Mulheres ainda enfrentam desigualdade

Mulheres nepalesas. Foto: Banco Mundial/Stephan Bachenheimer

Meninas e mulheres devem ser encorajadas a seguir a carreira que quiserem, afirmou a diretora-executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka. A chefe da agência das Nações Unidas alertou que elas ainda enfrentam desigualdades no acesso a empregos dignos e à educação de qualidade, sobretudo porque gastam mais tempo que os homens em tarefas domésticas.

“Queremos construir para as mulheres um mundo do trabalho diferente. Conforme as meninas cresçam, elas devem ser expostas a um vasto leque de carreiras e encorajadas a fazer escolhas que as levem além dos serviços tradicionais e de cuidado, para profissões na indústria, na arte, no serviço público, na agricultura modera e na ciência”, disse Phumzile.

Mulheres passam até 2,5 vezes mais tempo do que os homens cuidando da casa e de parentes, sem receber nada por isso.

“Em muitos casos, essa divisão desigual do trabalho vem às custas do aprendizado dessas mulheres e meninas, de atividades remuneradas, do envolvimento nos esportes ou na liderança de comunidades”, acrescentou a dirigente da agência da ONU.

Para Phumzile, é necessário mudar a forma como crianças são educadas na família, na escola e pelos meios de comunicação. O objetivo deve ser quebrar estereótipos e impedir que os jovens aprendam “que as meninas têm de ser menos, ter menos e sonhar menos que os meninos”.

A chefe da ONU Mulheres lembrou que, no mercado de trabalho, homens ganham em média 23% mais que as mulheres por trabalhos de igual valor. Em certos segmentos populacionais, como negros vivendo nos Estados Unidos, o índice sobre para 40%.

Cobrando mais oportunidades de emprego decente e educação, Phumzile alertou ainda que as disparidades de gênero estão se perpetuando em novos setores. “Atualmente, apenas 18% dos diplomas de graduação em ciências da computação foram concedidos para estudantes mulheres”, afirmou. Apenas 25% da mão de obra das indústrias de tecnologia é feminina.

A dirigente pediu ainda políticas públicas e empresariais para adequar a rotina de trabalho às necessidades de mulheres. Uma recomendação é a instituição da licença trabalhista tanto para mães quanto para pais de recém-nascidos.

Phumzile acrescentou que governos devem estar atentos às vulnerabilidades de mulheres que trabalham no setor informal. “Isso exige implementar políticas macroeconômicas que contribuam para o crescimento inclusivo e acelerem significativamente o progresso para as 770 milhões de pessoas vivendo na pobreza extrema”.

Em 2017, o tema escolhido pela ONU para lembrar o Dia Internacional é “Mulheres no Mundo do Trabalho em Evolução: Um Planeta 50-50 até 2030”. A data será marcada com eventos na sede da ONU em Nova Iorque, onde especialistas, dirigentes da ONU, representantes dos Estados-membros e celebridades se reunirão para celebrar o empoderamento feminino.

Saúde sexual e reprodutiva

Também por ocasião da data, o diretor-executivo do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Babatunde Osotimehin, fez um apelo à comunidade internacional para que garanta o acesso de todas as mulheres a serviços de saúde sexual e reprodutiva.

Entre as consequências da persistente desigualdade entre homens e mulheres, estão graves violações dos direitos humanos, alertou o dirigente.

“Tomemos como exemplo o fato de que, todos os anos, dezenas de milhares de meninas são forçadas a se casar — um terço delas, aproximadamente — antes de completarem 15 anos. Ou que uma em cada três mulheres sofrem violência de gênero. Cerca de 200 milhões de mulheres já passaram pela mutilação genital feminina”, alertou o chefe da agência.

Osotimehin lembrou que “há 225 milhões que, mesmo querendo, não conseguem planejar suas vidas reprodutivas”. “Por isso, estão impossibilitadas de decidir se querem ter filhos ou não e quando tê-los”, afirmou.

Para o chefe do UNFPA, “assegurar o acesso universal ao planejamento reprodutivo voluntário significa colocar as mulheres e meninas mais pobres, marginalizadas e excluídas em primeiro plano”. “Mulheres e meninas que podem fazer escolhas e controlar suas vidas reprodutivas são mais propensas a conseguir melhor educação, trabalhos decentes e tomar decisões com liberdade e informação em todos os âmbitos de suas vidas”, frisou.

Mercado de trabalho

A chefe do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Helen Clark, ressaltou que as mulheres têm 50% menos chances que os homens de ter empregos remunerados em tempo integral.

“As mulheres estão super-representadas no trabalho vulnerável e informal, muitas vezes sem proteção social, e são sub-representadas na gestão do setor corporativo, detendo apenas 22% das posições seniores de liderança nas empresas”, afirmou a dirigente em mensagem para o dia.

Clark destacou ainda que, das 173 economias incluídas no relatório de 2016 do Banco Mundial sobre “Mulheres, Negócios e Direito”, ao menos 155 possuem no mínimo uma lei que discrimina mulheres.

“Ainda existem países onde as mulheres não têm o direito de se divorciar, herdar propriedades, possuir ou alugar terras, ou ter acesso a crédito”, criticou. “Chegou a hora de eliminar as barreiras à igualdade de gênero no mundo do trabalho e em todas as outras esferas.”