influência, algo que para a maioria das espécies só se alcança a longo prazo.

A elevada importância dessas pesquisas se dá pela composição de grandes séries de dados temporais que permitem identificar as alterações ecológicas e seus efeitos no tempo. Considerando que o tempo adequado para esses estudos depende do ciclo de vida dos organismos investigados e dos questionamentos envolvidos, a extensão de tempo necessário para que mudanças no ambiente sejam percebidas pelos organismos e para que os mesmos respondam a elas, é variável.

Este tipo de programa de pesquisa vem crescendo mundialmente. Atualmente, existe uma rede de cerca de 40 países que desenvolvem estudos de longa duração envolvendo questões socioeconômicas, biogeográficas e ambientais denominada International Long Term Ecological Research (ILTER), da qual o Brasil faz parte com o PELD (para mais detalhes, acesse http://cnpq.br/ilter).

As áreas onde essas pesquisas são desenvolvidas são chamadas de “sítios”. Os 30 sítios PELD representam os distintos biomas brasileiros, sendo que os resultados obtidos nesses estudos têm se tornado referência no avanço da pesquisa ecológica no país. O Norte Fluminense se destaca por mais de duas décadas de pesquisa num dos primeiros sítios PELD, denominado Restingas e Lagoas Costeiras do Norte Fluminense (RLaC) e que abrange a única área de restinga protegida em âmbito federal no país e suas lagoas costeiras, o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba (PNRJ), além da Lagoa de Imboassica e da Lagoa Feia.

Uma parte considerável das teses e dissertações desenvolvidas no âmbito do PPG-CiAC tem como foco o Sítio PELD RLaC. Somente nos últimos 5 anos foram mais de 60 artigos e capítulos de livros publicados, além de 25 dissertações e teses de doutorado concluídas ou em andamento no PPG-CiAC. Essa produção atrai a atenção para o primeiro programa de pós-graduação da UFRJ no interior do Estado e para o PNRJ, que como unidade de conservação federal garante a continuidade das pesquisas em uma área sob forte pressão de exploração dos recursos naturais e expansão urbana.

A oportunidade de conhecer um ecossistema por meio de monitoramentos de longo prazo certamente gera maiores chances de aprimorar o conhecimento sobre uma determinada área, tanto pela maior capacidade de percepção de detalhes minuciosos, como pela ocorrência de registros ou fenômenos raros, que certamente não poderiam ser capturados por meio de investigações pontuais ou realizadas em períodos mais curtos de tempo.

O acúmulo de dados em 20 anos possibilita revelar uma variedade de informações que envolvem o registro de espécies até então desconhecidas, bem como aspectos sobre o comportamento, interação com outras espécies e respostas dos organismos a variações climáticas no ecossistema de restinga. Mesmo que as restingas tipicamente apresentem condições climáticas peculiares, tais como alta temperatura e salinidade, ventos constantes, solos arenosos e pouca disponibilidade de nutrientes, as mesmas abrigam uma elevada riqueza de espécies silvestres.

Espécies endêmicas como o ratinho-goitacá (Cerradomys goytaca) foram descritas para a região, além de novos registros que evidenciam que a diversidade de mamíferos em restingas é maior do que se especulava. O monitoramento de longa duração da população desse ratinho vem detalhando como os períodos de estiagem afetam seu crescimento populacional, assim como as taxas de sua predação por aves de rapina, e a sua interação com espécies vegetais frutíferas de formações abertas da Restinga de Jurubatiba também vem sendo investigada.

A Lagoa Feia, mesmo localizada fora dos limites do PNRJ, foi identificada como uma potencial fonte de organismos aquáticos colonizadores das lagoas costeiras, especialmente aquelas que ficam na porção mais setentrional do PNRJ.

Áreas de Formação Arbustiva Aberta de Clusia, uma das dez diferentes formações vegetacionais do PNRJ, em vez de funcionarem como barreiras, se revelaram capazes de suportar populações residentes de beija-flores da espécie Amazilia fimbriata. Essa espécie pode ser destacada como importante componente para a manutenção e funcionamento do ecossistema de restinga, pois atua como polinizador principal de duas das espécies vegetais (Aechmea nudicaulis e Vriesea neoglutinosa) mais abundantes e com funções ecológicas relevantes na estruturação do hábitat de restinga e no estabelecimento de outras espécies vegetais.

Gramíneas, importantes para a estabilização de ambientes costeiros e para redução da movimentação e perda de solo, vem sendo estudadas tanto em relação a espécies nativas (cerca de 30 espécies registradas), quanto em relação a espécies invasoras, investigando de que forma as modificações ambientais favorecem a instalação dessas espécies que interferem negativamente na recomposição típica da vegetação de restinga.

Porém, infelizmente os resultados e desdobramentos deste tipo de pesquisa encontram-se ameaçados por cortes de verbas públicas e falta de incentivo à pesquisa. Por serem estudos de longo prazo, requerem um fomento financeiro na mesma escala. A continuidade das pesquisas seria inviável em diversas frentes, caso a interrupção ou cessamento de investimento venha a ocorrer.

Problemáticas ambientais mais recentes ou agravadas pela maior pressão humana sobre o ecossistema de restinga também têm sido investigadas no contexto do PELD RLaC. Dentre elas, destaca-se a ocorrência das espécies exóticas na área do PNRJ, como é o caso das gramíneas, de peixes introduzidos intencionalmente ou não nas lagoas e de animais domésticos como cachorros, bem como atividades ilegais de caça e pesca. Como os balneários representam ilhas de maior influência humana na área do PNRJ e como plantas e animais não conhecem os limites da unidade de conservação, são necessários e urgentes os estudos que contemplem a relação entre o homem e o ambiente, especialmente no que diz respeito ao sentimento de propriedade e dependência da sociedade com os ambientes terrestres e aquáticos da Restinga de Jurubatiba.

De acordo com estudos socioambientais realizados com populações que vivem no entorno da unidade de conservação, estas possuem um conhecimento diferenciado da fauna e da flora locais, que antecede os registros científicos. Isto realça a importância da aliança entre ambos grupos. Apesar disso, situações conflituosas de restrição nos direitos de uso da terra foram identificadas após a criação da unidade de conservação, sendo essa uma vertente que precisa ser contemplada no âmbito da gestão pública e federal.

É perceptível que as lagoas costeiras funcionam como verdadeiros laboratórios científicos naturais para a pesquisa e o ensino, sendo ao mesmo tempo importantes áreas de lazer e de grande potencialidade turística para a região. Já as restingas, se revelam como ambientes curiosos e extremamente informativos, que se distribuem na porção continental da Bacia de Campos. O PELD é inegavelmente indispensável para identificar esses atributos e fornecer subsídios que possam assegurar a preservação de recursos e ecossistemas costeiros nessa fração economicamente importante do país.

Para mais informações acesse: http://cnpq.br/apresentacao-peld

Projeto Costões Rochosos: Ecologia, impactos e conservação na Região dos Lagos e Norte Fluminense

Lísia M. S. Gestinari, Sergio L. Cavalheiro Filho, Thayná S. dos Santos, Stella Almeida, Diego Gazone R. Silva, Patricia L. Mancini, Ana C. Petry, Luciano G. Fischer

Costões rochosos são ecossistemas de transição dos ambientes marinhos e terrestres que se caracterizam por elevada diversidade de grupos como algas, crustáceos, moluscos, peixes e aves. Além disso, são ambientes de grande importância social e econômica, sendo utilizados pelo homem devido sua beleza cênica, facilidade de acesso e pela exploração de organismos para diversos fins.

Pesquisadores do Núcleo em Ecologia e Desenvolvimento Socioambiental de Macaé – NUPEM/UFRJ e alunos dos cursos de Graduação em Ciências Biológicas e Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Conservação do Campus UFRJ-Macaé desenvolvem desde abril de 2017 o “Projeto Costões Rochosos: Ecologia, Impactos e Conservação nas Regiões dos Lagos e Norte Fluminense”, que conta com apoio financeiro do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade – FUNBIO. Os estudos estão sendo desenvolvidos nos costões rochosos dos municípios de Macaé, Rio das Ostras e Armação dos Búzios. Dentre os principais objetivos do projeto estão: 1. investigar a composição e dinâmica dos organismos que habitam os costões rochosos, 2. identificar os impactos antrópicos em curso e os potenciais, 3. analisar os tipos de usos dos costões pela sociedade e, 4. realizar atividades de sensibilização ambiental e propor ações de manejo para fins de conservação.

O Projeto Costões Rochosos foi representado por alunos e pesquisadores na X Feira de Responsabilidade Social Empresarial da Bacia de Campos. Aquários de toque com diversos organismos que ocorrem nos costões foram expostos e supervisionados pelos alunos do projeto, que aproveitaram o interesse do público para explicar detalhes e curiosidades da biologia das espécies. Os olhares e expressões dos visitantes sugeriam que, ora se mostravam perplexos por conta da grande quantidade de “vida”, ora mostravam encantamento pela beleza da flora e fauna que os costões abrigam. Os comentários de duas alunas do ensino fundamental da rede municipal chamaram muita atenção:  “Nossa! Eu não podia imaginar que tivesse tanto bichinho interessante nos costões! (aluna 1), “Sei que lá (os costões) é um lugar lindo! Mas não tinha ideia de quantos animaizinhos e plantinhas interessantes moravam lá! Tem que cuidar né!” (aluna 2). Nota-se que é um mundo novo que se abre para a sociedade, um mundo repleto de vida, que precisa ser investigado e sobretudo preservado.

O evento também promoveu o debate: “Projeto Costões: a ercepção ambiental dos atores sociais das áreas de pesquisa”, que destacou a falta de conhecimento da população sobre a diversidade da biota nos costões rochosos, bem como inexistência de programas de educação ambiental e de políticas públicas específicas para promover a conservação desse ecossistema. O debate entre os visitantes do estande e pesquisadores apontou como soluções a promoção de mais discussões e a inclusão da realidade local em programas de educação ambiental, considerando particularidades históricas, sociais, econômicas e ambientais de cada um dos três municípios.

Nesse sentido, é muito importante “conhecer para preservar”, ou seja, promover estudos científicos que possam aumentar o grau de conhecimento e funcionamento desses ecossistemas. É sob essa bandeira que o Projeto Costões Rochosos atua, com o objetivo de gerar conhecimento e capacitar pessoas para trabalharem na conservação dos costões rochosos deste trecho do litoral fluminense.

MULTIPESCA: Ciência para a Sustentabilidade da Pesca, Pescado e Pescadores do Rio de Janeiro

Caroline Chagas Pereira Leite, Fabio Ribeiro da Silva, Bárbara Teixeira Villarins, Luciano Gomes Fischer, Fabio Di Dario, Michael Maia Mincarone, Pedro Hollanda de Carvalho, Paulo A. S. Costa

A pesca possui grande relevância econômica e social em escala global, caracterizando-se também como uma importante fonte de renda para pescadores artesanais e industriais do Norte Fluminense. Organizações internacionais, por exemplo, indicam que cerca de um quarto do valor total de proteínas consumido no mundo é originário das diferentes formas de pesca. No entanto, os recursos pesqueiros têm sido comprometidos por um manejo extremamente inadequado e ineficaz em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil. A falta de coleta sistematizada de dados para a estatística pesqueira, incluindo número de embarcações e o volume de desembarques, além da falta de fiscalização do pescado comercializado são exemplos de como o manejo inadequado pode comprometer os estoques pesqueiros e, consequentemente, toda a economia que gira em torno dessa atividade.

O mestrando do PPG-CiAC/UFRJ e bolsista do Projeto MULTIPESCA - Fabio Ribeiro, faz entrevista para monitoramento dos desembarques com pescadores em Pontal de Santo Antônio, Cabo Frio
O mestrando do PPG-CiAC/UFRJ e bolsista do Projeto MULTIPESCA

– Fabio Ribeiro, faz entrevista para monitoramento dos desembarques com pescadores em Pontal de Santo Antônio, Cabo Frio.

Os desembarques ocorrem diariamente no Mercado de Peixes de Macaé (acima), envolvendo um número desconhecido de pescadores, embarcações e de pescado, um dos objetivos do Projeto MULTIPESCA
Os desembarques ocorrem diariamente no Mercado de Peixes de Macaé (acima), envolvendo um número desconhecido de pescadores, embarcações e de pescado, um dos objetivos do Projeto MULTIPESCA

No Brasil, a demanda por pescado tem aumentado enquanto os estoques pesqueiros e as capturas estão em diminuição nas últimas décadas. É necessário que haja informação e conscientização acerca do uso dos recursos pesqueiros para que a pesca ocorra pela ótica da sustentabilidade. Caso contrário, o forte declínio na produção pesqueira poderá comprometer o sustento das famílias que vivem da pesca e diminuir a disponibilidade deste alimento para os consumidores, gerando, desta forma uma agravamento de caráter econômico, alimentar e social.

Nos desembarques realizados, cada caixa de peixes comercializados como "mistura" pode incluir mais de 20 espécies de peixes, dificultando o controle adequado da produção por espécies.
Nos desembarques realizados, cada caixa de peixes comercializados como “mistura” pode incluir mais de 20 espécies de peixes, dificultando o controle adequado da produção por espécies.

O objetivo principal do projeto “MULTIPESCA: ciência para a sustentabilidade da pesca, pescado e pescadores do Rio de Janeiro” é estudar, avaliar e divulgar o estado da atividade pesqueira no Norte Fluminense, com foco nos municípios de Macaé, Rio das Ostras e Cabo Frio, regiões que possuem uma grande biodiversidade e onde a pesca é importante economicamente, sendo responsável pela manutenção de diversas famílias que dela dependem. Esse projeto inclui pesquisadores do Núcleo em Ecologia e Desenvolvimento Socioambiental de Macaé, Universidade Federal do Rio de Janeiro (NUPEM/UFRJ), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e da Universidade de Campinas, São Paulo (UNICAMP). Integram também alunos e alunas de Mestrado e Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Conservação (PPG-CiAC/UFRJ), de Graduação em Ciências Biológicas (UFRJ e FERLAGOS) e Nutrição (UFRJ), além de alunos de ensino médio do Colégio Técnico de Campinas (COTUCA/UNICAMP).

Centenas de espécies de recursos pesqueiros são capturadas pela pesca artesanal e desembarcadas na região. A identificação taxonômica dessas espécies é um dos objetivos do MULTIPESCA.
Centenas de espécies de recursos pesqueiros são capturadas pela pesca artesanal e desembarcadas na região. A identificação taxonômica dessas espécies é um dos objetivos do MULTIPESCA.

As linhas de pesquisa centrais desenvolvidas nesse projeto envolvem estudos interdisciplinares. O ponto central do projeto é ampliar o conhecimento da pesca artesanal na região através do levantamento do número de pescadores e embarcações atuantes, da descrição das características das embarcações e dos petrechos utilizados, do volume de pescado desembarcado por espécie, e a realizar a caracterização socioeconômica dos pescadores. Outro aspecto importante é compreender melhor a dinâmica reprodutiva e ecologia trófica dos principais recursos pesqueiros no Norte Fluminense.

O projeto também prevê o estudo genético detalhado com vistas ao acesso aos tamanhos dos estoques pesqueiros através de técnicas moleculares modernas e o estabelecimento de um método padrão eficaz para avaliação desses estoques utilizando ferramentas genéticas. Para isso, está sendo criado um banco de dados com sequências de DNA das espécies desembarcadas na região, auxiliando estudos conservacionistas que estão sendo desenvolvidos atualmente e que poderão ser desenvolvidos no futuro.

De fato, existe uma grande demanda por conhecimentos mais detalhados sobre a biodiversidade explorada na pesca da região. Um dos resultados que estamos obtendo, por exemplo, envolve a determinação quali-quantitativa das categorias comerciais de recursos pesqueiros, associando os nomes populares dos peixes, moluscos e crustáceos, utilizados por pescadores, donos de peixarias, empresas de pesca e consumidores, com os nomes científicos das espécies capturadas. Sabe-se que na categoria “cação”, por exemplo, são comercializadas diversas espécies de peixes cartilaginosos, sem saber quais e em que quantidades. Outras categorias, como “garoupas” e “pescada”, também parecem encontrar-se em situação similar, agrupando diversas espécies em uma única categoria comercial. Apenas com o conhecimento mais detalhado do que está sendo pescado, e em qual quantidade, a sociedade poderá tomar decisões mais sensatas e ambientalmente coerentes, garantindo a viabilidade da utilização desses recursos pelas gerações futuras de pescadores e pescadoras da região, em um contexto que ressalta o uso sustentável dos recursos marinhos.

Em suma, além de fornecer ferramentas para uma melhor gestão pesqueira, os integrantes desse projeto esperam que o aumento do conhecimento sobre a pesca na região Norte Fluminense possa aproximar pescadores, pesquisadores e membros-chave da administração pública, além da sociedade como um todo. Nesse contexto, estendemos nossos agradecimentos a todos os pescadores e pescadoras, as empresas, associações de pescadores, peixarias e firmas de pesca que têm dando apoio logístico para a execução de nossas atividades no projeto. Todas as pessoas envolvidas direta e indiretamente com a pesca precisam atuar em conjunto em prol da manutenção dessa importante atividade social e econômica, cuja viabilidade futura está seriamente ameaçada.

A importância do controle de culicídeos vetores para redução de arboviroses emergentes no município de Macaé

Alessandra da Silva de Alvarenga, Willian Rodrigues da Costa Marinho, Natalia Martins Feitosa, Jackson de Souza Menezes e Rodrigo Nunes da Fonseca.

O município de Macaé-RJ vem sofrendo uma grande transformação devido à exploração de petróleo da Bacia de Campos. Grandes empresas chegaram à região e com elas trabalhadores em busca de empregos. Contudo, essa urbanização acelerada e descontrole demográfico gerou ocupação e invasões em áreas de mata. Dessa forma, residências foram estabelecidas em locais sem saneamento básico e propício à aumento de arboviroses.

O Ae. aegypti é um dos principais vetores das arboviroses tropicais como: Dengue, Zika, Chikungunya e Febre Amarela urbana. Possui hábito diurno e comportamento estritamente sinantrópico e antropofílico. Apresentando desenvolvimento completo (ovo, larva, pupa e adulto) realizado em ambientes artificiais encontrados em área urbanas.  Em contra partida, o Ae. albopictus possui capacidade vetorial para transmissão de Zika e Chikungunya, apresentando também desenvolvimento completo, encontrado em ambientes naturais e adaptando-se a áreas urbanas.

Compostos utilizados para o controle de dípteros vetores de doenças, como os larvicidas, eventualmente são utilizados nos espaços urbanos. Estes produtos podem chegar ao meio aquático pelo escoamento superficial, infiltração no solo e enchentes causadas pela chuva colocando os organismos em risco de contaminação.

Sendo assim, pesquisas desenvolvidas no PPG-CiAC do NUPEM/ UFRJ, no qual uma delas, cujo objetivo é estudar os fatores que contribuem para a prevalência de mosquitos culicídeos em dois bairros do município de Macaé, mostrou que há diferença entre a quantidade de ovos do mosquito Ae. aegypti coletados nos bairros Lagomar e Praia do Pecado que possuem diferenças socioeconômicas. Foi visto também que os vetores Ae. aegypti e Ae. albopictus estão presentes nestes bairros e que podem coexistir num mesmo local. Larvicidas usados pelo município mostraram eficiência para o controle dos indivíduos de Ae. aegypti linhagem Rockefeller, além de causar deformidades em organismos não-alvos como o peixe-zebra (Danio rerio).

A ação do efeito dos larvicidas reguladores de crescimento (IGRs) levantam uma questão importante quanto à instrução que é passada pelos agentes de endemias a respeito do uso adequado do produto no campo. Sendo assim, a participação da população torna-se extremamente importante para o controle do inseto vetor no município de Macaé, realizando ações como: mantendo caixas d’água fechadas, descartando lixo em locais adequados, colocando areia em vasos com plantas, não deixando água parada em depósitos artificiais, armazenar pneus em locais cobertos e deixar garrafas sempre de boca para baixo.

Águas de Macaé: reflexões sobre usos do solo, conservação da água e educação ambiental.

Denise Aparecida Pereira Siloto de Araújo; Gabrielle Souza de Araujo; Jéssica Mulinari Mota; Jones Henrique Carvalho da Silva; Vanessa de Sales Campos Cony Birnfeld

Ao tratar da questão hídrica, pode-se pensá-la em um sentido mais restrito, como um recurso, ou mais amplo, como um patrimônio. A visão hegemônica a entende como recurso a ser explorado para a produção de bens de consumo dentre diversos outros usos. Tal visão entra em conflito com a visão da água e da natureza como patrimônio humano e não humano, isto é, como a relação entre seres vivos e não vivos, em que a humanidade não foi separada do que é natural e ainda se compreende parte integrante do meio.

A visão hegemônica da água enquanto recurso, que leva à sua categorização em diferentes usos, e sua distribuição naturalmente desigual contribuem para a superexploração hídrica. Constata-se a superexploração da pequena porcentagem (2,5%) de água doce, que se encontra distribuída pelas calotas polares e geleiras (68,9%); água subterrânea (29,9%); rios e lagos (0,3%); pântanos, umidade do solo, entre outros reservatórios (0,9%). O crescimento econômico das cidades traz consigo um aumento da demanda por água, para sustentar a agricultura, a pecuária, a indústria e o uso doméstico.

Uma discussão mais complexa sobre água demanda pensar sobre as diferentes representações que a água pode ter dependendo dos seus usos. A água dos rios, por exemplo, pode ser “meio de subsistência de pescadores ribeirinhos ou instrumento da produção de energia barata para firmas eletrointensivas” (ACSELRAD, 2005). Quando os usos diferentes de um determinado ambiente não podem coexistir, temos um conflito ambiental.

Dentro deste contexto, convida-se a pensar sobre os conflitos ambientais que ocorrem por conta dos diferentes usos do solo e da água na região serrana de Macaé, destacando a representação de natureza e a distribuição de poder entre os diferentes atores sociais envolvidos nos conflitos.

O cenário socioambiental do distrito do Sana, por exemplo, remonta os ciclos econômicos e estão diretamente ligados à água, assim como em toda a região serrana de Macaé. A partir de 1820, a região do Alto Rio Macaé foi colonizada por europeus que migraram para produzir principalmente café. A grande produção cafeeira na região ocorreu entre 1910 e 1929, e nas duas décadas seguintes o cultivo entrou em crise.

A região passou a ser ocupada por pastagens, monocultura de banana e culturas de subsistência como feijão, mandioca e inhame. A partir dos anos 70, chegaram novos moradores e turistas, por conta diminuição do isolamento com a construção da ponte da Amizade que facilitou o acesso à região; a chegada de luz elétrica e também da instalação da indústria petrolífera na cidade de Macaé, que levou ao aumento populacional. Na década de 90 o discurso ambientalista ganhou força e despertou uma movimentação para a criação de uma unidade de conservação. Em 30 de novembro de 2001, a área de proteção ambiental (APA) do Sana foi criada através da Lei Municipal nº 2.172. A área guarda trechos de mata atlântica, nascentes e rios, importantes para a manutenção dos recursos hídricos de Macaé e da região.

Um dos principais usos da água no município de Macaé está relacionado à agricultura. É interessante pensar que a agricultura é umas das principais dimensões onde natureza e cultura se encontram, e, portanto, uma via fundamental para uma compreensão mais profunda sobre o mundo natural e o papel que nossa espécie desempenha nele.

Ao discutir alimentação, cabe destacar que para nós, humanos, esse ato vai muito além do “comer para viver”, a comida faz parte de um sistema simbólico e tem implicâncias sociais, culturais, econômicas e políticas.

A agroecologia surgiu nesse contexto como uma evidente reação aos modelos tradicionais, em sua maioria, hegemônicos e depredadores, trazendo novas perspectivas para a segurança alimentar das comunidades rurais, e uma estratégia para conservar a natureza de uma maneira mais efetiva, por conta da diversidade de cultivos e de um alto grau de recirculação de nutrientes orgânicos.

A Feirinha da Roça do município de Macaé pode ser compreendida como o último elo entre o campo e a cidade. Como um espaço democrático e coletivo de comercialização de alimentos, mas também de educação e conexões entre os diversos atores sociais, é instrumento para a criação de uma “sociedade sustentável”, que preza por uma sustentabilidade multidimensional e complexa, onde o homem se reintegra a natureza.

Refletir sobre águas de Macaé é também tratar da educação ambiental que acontece em espaços não formais, como a feira, e nos formais, como as escolas. Considera-se a escola um espaço vital para a problematização da questão hídrica. Através dela é possível a contribuição para a construção de uma sociedade que entenda a natureza e por consequência a água, como um patrimônio e não como um recurso. O convívio escolar é um momento propício para a educação ambiental atuar no complexo processo de transformações dos valores nocivos da “sociedade do consumo” que contribuem para o uso degradante dos bens comuns da humanidade.

As Mudanças climáticas e como elas podem mudar sua vida – as implicações para a sociedade

Thais Pimenta de Almeida e Emiliano Nicolas Calderon

Os aumentos da complexidade e das inter-relações da sociedade modificam o vínculo entre o homem e a natureza, levando, frequentemente, a um desbalanço entre disponibilidade e demanda de recursos. O incremento demográfico e o modelo de consumo vigente endossam essa equação, inviabilizando a igualdade de  atendimento às necessidades humanas. Nas ultimas décadas tem aumentado mundialmente o adensamento populacional em áreas urbanas, com mais da metade da população vivendo nestas áreas nos dias atuais. No Brasil, com o aumento da urbanização, a concentração populacional segue a mesma tendência. Em uma série histórica, em 1960 a população urbana representava cerca de 45%; em 1991, essa porcentagem subiu para pelo menos 75%. O último levantamento do IBGE, realizado em 2010, mostrou um novo aumento, com aproximadamente 85% dos brasileiros residindo em cidades ou aglomerados urbanos.. Neste sentido, é notória a representatividade destes centros na expansão populacional, territorial e econômica. Alguns processos, como a ocupação de áreas naturais seguida de sua antropização, as demandas progressivas por recursos naturais e a limitação de áreas de preservação sinalizam a intensidade do impacto de cidades tanto nos seus limites físicos, quanto nas áreas circundantes.

O modelo de urbanização vigente está intimamente ligado aos meios de produção e consumo de bens e recursos, sobretudo no que concerne ao gasto energético e à emissão de gases de efeito estufa (GEE). Estima-se que as cidades sejam responsáveis por consumir de 60-80% de energia, além de emitir 70% de todo o dióxido de carbono de origem antropogênica. Este dióxido de carbono (CO2), produzido principalmente pela queima de combustíveis fósseis, é considerado o principal responsável pelo fenômeno das mudanças climáticas globais de origem antropogênica. As emissões de CO2, juntamente com outros gases produzidos na manutenção do estilo de vida da população humana, têm alterado a composição/proporção dos gases da atmosfera terrestre. Esta alteração na atmosfera está aumentando sua capacidade de reter calor, o chamado “efeito estufa”, o que tem conduzido a um aumento da temperatura global, logo,às chamadas “mudanças climáticas”. Estas mudanças climáticas não se caracterizam apenas pelo aumento de temperatura, mas também pela alteração de outros aspectos do clima como a precipitação, evaporação e regime de ventos, que são fortemente influenciados pelo padrão térmico da Terra. As previsões futuras de alterações climáticas indicam que mudanças drásticas podem ocorrer em nosso Planeta nas próximas décadas, como a elevação do nível do mar e o aumento da intensidade e frequência de  tempestades.

A suscetibilidade de áreas urbanas a estas mudanças afeta diferentes grupos sociais, manifestando-se por meio de mudanças econômicas, ecológicas e de infraestrutura, maior probabilidade de migrações, aumento de ondas de calor e sobrecarregamento do sistema de saúde. Neste cenário característico das cidades, em que há uma sobreposição de adensamento populacional, crescente demanda por recursos, carência de infraestrutura e gestão por vezes ineficiente, afloram as vulnerabilidades socioambientais da população, sobretudo no contexto de mudanças climáticas. Nas últimas duas décadas, as observações sobre os impactos destas mudanças têm aumentado o debate sobre a intensificação destes problemas ambientais em centros urbanos.

Uma vez considerado o caráter multifacetado da temática de mudanças climáticas, sabe-se que seus impactos e consequências associadas têm potencial de se estender sob diferentes setores e âmbitos, expressando-se de maneira direta ou indireta e cujas intensidades podem ser incertas. Somado aos efeitos mais amplamente divulgados, acerca das alterações nas temperaturas e nos padrões sazonais; perda de espécies e de biodiversidade, além do aumento do nível do mar, outros impactos devem ser considerados, sobretudo no contexto de expansão urbana. Economicamente, os países poderão ser afetados no sistema agropecuário e pesqueiro, com diminuição de produtividade e maior risco de ataque de pragas. Nestas condições, há riscos de perda da soberania e segurança alimentar, uma vez que tanto qualidade quanto quantidade das matérias primas ficam estritamente sujeitas às condições e serviços ambientais. Secundariamente, estas implicações levam ao aumento do êxodo rural, logo a maiores probabilidades de ocupação irregular e não planejada das áreas urbanas, bem como à saturação e falta de planejamento de serviços básicos, incorrendo em um feedback negativo.

Em muitas regiões, atividades turísticas também serão desvalorizadas, levando a consequências sociais exponenciais, já que algumas economias dependem fundamentalmente desta fonte de renda. Casos de impactos na saúde pública também são de comum interesse. O aumento da temperatura pode mudar a distribuição e ocorrência de vetores e agentes etiológicos de várias doenças – peste bubônica, malária, dengue, cólera – muitas delas de considerável risco infectocontagioso. Em zonas urbanas, o aumento de episódios climáticos severos, tais como enchentes, escorregamentos de terra, elevação do nível do mar, ressacas marítimas e tempestades de vento são as mais prováveis consequências experimentadas por cidades, especialmente metrópoles, ou municípios densamente povoados. Acrescentam-se, ainda, aumentos de ondas e ilhas de calor, que afetarão, majoritariamente, crianças e idosos. O grande número de habitantes, associado à falta de planejamento e ao uso exacerbado dos recursos naturais aumentam os riscos a que a população está exposta.

A vulnerabilidade de cidades às mudanças climáticas depende de fatores diversos, tais quais índice e padrões de urbanização, crescimento econômico, número de habitantes, tipo de ambiente natural, exposição física, bem como planejamento e gestão urbana. Dentro dos centros urbanos, características populacionais como gênero, idade, renda e região em que reside têm implicações para o grau de vulnerabilidade a que certos grupos estão expostos. O crescimento urbano desordenado potencializa os problemas já existes, de modo que os impactos gerados nem sempre são absorvidos pelo sistema, logo, é esperado que suas externalidades afetem de forma desigual a população.

A governança de mudanças climáticas é um desafio para as abordagens tradicionais e unicêntricas. Para enfrentar os impactos destas alterações, as matrizes urbanas devem estar preparadas, por meio de planejamento robusto, políticas multicêntricas e integradoras, bem como gestão participativa. Embora acordos internacionais e de amplo espectro na temática climática estejam em voga, as abordagens em dimensão local têm recebido atenção, sobretudo para cidades, que são uma arena crítica para esta governança. Os estudos nesta área estão centrados em três eixos principais, a natureza “multi-nível” da governança climática; o papel do conhecimento em políticas locais; e a lacuna entre retórica e realidade dentro de políticas de mudanças climáticas. Uma das chaves para a formulação e implementação das políticas neste cenário é a divisão e o reconhecimento das competências e responsabilidades cabíveis a cada esfera. Os atores sociais e tomadores de decisão também tem papel fundamental neste processo, pois fomentam e orientam as diretrizes e o modelo de gestão. Atualmente, as frentes políticas para mudanças climáticas baseiam-se em adotar medidas de caráter adaptativo, de mitigação e de compensação, com desdobramentos idiossincráticos secundários. No Brasil, a assinatura e ratificação de acordos internacionais incitaram a criação da Política Nacional sobre Mudança do Clima (Lei n° 12.187/2009), e de seus anexos correlatos, como planos e projetos de cunho nacional, estadual e municipal. Embora as tendências de política mais documentadas estejam voltadas para questões de mitigação – como a redução de gases estufa e aumento da eficiência energética – outras estratégias e abordagens, sobretudo no tocante à avaliação de vulnerabilidades e às medidas adaptativas, estão sendo legitimadas.. Uma vez que a governança para mudanças climáticas se perfaz complexa e envolve uma miríade de tomadores de decisão, atores públicos e privados, faz-se necessário investimento em conhecimento e capacidade técnica, legal e financeira. Dessa maneira, por meio de diálogos setoriais, políticas robustas poderão ser construídas sob a ótica das necessidades das cidades e de sua população, preparando-os para a gestão, mitigação e adaptação às condições climáticas e seus impactos associados.

Pesquisas ecológicas de longa duração na Bacia de Campos: desvendando ecossistemas costeiros e potencialidades locais

Ratinho-goitacá (Cerradomys goytaca), endêmico de restingas do Norte Fluminense. Foto: Pablo Gonçalves
Ratinho-goitacá (Cerradomys goytaca), endêmico de restingas do Norte Fluminense. Foto: Pablo Gonçalves

 

Beija-flor da espécie Amazilia fimbriata, importante polinizador da restinga. Foto: Rogerio Peccioli
Beija-flor da espécie Amazilia fimbriata, importante polinizador da restinga. Foto: Rogerio Peccioli

 

O leito seco e salino da Lagoa Pires e as gramíneas da porção marginal, que resistem à estiagem. Foto: Mônica Pacheco
O leito seco e salino da Lagoa Pires e as gramíneas da porção marginal, que resistem à estiagem. Foto: Mônica Pacheco
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Monitoramento da profundidade de poças temporárias associadas às lagoas costeiras. Foto: Ana Petry