Meio ambiente golpeado

Por Maíra Santafé

Logo no primeiro dia como interino, em 12 de maio de 2016, Michel Temer assinou a Medida Provisória 727/2016, retomando o processo neoliberal de desestatização da economia, entregando para a iniciativa privada as empresas estatais, com o Programa de Parcerias de Investimento. Já de início, a MP coloca que “Art. 1º Fica criado, no âmbito da Presidência da República, o Programa de Parcerias de Investimentos – PPI destinado à ampliação e fortalecimento da interação entre o Estado e a iniciativa privada por meio da celebração de contratos de parceria para a execução de empreendimentos públicos de infraestrutura e de outras medidas de desestatização.” Esta medida facilita a entrega de nossas riquezas naturais – um dos principais motivos do golpe.

O Brasil é rico em água, petróleo, nióbio, além da flora diversificada, onde várias plantas servem de matéria prima para remédios e cosméticos. A Amazônia, por exemplo, é a área com maior potencial ecológico do planeta. Concentra metade da biodiversidade mundial, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), criado por Getúlio Vargas, em 1952, em resposta à ideia da Unesco de criar um instituto internacional para explorar nossa Amazônia.

Há décadas pesquisadores estrangeiros têm interesse em tirar proveito de nossos recursos naturais. Desde o petróleo à riquíssima flora, passando pela água e outras tantas riquezas do Brasil. Ora, os Estados Unidos apoiaram o golpe de 64 e, ao que tudo indica, estão por trás também do golpe de 2016. O Wikileaks, em maio do ano passado, disse que Michel Temer atuou como informante dos EUA e, em 2011, William Waack, jornalista da Globo – também apoiadora do golpe, é citado três vezes como informante dos ianques – um dos maiores interessados em nosso patrimônio ambiental. Seria coincidência?

Ainda em 2016, Temer nomeou o senador Blairo Maggi (PP-MT), conhecido como o “Rei da Soja”, para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Maggi foi relator da PEC 65/2012 que, em resumo, acaba com a legislação ambiental aplicada atualmente em processos de licenciamento de obras públicas.

Em 23 de maio de 2017 foram aprovadas, no Senado Federal, duas Medidas Provisórias que entregam nas mãos de ruralistas, segundo a Folha de São Paulo, 597 mil hectares de terras protegidas na Amazônia, abrindo caminho para a legalização de grileiros e posseiros. Se sancionada por Temer, afetará diretamente a possibilidade de demarcação das terras indígenas, favorecendo o agronegócio e, consequentemente, aumentando o desmatamento.

A pressa de tirar uma presidenta legítima do poder foi inversamente proporcional à pressa por punir os responsáveis pelo desastre de Mariana, deixando milhares de pessoas sem água, sem moradia, desempregadas, além de ter destruído ecossistemas e matado a vida no Rio Doce.

O golpe, pelo visto, não é só contra os trabalhadores e seus direitos, mas também contra o meio ambiente. Enquanto a democracia não for reestabelecida, a tendência, infelizmente, é piorar.