Filhas de Gaia¹

Maíra Santafé

Existe uma vertente do feminismo chamada ecofeminismo, que procura unir as lutas feministas à luta pelo meio ambiente. O termo surgiu no livro “Le feminisme ou la Mort (1974)”, da escritora francesa Françoise d’Eaubonne, que o definiu como “a capacidade das mulheres, como impulsoras de uma revolução ecológica, de ocasionar e desenvolver uma nova estrutura relacional de gênero entre os sexos, bem como entre a humanidade e o meio ambiente”.

Vandana Shiva, física, filósofa e feminista, também é uma das pioneiras do movimento ecofeminista que tem mais força na Europa, principalmente na França e na Espanha. Outras lideranças do ecofeminismo pelo mundo são as escritoras americanas Charlene Spretnak, Carol J. Adams e Karen Warren. No Brasil, temos a escritora Daniela Rosendo e a professora Sônia T. Felipe, além do Coletivo de Mulheres do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), com um forte movimento ecofeminista.

Algumas pessoas entendem a conexão das mulheres com a natureza como algo místico, como no culto à Deusa, também conhecida como Mãe Terra ou Grande Mãe, observado inicialmente na Pré-história (Paleolítico e Neolítico). Podemos destacar três aspectos do ecofeminismo:

1. O psicológico, que engloba a veneração dos antigos pela Deusa;
2. O geofísico, ligado à veneração à natureza; e
3. O econômico, que reza sobre a participação da mulher numa sociedade matriarcal, quando as mulheres eram responsáveis pelo plantio e colheita dos alimentos, além de fornecer água para sua família.

As ecologistas-feministas Janet Biehl e Rosemary Radford Ruether criticam o ecofeminismo, alegando que o movimento ao se concentrar demasiadamente no aspecto místico, esquece-se de focar nas reais condições das mulheres em nossa sociedade falocêntrica. Embora critique, Rosemary considera ser possível combinar de forma equilibrada todos os aspectos.

Interessante a correlação mística entre a mulher e a terra ressurgir. Interessante, também, percebermos que após a ascensão de religiões patriarcais, essa conexão tenha permanecido à margem por séculos. Difícil não perceber a influência do patriarcado no enfraquecimento do culto à Deusa e na demonização e submissão da mulher. Chamamos atenção, ainda, para o sistema capitalista, que se relaciona com a natureza e com as mulheres de forma bem parecida: ambas são tratadas como objetos de consumo, de exploração, dominação e poder. O ecofeminismo busca uma relação igualitária, sem dominantes ou dominados, tanto nas relações humanas, como no meio ambiente.

Por fim, as ecofeministas nos lembram de que fazemos parte do todo. Que tudo está conectado. Não adianta lutar contra a opressão de gênero, se não nos conectarmos ao cerne da vida. É preciso e possível uma relação mais harmônica com a natureza, afinal não existimos separadamente: coexistimos com o meio ambiente.

¹Mãe Terra